domingo, 5 de janeiro de 2014


“COMO VENCER NA VIDA SEM FAZER FORÇA”

ou
 
COMO AGRADAR A UMA PLATEIA SEM FAZER FORÇA, AO MESMO TEMPO, RESULTADO DE MUITA FORÇA.
 



Finalmente, nasceu a criança!!!

Nunca demorei tanto tempo para me manifestar acerca de um trabalho da dupla CHARLES MÖLLER e CLÁUDIO BOTELHO, e nem eu mesmo entendo por que isso aconteceu, mas tenho lá as minhas desconfianças. 

O impacto que o espetáculo me causou foi tão grande, que eu até tive MEDO (isso mesmo) de me sentar logo ao computador e permitir que os meus dedos fizessem um passeio pelas teclas, sem correr o riso de falar bobagens (mais do que as que estou falando agora) e/ou omitir detalhes importantes dessa memorável montagem.  Também, é claro, o fator emoção poderia idealizar qualquer comentário.  Foi por isso, creio, que preferi deixar a poeira voltar ao chão.
 
GREGÓRIO DUVIVIER e LUIZ FERNANDO GUIMARÃES.

Tive a honra, o privilégio e o prazer de receber um convite para uma sessão de COMO VENCER NA VIDA SEM FAZER FORÇA, destinada a amigos e convidados, realizada no dia 11 de março (2013), três dias após a estreia, no Teatro OI CASA GRANDE, onde a mais nova produção de CHARLES MÖLLER e CLÁUDIO BOTELHO está em cartaz, já com lotações esgotadas, na primeira semana, e onde ficará em exibição até o final de junho, se não tiver a temporada prorrogada (assim espero).

Estas considerações iniciais já bastam para que a minha modesta opinião sobre o espetáculo se torne pública.  Paradoxalmente ao que disse, no início deste texto, acho que nunca foi tão fácil atrever-se a uma “crítica” sobre uma peça de teatro como o foi, ou está sendo, agora, com relação a esta nova encenação do texto de Abe Burrows, Jack Weinstock e Willie Gilbert, com músicas de Frank Loesser, vertidas para a nossa língua pelo craque do “métier”, CLÁUDIO BOTELHO, escrito há mais de meio século e que permanece tão atual neste início de novo milênio.
 
Parte do elenco da peça.

A história é, aparentemente, simples e ingênua, diverte bastante o público, mas também o leva a refletir sobre diversas mazelas sociais e políticas, universais, muito bem acomodadas nas gavetas de um subtexto, ou seja, nas entrelinhas.  Se todo humor é crítico, por excelência, não poderia ser diferente nesta magnífica comédia.   

Nada de novo e tudo muito novo, muito bem explorado, na figura de alguns emblemáticos personagens, vividos por atores e atrizes de um nível incomparável, à altura dos que pisam palcos de outras praças consagradas por seus grandiosos espetáculos musicais, a saber:
 
Os protagonistas.

GREGÓRIO DUVIVIER – Tenho de começar por ele.  Interpreta, magistralmente, um obstinado jovem, J. Pierrepont Finch, que acredita, piamente, em livros de autoajuda e leva suas recomendações ao extremo, papel que lhe caiu como uma luva.  GREGÓRIO já está consagrado como um grande ator e humorista (não perco um trabalho dele e sou seu fã número não sei qual; não importa, mas me considero o maior).  Gostaria de compará-lo aos grandes atores do teatro e do cinema internacionais, mas não o consigo, simplesmente, porque GREG é incomparável.  Ele é apenas GREGÓRIO DUVIVIER, que, por ser, ainda, muito jovem, graças a Deus, tem uma carreira brilhante à sua frente, a qual (pretendo viver muito ainda) tenho certeza de que vou continuar aplaudindo, inclusive em outros musicais, uma vez que este espaço, que lhe faltava, esse queridíssimo ator e amigo já conquistou. 
 
Cumplicidade trabalhada.

LUIZ FERNANDO GUIMARÃES – Atualmente, meio bissexto nos palcos, tendo-se dedicado mais a entreter seu público na TV, interpreta, de forma brilhante, um inconsequente dono de uma grande empresa, o senhor J. B. Biggley, que, possivelmente, a tenha herdado (não me lembro se isso fica claro no texto), que não sabe dirigir nem a própria vida; aliás, não sabe nem o que está fazendo à frente daquela empresa e que se submete aos caprichos de uma amante burra, porém "gostosa", e às determinações de uma esposa, que não aparece em cena, dominadora, autoritária e, provavelmente, não tão "gostosa" quanto a secretária.  Junto com GREGÓRIO, LUIZ FERNANDO arranca muitas gargalhadas da plateia, principalmente quando acrescenta alguns “cacos” ao texto.  Ele domina o “timing” da comédia (é um grande conhecedor do assunto) e, às vezes, nem de texto precisa para provocar risos.  Ele e GREGÓRIO são tão bons, que conseguem até encantar cantando, experiência nova para os dois, na qual estão sendo bem-sucedidos.
  
Aqui e na Broadway.

ANDRÉ LODDI - Seu personagem é um incompetente e digno representante do nepotismo, tão velho conhecido de todos os brasileiros, cuja pele reveste um talentosíssimo representante da nova geração de atores/cantores brasileiros.  ANDRÉ, nosso velho conhecido de tantos outros musicais, sempre perfeito no que faz, vive o personagem Bud Frump, além de tudo invejoso, bajulador e falso, sobrinho da mulher do “big boss”, empregado na empresa de Biggley por exigência da esposa deste.
 
LUIZ e GREGÓRIO.  Ao centro, LETÍCIA COLIN

ADRIANA GARAMBONE – Em sua melhor interpretação, depois de GYPSY, faz a amante do chefe, incorporada aos funcionários da empresa, a despeito de sua ignorância crônica e, digamos, de seus “modos politicamente incorretos de viver numa sociedade dita normal”.  Trata-se da escultural Hedy La Rue.  ADRIANA a interpreta numa composição de personagem de fazer inveja, por alguns detalhes, principalmente o timbre de voz escolhido para a personagem, não sei se pela própria atriz ou se por sugestão do grande diretor, um dos magos dos musicais, CHARLES MÖLLER, o que lhe deve exigir  muito de seu talento vocal.
 
LETÍCIA, GREGÓRIO, LUIZ FERNANDO E ADRIANA GARAMBONE.

LETÍCIA COLIN – Essa atriz/cantora é uma das maiores descobertas da dupla MÖLLER & BOTELHO nos últimos tempos.  Em O DESPERTAR DA PRIMAVERA, a despeito de não ser a protagonista da trama, valorizava a cena, toda vez que dela participava, com seu talento, sua beleza e voz lindíssima.  LETÍCIA vive Rosemary Pikington, uma jovem funcionária da empresa WORLD REBIMBOCA COMPANY (o nome da empresa é um achado de CLÁUDIO BOTELHO, autor da versão para o Português), sonhadora e apaixonada por Finch, e que tenta ajudá-lo a conquistar terreno na firma, sem saber que tal ajuda era desnecessária, graças à astúcia e determinação do personagem de GREGÓRIO.
  
GOTTSHA – Penso que ela é uma espécie de talismã da dupla de diretores.  É uma reencarnação de Midas.  Tocou, virou sucesso.  Já participou de uma quantidade infinita de musicais, também com outros diretores, e não me lembro de nenhum em que ela não me tenha encantado e levado a gritar BRAVO! e a aplaudi-la de pé.  Embora sua personagem não seja de tão relevante importância na trama, GOTTSHA, com sua voz linda, clara, possante e afinada, domina a cena e recebe, merecidamente, aplausos em cena aberta.  
 
GOTTSHA e seu solo.

ADA CHASELIOV – Outra presença constante e competente nos musicais de CHARLES e CLÁUDIO, ADA, mais uma vez, defende, com competência, o seu ofício, no papel da Srta. Jones, uma típica secretária de um chefão, responsável por poupá-lo de maiores “micos”.
 
GOTTSHA dando uma de "Cupido".

Além desses, merecem destaque os demais “coadjuvantes”, cada um, merecidamente, em seu lugar: LÉO WAINER, PATAU, CÁSSIO PANDOLFI e LUIZ NICOLAU.  LÉO e CÁSSIO me surpreenderam nas coreografias.
 
Sem comentários.

Todos os outros doze atores/atrizes/cantores/cantoras/bailarinos/bailarinas são, também, merecedores dos maiores elogios.  São eles: KOTOE KARASAWA, CRISTIANA POMPEO, RENATA RICCI, CAROL EBECKEN, LEANDRO LUNA, PATRICK AMSTALDEN, HELCIO MATTOS, GUILHERME LOGULHO, FÁBIO PORTO, LÉO WAGNER, NÁDIA NARDINI e JOANE MOTA.
Recuso-me a tecer qualquer comentário sobre a direção de CHARLES MÖLLER e a supervisão musical de CLÁUDIO BOTELHO.  Quem, neste país, entende mais de musicais e põe na mesa mais talento que esses dois?  São imbatíveis.  Nenhum aspecto negativo na montagem de COMO VENCER NA VIDA SEM FAZER FORÇA.
 
Espelho, espelho meu...

Se o espetáculo é capaz de merecer os maiores elogios de todas as pessoas que assistem a ele, não é apenas pelo texto, pelas canções, pelas interpretações, pela direção...  Se é um musical, espera-se ver nele belas coreografias.  Essa é a área de ALONSO BARROS, que já vem trabalhando com MÖLLER & BOTELHO há alguns anos e que faz um trabalho impecável.  Todos os meus amigos que trabalham ou já trabalharam com o ALONSO são unânimes em elogiar seu método de trabalho, que deve ser muito bom mesmo, a julgar pelo lindo resultado de suas coreografias em cena.

A direção musical, a cargo de PAULO NOGUEIRA, também é excelente.

E o que falar do cenário de um craque, como ROGÉRIO FALCÃO, que também ajuda a enriquecer os trabalhos assinados por CHARLES e CLÁUDIO?  Como sempre, ROGÉRIO cria cenários brilhantes, lindos e funcionais, o que encanta e facilita a percepção dos espectadores a respeito dos espaços em que as cenas transcorrem.  Neste espetáculo, não é diferente.

Os figurinos de MARCELO PIES, outro veterano da equipe dos “meninos”, são ótimos.
 
Somos MARMOTAS!!!

É inaceitável assistir a um musical e não se conseguir ouvir bem, com clareza e distinção, todos os sons produzidos, quer nas falas, quer nas interpretações das canções.  Trata-se de uma tarefa bastante árdua, mas que não é problema para o competente MARCELO CLARET.  Que som puro e cristalino, meu Deus!

PAULO CÉSAR MEDEIROS, ou, simplesmente, o PAULINHO, é responsável, mais uma vez, por uma luz irretocável.

BETO CARRAMANHOS seria um mágico, ao transformar as pessoas em personagens, se essa transformação não fosse fruto de muita pesquisa, estudo, pratica e talento.  Só a transformação de GOTTSHA em Smitty já valeria todos os elogios ao trabalho do BETO neste espetáculo.
 
Uma das sensacionais coreografias de ALONSO BARROS.

Uma produção da envergadura e COMO VENCER NA VIDA SEM FAZER FORÇA só chega ao palco da maneira como chegou, e continuará chegando ainda por muito tempo, graças, também, a um exército de técnicos, que, nos bastidores, se revezam em várias atividades, para que o público possa aplaudir um bom espetáculo.  Nessa faina, de garantir que o espetáculo chegue a uma estreia, e se mantenha em cartaz, com sucesso, não podem ser omitidos dois nomes: TINA SALLES, na coordenação artística, e EDSON LOPES, na produção executiva.

Faltou alguma coisa a ser dita?  Esqueci-me de citar o nome de alguém?  Acho que não.
 
Aplausos e consagração do público.  Momento inesquecível!!!

Nesta semana, encontrei uma pessoa que me disse não ter gostado do espetáculo.  Depois de um esforço muito grande para não espancar o infeliz (brincadeira), pedi que o cidadão se justificasse.  Ele havia brigado com a namorada, perdido o emprego, sido diagnosticado como bipolar e comido um “podrão”, antes de entrar no teatro, que não “caiu bem”.  Poderia ter gostado de alguma coisa naquele dia?  Nem com muita força.

Elenco e parte dos técnicos e de elementos da produção.
 
 
 
(FOTOS DE DIVULGAÇÃO DO ESPETÁCULO)
 
 
 

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