terça-feira, 28 de janeiro de 2014


UMA EXCELENTE “PEÇA RUIM”

 

(PARADOXO OU VERDADE?)


 

 

Você sairia de sua casa para assistir a uma peça chamada PEÇA RUIM?  Talvez sim, apenas por curiosidade.  Eu fui, por tal motivo e por mais dois. 

O primeiro é que acredito muito no trabalho do autor do texto, DANIEL BELMONTE, e, também diretor do espetáculo.  O segundo é que, já há algum tempo, ele vinha me falando dessa peça, e o fazia com tanto entusiasmo, que eu não poderia deixar de prestigiar esse jovem talentoso ator, autor e diretor, com apenas 20 anos.

Por três vezes, tive de adiar minha ida ao Teatro O Tablado, para conferir esse trabalho.  Consegui fazê-lo, finalmente, ontem, quando seria a última apresentação da peça.  Felizmente, graças ao sucesso de público (acho que a crítica não passou ainda por lá, mas deveria fazê-lo), haverá, em princípio, mais duas apresentações, nas próximas 2ªs feiras, sempre às 21h.  Mas é necessário comprar os ingressos com antecedência, uma vez que se esgotam logo e dezenas de pessoas retornam, frustradas, às suas casas, sem conseguir “curtir” o espetáculo.





DANIEL mergulha, magistralmente, na metalinguagem, e seu texto é facilmente assimilado por qualquer pessoa, desde as mais maduras, em minoria na plateia, até os jovens, que compõem a grande massa do público.  Foi escrita por um jovem, feita por jovens, voltada para jovens e para quem mais quiser chegar.

Retrata os bastidores do TEATRO e conta a história de um diretor de uma companhia “não muito convencional” – ambos - (DUDU, ou BISÃO, como exige ser chamado por seus atores, aos quais se refere como “imbecis’), o qual, em meio a uma crise existencial, escreve uma peça, na intenção de compartilhar, com a assistência, suas angústias amorosas, uma vez que está apaixonado por uma atriz da trupe, a personagem A TAL GAROTA QUE ANDA MEXENDO COM A MINHA CABEÇA (o nome da personagem é genial). 

BISÃO não consegue separar a realidade da ficção e vê, na sua obra, PEÇA RUIM, uma maneira de poder conquistar sua pretendida, durante os ensaios “arrojados”.

Há, no texto, uma crítica explícita a alguns estereótipos de atores contemporâneos, que, por meio de um processo de “criação coletiva”, vão tentando pôr ordem num caos cênico, este crescendo numa proporção geométrica, à medida que os ensaios vão acontecendo.

Dentro dessa narrativa, o grupo está ensaiando uma tragédia grega – ÉDIPO REI – com “pitadas de modernidade”, que provocam muitas gargalhadas no público, quando, por exemplo, ÉDIPO estupra sua mãe JOCASTA.


.


Para piorar a situação, BISÃO resolve inscrever a peça num edital, em Salvador, Bahia, num projeto que tem por objetivo promover os valores culturais soteropolitanos.  Tendo sido aprovado no primeiro estágio do referido edital, o grupo terá de fazer uma apresentação para um júri, que decidirá pela sorte de companhia.  Para sustentar a fraude (o grupo havia sido inscrito como se formado fosse por cidadãos de Salvador), o diretor impõe aos atores a utilização de uma prosódia local, o que rende momentos hilários.

 Imaginem ÉDIPO REI representado em sotaque baiano, e de uma forma propositalmente exagerada.

O trabalho de DANIEL não só é bom no papel como também o é na execução da proposta.  É ótima a sua direção.

Ótimos, também, são todos os sete atores, sem destaques, a saber: ANDRÉ DALE (BISÃO), HERNANE CARDOSO (RICKY), ADRIANO MARTINS (ATOR DE TEATRO), MARIANNA PASTORI  (A TAL GAROTA QUE ANDA MEXENDO COM A MINHA CABEÇA), PEDRO THOMÉ (IDIOTA 1), EDUARDO SPERONI (IDIOTA 2) e JOANA CASTRO (IDIOTA 3).





Trata-se de uma montagem na base da “ação entre amigos”, pobre, no sentido material, mas muito rica, no sentido profissional, com bom cenário (JÚLIA MARINA) e figurinos (ANOUK VAN DER ZEE) e uma excelente iluminação (RODRIGO BELAY).

Parabéns a todos os envolvidos no projeto!

DANIEL BELMONTE (guardem bem este nome) é um jovem talento, não mais promissor. 

PEÇA RUIM é, paradoxalmente, um excelente espetáculo!

 

 
DANIEL BELMONTE



(FOTOS EXTRAÍDAS DA PÁGINA DO ESPETÁCULO NO FACEBOOK)

Nenhum comentário:

Postar um comentário