domingo, 15 de setembro de 2013


A FALECIDA   -   CONFESSO QUE GOSTEI
 
Cartaz da peça (divulgação)
 
            Antes de começar a escrever sobre o espetáculo A FALECIDA, em cartaz no Teatro Maison de France, ao qual assisti na última 6ª feira, providenciei uma resistente armadura e um escudo bem grande, para me proteger das possíveis pedradas que virão em minha direção. 

Por quê?  Porque nunca fui de incensar alguém pelo fato de a maioria das pessoas assim o fazer.  Sendo assim, sempre tive a coragem de dizer que não gosto de Nélson Rodrigues, muito menos acho que tenha sido o gênio da dramaturgia que nele reconhecem a crítica e a classe artística. 

Mais que isso, sempre lhe atribuí, em situações particulares, adjetivos que não vou aqui expor, até em respeito à sua memória. 

Mas o fato é que sempre tentei reconhecer nele o talento que todos conseguem enxergar, mas todas as tentativas foram infrutíferas. 

Durante o meu curso de Letras, fiz duas disciplinas eletivas, de Literatura Brasileira, versando sobre a obra do Anjo Pornográfico, título de sua biografia, escrita por Ruy Castro. 

Comprei as “Obras Completas de Nélson Rodrigues” e li a grande maioria de suas peças.  Odiei quase todas e raríssimas me proporcionaram algum prazer na leitura. 

E mais: sempre procurei assistir a todas as montagens de textos seus, na esperança de que a “materialização da palavra” pudesse mudar meu conceito sobre o autor.  Tudo em vão.  Todas as vezes em que saía de um espetáculo sobre um texto rodriguiano, jamais deixei de elogiar os trabalhos de direção (João Fonseca e Moacyr Góes, por exemplo), dos atores, além de cenários, figurinos, iluminação...  Mas o texto...  Quanta insanidade (Ainda é o meu pensamento.  Posso ter a minha opinião?).
 
Leon Góes e Bianca Rinaldi
 
Ocorre que, como de hábito, procuro ver quase todas as encenações das peças de Nélson Rodrigues (juro, sempre com a maior boa vontade), fui, então, assistir, como já disse, na última 6ª feira, dia de abertura do, com licença da má palavra, “Rock in Rio 2013”, sinônimo de “a cidade vai parar” (levei 180 minutos cravados – TRÊS HORAS – para ir do Recreio dos Bandeirantes ao Centro da cidade), à versão de Moacyr Góes para A FALECIDA, que eu, por acaso, não conhecia, a não ser do filme (roteiro muito adaptado) de León Hirszman e Eduardo Coutinho, rodado em 1965, o primeiro filme feito por Fernanda Montenegro, salvo melhor juízo, ao lado do fantástico e saudoso Paulo Gracindo. 

Sim, eu também assisto aos filmes com roteiros baseados na obra de Nélson.  Mas vi esse no tempo em que eu ostentava uma vasta e invejável cabeleira, de sorte que, até ver a peça, não me lembrava muito, ou quase nada, da trama.

Eu tinha tudo para detestar a peça, principalmente depois do já referido engarrafamento de três horas, mas, para a minha surpresa, agradabilíssima surpresa, gostei, e muito, do espetáculo, inclusive do texto.

Mas deixemos de lado esse detalhe, o texto, que sempre considero o pilar mais importante para sustentar um bom espetáculo, e falemos dos demais componentes da peça:

A direção, de Moacyr Góes, com assistência de Juliana Lago, é bastante inteligente, utilizando-se, o diretor, de recursos muito simples e criativos, para ajudar a contar a história, com bastante dinamismo e dando à encenação o tom exato para que fosse construído o universo rodriguiano, caracterizado, principalmente, por uma linguagem (gírias e ditos populares) riquíssima (isso eu sempre reconheci).

O elenco (Portal Bianca Rinaldi)

O elenco traz nomes poucos conhecidos para os cariocas, entretanto são atores de excelente nível técnico e compõem, de forma brilhante, os vários personagens que representam, com destaque para Bianca Rinaldi (excelente), no papel da protagonista (Zulmira) e de seu marido, Tuninho, interpretado, também de forma admirável, por Leon Góes.  Os demais atores são Augusto Garcia, Ricardo Damasceno, Sérgio Kauffmann, Daniel Carneiro e Simone Centurione, esta com inserções de canto irretocáveis.

O cenário, um enorme painel com muitas portas de demolição e objetos de cena, como mesas, cadeiras, espelhos, bancos etc. - muito bom -, os figurinos e adereços são da responsabilidade de Teca Finchinski.  Tudo perfeito.

O mago da luz, Paulo César Medeiros, assina o desenho de luz, sofisticado termo que inventaram para "iluminação".  Ótimo!

 
SINOPSE:

A peça conta a história de uma mulher frustrada, do subúrbio carioca, a tuberculosa Zulmira (Bianca Rinaldi), que não tem mais expectativas na vida.  Pobre e doente, sua única ambição é um enterro luxuoso.  Quer se vingar da sociedade abastada e, principalmente, de Glorinha, sua prima e vizinha, que não a cumprimenta mais.  O marido, Tuninho (Leon Góes), está desempregado e torra as sobras de sua indenização na sinuca e nos estádios de futebol.  No leito de morte, Zulmira manda o marido procurar o poderoso milionário Pimentel (Ricardo Damasceno), para que este lhe pague um enterro suntuoso, como nunca visto antes.  Assim, Tuninho descobre, já viúvo, que a esposa foi amante do milionário.  Numa virada do jogo, o marido enganado toma todo o dinheiro de Pimentel e dá a Zulmira um enterro “de cachorro”, gastando a fortuna recém-adquirida num jogo do Vasco da Gama, seu time do coração.

 
Cena da peça


FICHA TÉCNICA

Texto: Nelson Rodrigues
Direção: Moacyr Góes
Assistente de Direção: Juliana Lago
Elenco / Personagens:
Bianca Rinaldi / Zulmira
Leon Góes / Tuninho
Augusto Garcia / Timbira
Ricardo Damasceno / Oromar, Pimentel
Sérgio Kauffmann / Parceiro 2, Funcionário 1
Daniel Carneiro / Parceiro 1, Funcionário 2, Pai
Simone Centurione / Madame Crisálida, Mãe
Trilha Sonora Original: Ary Sperling
Cenário, Figurino e Adereços: Teca Fichinski
Desenho de Luz: Paulo Cesar Medeiros
Design Gráfico: Mauricio Chahad
Cenotécnico: Adilio Athos
Costureira: Adélia Andrade
Operador de Luz e Som: Rodrigo Bezerra de Melo
Produção Executiva: Juliana Lago e Tatiana Duarte
Marketing Cultural: Jefferson Almeida - Tamires Nascimento
Criação e Produção: Bianca Rinaldi Produções
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany


SERVIÇO:

LOCAL: Teatro Maison de France PSA Peugeot Citroen - Av. Presidente Antonio Carlos, 58 - Centro / RJ  Tel: 21 2544.2533
HORÁRIOS: 5ª, 6ª e domingo, às 20h / Sábado, às 21h
DURAÇÃO: 80 min.
INGRESSOS: 5ª e 6ª, R$60,00 / sábado e domingo, R$70,00
BILHETERIA: 3ª a domingo, a partir das 14h ou Ingresso.com / 4003-2330
CAPACIDADE: 353 espectadores                                  
CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 anos
TEMPORADA: até 13 de outubro 

 
Será que, algum dia, conseguirei vestir a camiseta do fã-clube de Nélson Rodrigues?  Mais fácil a palavra “corrupção” desaparecer dos nossos dicionários, e na prática também, ou principalmente, mas que desse A FALECIDA eu gostei, lá isso é verdade.  E muito.

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