domingo, 20 de outubro de 2013


FÁBRICA DE CHOCOLATE   -   VERDADE DORIDA, SENTIDA, PARA SER ESQUECIDA.
 
Cartaz da peça

            Um esclarecimento, logo para iniciar: o subtítulo destes escritos sugere que alguma coisa deva ser “esquecida”.  Não é o ótimo espetáculo a que assisti na Sala Rogério Cardoso, da Casa de Cultura Laura Alvim; é a tortura covarde dos milicos sobre suas presas e os assassinatos bárbaros, nos porões da ditadura, durante o negro período referente ao golpe militar que se abateu sobre o Brasil, a partir do fatídico 1º de abril de 1964 (NÃO FOI A 31 DE MARÇO, como dizem os milicos – e os militares também).

            Assim como NEM MESMO TODO O OCEANO, que estará encerrando, amanhã, sua segunda temporada de sucesso no Rio de Janeiro (mas vai voltar ao cartaz), FÁBRICA DE CHOCOLATE é um espetáculo, muito atual, por sinal, em função das manifestações populares de repúdio a tudo o que é errado, podre, corrupto, autoritário no Brasil de hoje, e foi escrito por MÁRIO PRATA e mostra os bastidores das armações da ditadura, que, cada vez mais, estão vindo à tona, mostrando o que, de verdade, aconteceu nos anos 60 e 70 da nossa história, graças à atuação de verdadeiros brasileiros, representantes de entidades como TORTURA NUNCA MAIS e COMISSÃO DA VERDADE.

 
(Da esquerda para a direita:  Victor Garcia, Daniel Villas, Adriana Torres, André Cursino e Henrique Manoel Pinho - o elenco)
 
SINOPSE: “Tudo se passa em clima normal de cotidiano, o que aumenta a carga de crueldade.  Houve, numa sessão de tortura, um “acidente de trabalho”, que é preciso corrigir a todo custo, para não comprometer a imagem do sistema.  O menos inverossímil é transformar a morte em suicídio, depois de uni-lo a um novo assassínio, para que o quadro adquira outras características de veracidade.

Os episódios se sucedem com lógica implacável.  A eficiência se desdobra nas mais variadas medidas, desde a utilização de tipos diferentes de máquinas para o comunicado à imprensa e a redação do laudo médico, até a lembrança de um pormenor anatômico dos suicidas.  As providências se encadeiam, com o objetivo de não deixar aberta nenhuma dúvida suspeita.  Excetuado o erro de se fabricar um "material irrecuperável", tudo o mais se torna perfeito.

PRATA revela uma lucidez surpreendente, em todas as implicações de sua trama.  Do psicológico ao social e ao político, "FÁBRICA DE CHOCOLATE" não deixa desguarnecida nenhuma frente.  Ele evitou pintar monstros patológicos, às voltas com taras incontroláveis.  Se foi lamentável o acidente, inclusive porque impediu o responsável de assistir à partida decisiva de futebol, a máquina repressora é acionada para restabelecer a “ordem”.  Os funcionários exemplares dominam a ciência de oferecer uma versão oficial indiscutível, assegurando até a cumplicidade do industrial, de quem, aliás, se definem como os delegados práticos nas tarefas menos nobres.  Denuncia-se a completa solidariedade dos vários segmentos da população opressora, quando o poder se sustenta pela força e pelo arbítrio.” (www.skoob.com.br)

 Adriana e Henrique (cena tensa)


FICHA TÉCNICA:

Texto: MÁRIO PRATA – Ótimo.

Direção: LUIZAPA FURLANETTO – Correta.

Elenco (por ordem alfabética): ADRIANA TORRES, ANDRÉ CURSINO, DANIEL VILLAS, GUILHERMO REGENOLD, HENRIQUE MANOEL PINHO e VITOR GARCIA. – Todos estão muito bem em seus papéis, com destaque para a composição perfeita de uma lusitana, de ADRIANA TORES, além dos personagens de HENRIQUE MANOEL PINHO (Herrera), ANDRÉ CURSINO (Doutor), DANIEL VILLAS (Baseado) e VICTOR GARCIA (Rosemary).  Não frequentam as mídias, mas são excelentes atores e o demonstram em cena.

Direção de Arte e Cenografia: JOSÉ DIAS – Cenário simples, como simples é toda a montagem, porém muito bom e adaptado ao acanhado espaço cênico da Sala Rogério Cardoso, totalmente oposto ao talento daquele que dá nome à Sala.  Uma sala de uma “delegacia” a serviço da ditadura (não fica claro se foi no Cenimar, na Ilha das Flores; no DOI-CODI, no Quartel do 1º Batalhão da Polícia do Exército, no bairro da Tijuca, na Rua Barão de Mesquita nº 425; na Casa da Morte, em Petrópolis...).  O destaque é para as prateleiras e um aramado ao fundo, onde estão expostos, “arrumadinhos”, objetos utilizados na tortura, desde os mais simples aos mais insólitos.

Assistente de Cenografia: ALINE BOECHAT

 Figurino: JOÃO DE FREITAS HENRIQUES – satisfatório, dentro das características da época.

 Trilha Sonora: MÁRIO PORTELLA – Boa.

 Idealização e realização: HERMES FREDERICO – Muito oportuna e merece aplausos.

Os poderes civil e militar tramam para o restabelecimento da "ordem"
 
            Eu conhecia o texto apenas de leitura, o que já me causava bastante sofrimento e desconforto.  MÁRIO PRATA domina a carpintaria dos diálogos, muito mais do que a arte de criar uma história, observação feita com relação às suas várias novelas, de grande sucesso, já exibidas na TV.  Mas, para o TEATRO, MÁRIO capricha mais.  Seus textos teatrais são excelentes e este é uma prova disso.

Até o dia 3 de novembro, de 5ª a sábado, às 21h, e domingo, às 20h.

Recomendo muito este espetáculo, mas sugiro que o espectador não jante, nem antes nem depois.  O resultado poderá ser desastroso.

Um comentário:

  1. Infelizmente não assisti. Seus comentários me deixaram ainda com mais sentimento de perda...

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