segunda-feira, 21 de outubro de 2013


“PACTO - RELAÇÕES PODEM SER FATAIS”   -  ou  “SÃO DEMAIS OS PERIGOS DESTA VIDA” (Vinícius de Moraes).
 
 Programa da peça

Em cartaz, no Teatro SESI (do Centro – avenida Graça Aranha), de 5ª a sábado, às 19h, a mais recente montagem do diretor IVAN SUGAHARA: “PACTO – RELAÇÕES PODEM SER FATAIS”.  E como!!!

Segundo o programa da peça, “uma história noir”.  E bota “noir” nisso!!!

A peça, baseada num fato real, ocorrido em Chicago, em 1924, foi escrita pelo norte-americano STEPHEN DOLGINOFF e encenada em várias partes do mundo, mas, pela primeira vez, está sendo montada na América Latina.  O próprio autor, também ator, já viveu o papel do psicopata Richard, um dos personagens. 

STEPHEN é um premiado dramaturgo, como atestam os vários prêmios e indicações que recebeu, por esta peça e por outras de sua autoria.  Foram prêmios pelo texto, pelas canções ou pelas letras.
 
Stephen Dolginoff

SINOPSE (adaptação do texto original, de IVAN SUGAHARA, no programa da peça):

Trata-se da história de dois “amigos”, Nathan Leopold e Richard Loeb.  Nathan era capaz de tudo para ficar com Richard.  Essa simples frase define a conflituosa relação dos dois e o quão perigoso pode ser um relacionamento. 

Os dois eram jovens estudantes de Direito, em Chicago, nos anos 20, quando assassinaram um menino, sem um motivo aparente, apenas pelo prazer do crime.  O caso ficou notório e os jovens foram intitulados, pelos jornais da época, como “the thrill killers” (algo como “os assassinos por emoção”). 

Na verdade, o brutal crime não é o que mais interessa na trama.  É, sim, o pano de fundo da peça, servindo para discutir o poder de sedução de um ser sobre outro e até que ponto alguém se submete a tudo por um amor, não correspondido, numa relação doentia e de características de extremo masoquismo, marcada por uma obsessão potencializada ao máximo.

Na trama, Nathan é apaixonado por Richard, que, por sua vez, é apaixonado pelo crime. 

Como forma de garantir a satisfação de ambos, eles fazem um PACTO.  Nathan ajuda Richard na realização de pequenos delitos, em troca de migalhas de sexo e de afeto.  Mas a compulsão deste por crimes cada vez mais excitantes os leva ao assassinato.  É este o preço, além de uma vida na cadeia, que aquele paga para estar com seu louco amor.  Um caso extremo, sem dúvida.  Mas, em qualquer relacionamento, reside a possibilidade de o afeto se transformar em obsessão, no ponto em que a vontade de estar com alguém é confundida com a sensação de que se precisa dessa pessoa para se viver.  Daí o subtítulo “RELAÇÕES PODEM SER FATAIS”, acrescido à montagem carioca.

Por incrível que possa parecer, a peça é um musical.  Não um musical na concepção tradicional deste, com muitos atores, inúmeros cenários, muita luz, brilho, “glamour”...  Nada disso.  É um musical diferente, intimista, com apenas dois atores e um piano, e, ao mesmo tempo, lúgubre e afetivo.  Por isso o gênero “noir” é a sua mais perfeita tradução estética.  “Porque é no escuro que a gente se revela.” (IVAN SUGAHARA).

A idealização do projeto é de GABRIEL SALABERT, que também atua no espetáculo, na pele do pobre Nathan Leopold e que merece ser aplaudido por sua iniciativa.

Gabriel Salabert 

FICHA TÉCNICA – parcial - (acompanhada de alguns comentários críticos):
 
Texto, Música e Letras Originais: STEPHEN DOLGINOFF – Excelentes (destaque para a tradução do texto, feita por GABRIEL SALABERT)

Direção: IVAN SUGAHARA – Ótima, na medida certa.  O texto, por vezes, apresenta cenas e situações que, na mão de um diretor menos experiente, poderiam render momentos de tédio e falta de credibilidade.  SUGAHARA, com seu apurado gosto estético e conhecimento de causa, leva os dois atores a atingir a medida certa de dramaticidade, deixando tais cenas e situações dentro da maior naturalidade possível.

Assistente de Direção: CRISTINA LAGO – afinada com a direção.

Elenco: GABRIEL SALABERT e ANDRÉ LODDI – O primeiro é o apaixonado Nathan Leopold; ANDRÉ vive o frio e brutal Richard Loeb.  A despeito de todo o esforço de GABRIEL, para chegar a um Nathan que não compromete (o ator pareceu-me muito nervoso no dia em que assisti ao espetáculo, ou seja, na estreia, o que é bastante compreensível), sem dúvida alguma, o grande destaque da peça fica por conta de ANDRÉ LODDI.  É muito prazeroso ver o ANDRÉ num palco.  Já o foi em "O DESPERTAR DA PRIMAVERA", "BEATLES NUM CÉU DE DIAMANTES" e em "COMO VENCER NA VIDA SEM FAZER FORÇA".  Trata-se de um jovem recém-entrado na casa dos vinte anos e que tem muito futuro pela frente, em função de seu grande talento para a representação, para o canto e para a dança.  ANDRÉ é aquele tipo de ator que não precisa de texto para aparecer.  O seu silêncio e suas diversas máscaras naturais bastam para sua comunicação com a plateia, principalmente nesta peça.  Que grande “sedutor”!  Sua evolução como artista é facilmente percebida por quem sabe avaliar o rendimento de um ator no palco.

Gabriel Salabert e André Loddi

Pianistas: PRISCILLA AZEVEDO e ANTÔNIO ZIVIANI, alternando-se (este atuou no dia em que assisti ao espetáculo) – Excelente.

Versão Musical Brasileira: MARYA BRAVO – Ótima, não fosse MARYA uma das maiores e mais requisitadas cantrizes dos musicais brasileiros, ela que também já atuou em musicais fora do país e que traz, no sangue, o DNA da música.

Direção Musical e Preparação Vocal: RICARDO GÓES – Muito boa.

Iluminação: PAULO CÉSAR MEDEIROS – Mais um irretocável trabalho deste mestre.  A iluminação perfeita para uma peça “noir”.

Figurino: TARSILA TAKAHASHI – Bom, bem comedido e satisfatório à composição dos personagens.

Cenário: CAROLINA SUGAHARA e IVAN SUGAHARA – Ótimo.  Simples, despojado, caracterizando muito bem os espaços em que se passam as cenas, tudo girando em torno do preto e do cinza.  Afinal de contas, trata-se de uma peça “noir”.

 
André e Gabriel
 
Voltarei a assistir ao espetáculo, não só porque gostei muito da peça, mas também porque sei que ainda há muito a extrair dela e do trabalho dos dois atores, principalmente do GABRIEL SALABERT. 

Acho que também assinei um PACTO com esse espetáculo.  Não com sangue, mas com o coração.
Minha passagem por PACTO
 
 
A conversa primeiro...
 
 ...o abraço depois.
 
 
 
(Fotos de divulgação e de Marisa Sá)

 
 
 
 

 

2 comentários:

  1. A trama me pareceu familiar a de um filme do Hitchcock, Festim Diabólico, que é adaptado de uma peça do Patrick Hamilton...

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  2. PACTO é absolutamente arrebatador, mexe com todos os sentidos !

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