segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014


TODOS OS MUSICAIS DE CHICO BUARQUE EM 90 MINUTOS
 
(TODOS OS NOSSOS APLAUSOS PARA MAIS UMA OBRA-PRIMA DO TEATRO MUSICAL BRASILEIRO)

 
 
 

Se você pretende escrever uma resenha sobre um espetáculo da imbatível dupla CHARLES MÖLLER & CLÁUDIO BOTELHO, não vá pensando que conseguirá seu intento, assistindo, apenas uma vez, à peça.  É impossível!

Vi TODOS OS MUSICAIS DE CHICO BUARQUE EM 90 MINUTOS em sessão “vip”, para convidados, numa 2ª feira, logo após o final de semana de sua estreia.  Fui tomado de tanta emoção, que, quando tentei, em casa, pôr no papel o que vi e senti, diante daquele “sonho impossível” (“Sonhar mais um sonho impossível...”), não conseguia me concentrar nem me lembrar de dezenas de detalhes importantíssimos, para informar os leitores e gerar neles a expectativa de ir, logo, logo, ao Teatro Clara Nunes, para ver mais uma grande produção da dupla.

Assim, voltei ao ...CHICO... na última 6ª feira (31/01/14), para encerrar, com chave de ouro, o meu janeiro.  Fui munido de caderneta de notas e caneta e, como já havia assistido uma vez, fiquei mais atento a tudo o que me chamou mais a atenção, para, aqui, repassar a quem me dá a honra de sua leitura.  O difícil é encontrar algo que não chame a atenção nesse espetáculo.

Para começar, acho a ideia excelente; ou melhor, as ideias.  Uma é a de trabalhar, no TEATRO, a obra de CHICO BUARQUE DE HOLANDA, uma das poucas unanimidades do panorama cultural brasileiro.  Outra é criar um musical, baseado nas canções que CHICO compôs especialmente para o TEATRO, o cinema, o balé e a TV.
 
Selecionar canções que, costuradas, contem uma história, formam uma narrativa,   pode parecer tarefa fácil, mas não o é, certamente.  Primeiro, obviamente, o autor do roteiro (CLÁUDIO BOTELHO), pensou numa trama.  A partir daí, era garimpar a extensa obra de um dos maiores compositores da chamada Música Popular Brasileira, se não for o maior.

Esse trabalho não é nenhuma novidade para CHARLES e CLÁUDIO, que já haviam feito duas outras grandes obras-primas no gênero: BEATLES NUM CÉU DE DIAMANTES, com o auxílio luxuoso de Cristiano Gualda (que vi 55 vezes) e MÍLTON NASCIMENTO – NADA SERÁ COMO ANTES (que vi apenas dez).  Ambas eram para ser vistas muitas vezes (eu veria todos os dias), sem que causasse o mínimo enfado.  Não é diferente este TODOS OS MUSICAIS DE CHICO BUARQUE EM 90 MINUTOS.

Há, entretanto, um pequeno diferencial entre aqueles dois e este: Em BEATLES... e MÍLTON..., não havia texto.  Os enredos eram contados pelas próprias letras das canções, divididos em blocos.  Em ...CHICO..., ocorre a mesma coisa, todavia há trechos narrativos, ditos por um dos personagens, o de CLÁUDIO BOTELHO, ao vivo e em “off”.

Não há nenhuma grande novidade na trama.  A maneira como ela é desenvolvida é que prende a atenção do espectador, por bem mais de 90 minutos, e o leva a uma viagem, na companhia dos personagens, ao som dos versos de um dos maiores - se não o maior - poetas da MPB e suas frases melódicas riquíssimas e encantadoras.

A ideia do espetáculo não é inédita, o que muito pouco interessa, menos ainda lhe tira o grande brilho.  Foi baseado num outro, chamado TODAS AS PEÇAS DE SHAKESPEARE EM 97 MINUTOS, uma criação do grupo THE SHAKESPEARE REDUCED COMPANY, que ficou em cartaz, em Londres, por muito, e há muito, tempo.  Espetáculo parecido com o londrino, e extremamente interessante, foi apresentado, no Rio de Janeiro, no ano passado, pelos magníficos atores do grupo paulista OS PARLAPATÕES: PPP@SHAKSPR.BR, que se propunha a encenar alguns dos maios importantes títulos do bardo inglês no mínimo tempo.  Espetáculo primoroso, feito por Alexandre Bamba, Hugo Possolo e Raul Barreto.

Mas deixemos de divagações e voltemos ao ...CHICO....






A trama foi construída em cima de um grupo de TEATRO mambembe (retificando: “teatro de repertório”, corrigiria o narrador), formado por seu dono, CARLOS (CLÁUDIO BOTELHO), sua mulher, DORA (A PRIMEIRA DAMA), DAVI GUILERME, JUCA (O FILHO PRODÍGIO), ESTRELA BLANCO, RITA (A MOCINHA), FELIPE TAVOLARO, DITO (O GALÃ), LÍLIAN VALESKA, LEA (A CARTOMANTE) e RENATA CELIDÔNIO, LIA (A CIGANA). 

Um dia, atendendo ao apelo (PRECISA-SE DE ARTISTAS), exposto numa faixa, fixada à boca de cena, chega, MARGARIDA (MALU RODRIGUES), por quem o dono da companhia se apaixona e que será disputada por este e por seu filho JUCA (na verdade, CARLOS acha que o rapaz é filho do Pipoqueiro), desestabilizando completamente a harmonia, até então, reinante no grupo.
 
Vai daí, entram em cena as canções, que vão contando a trama, iluminando cada momento da narrativa: as expectativas dos personagens; suas conflituosas relações amorosas, incluindo uma homoafetiva, entre LEA e LIA; os acertos e os erros de cada um; as esperanças e desilusões pessoais...  E LA NAVE VA...

É claro que vai haver uma rejeição, por parte da PRIMEIRA DAMA, à admissão da nova integrante da trupe.  É claro que vão existir situações conflitantes entre, praticamente, todos os envolvidos na trama.  É claro que você pode estar pensando que isso não poderia render um bom musical.  E é claro que você poderia ter razão, se esse musical não pertencesse à grife MÖLLER & BOTELHO.

Todas as canções que desfilam, por cerca de 120 minutos, no palco do Teatro Clara Nunes, esta que também foi uma grande intérprete de CHICO BUARQUE, foram compostas para personagens de peças de TEATRO, filmes, balés, especiais ou programas de TV.  Portanto, por meio dessas letras, os personagens põem para fora os seus sentimentos, os seus anseios, as suas dúvidas, as suas culpas, os seus remorsos, as suas alegrias e as suas dores.  É por isso que elas servem ao autor do roteiro para contar uma história.

O ESPETÁCULO É DESLUMBRANTE, EM TODOS OS SENTIDOS.





Comovente, o espetáculo leva o público, sem nenhum esforço, às lágrimas e a sair do teatro “flutuando”, “para cima”...  Aliás, com relação ao público, é interessante dizer que, como não poderia deixar de ser, em sua maior parte, é constituído por pessoas de mais idade, porém não é raro ver muitos jovens, crianças e adolescente, inclusive, espalhados pela plateia, levados por seus pais e avós, para conhecerem o universo buarqueano.  Isso ocorreu nas duas vezes em que assisti à peça e acontece todos os dias, como vim a saber depois.  E o melhor: eles adoram, o que significa que há uma luz no fim do túnel, num mundo no qual imperam os naldos, as anitas, os MCs, o maldito “funk” e outros “que tais”, que podem ser tudo, menos música (Se alguém achar que é “patrulha”, não dou a menor importância; é o que penso.  Pronto, falei!).

Passo a uma análise geral dos elementos que compõem esta obra e, em seguida, partirei para detalhes, anotados, que me chamaram mais a atenção, nas interpretações.
 
Quem acompanha os trabalhos de CHARLES e CLÁUDIO já conhece todos os profissionais que assinam os principais destaques da ficha técnica, numa prova de que, utilizando-se o já tão batido dito popular, “Em time que está ganhando, não se mexe”.
 
TEXTO: CHICO BUARQUE DE HOLANDA e CLÁUDIO BOTELHO - Não há o que comentar.  Todas as letras são de indiscutível qualidade e o texto adicional, dito pelo narrador, e que serve para orientar o espectador naquela fantástica viagem, é perfeito.


CONCEPÇÃO e DIREÇÃO: (CHARLES MÖLLER) - Impecável!!!
 
CENÁRIO: ROGÉRIO FALCÃO – Parece simples, mas é de suma importância para o desenho das marcações e contribui bastante para a plasticidade do espetáculo.  Em dois planos, separados por uma plataforma que vai de coxia a coxia, apresenta umas portas vazadas, que deslizam de uma ponta a outra, ora manuseadas pelos próprios atores, ora, por ação mecânica.  Além disso, há uma escada muito alta, como a utilizada no embarque em aviões, que se desloca por várias posições e que também se presta à marcação de cenas belíssimas.  Agreguem-se a tais elementos, cadeiras e bancos.  Tudo muito simples, tudo muito funcional, diferente dos outros suntuosos cenários de ROGÉRIO para espetáculos da dupla M&B.
 
FIGURINOS: MARCELO PIES – Um dos pontos altos da peça.  MARCELO é um grande profissional.  Ele e sua equipe já o provaram em vários musicais anteriores de M&B.  Seguiu um pouco a linha utilizada em MÍLTON....  São de um bom gosto e de uma beleza abissais, predominando, nos da primeira metade do espetáculo, os tons pastéis, avivando-se um pouco mais, sem exageros, nos demais momentos.  É difícil dizer qual dos trajes femininos emociona mais, abundantes em rendas, bordados e aplicações.  Uma perfeita obra de arte.  Assim como o cenário de ROGÉRIO FALCÃO, em MÍLTON..., deveriam ficar expostos, permanentemente, num “museu de cenários e figurinos teatrais”.
 
ORQUESTRAÇÃO e ARRANJOS: THIAGO TRAJANO – Presença constante nos espetáculos de M&B, ele não economizou talento para levar ao palco canções emblemáticas de CHICO, vestidas com trajes diversos dos que estamos acostumados a ouvir, sem, entretanto, descaracterizar a linha melódica de cada uma delas.  Trabalho para “gente grande”, o que não é motivo de surpresa para o gigantismo do talento de THIAGO.
 
ARRANJOS VOCAIS: JULES VANDYSTADT – Outro competente profissional, sempre presente nos trabalhos de M&B, quando não atua também como ator, JULES é muito craque na sua área.  Seu trabalho, obviamente, se destaca nos duetos e nas canções interpretadas por grupos de atores/cantores ou, até mesmo, por todos, juntos.  O espectador fecha os olhos e se deixa levar num voo suave e delicioso, em meio à mistura de timbres e harmonizações que o inebriam.  Como ninguém, soube mesclar os diferentes registros vocais do atores/cantores, e o resultado disso é um primor.
 
VISAGISMO: BETO CARRAMANHOS - Ele de novo.  O mago das transformações.  A mente criativa, que transforma rostos e corpos de atores em personagens, em identidades fictícias.  Neste espetáculo, o trabalho de BETO, mais uma vez, deve ser aplaudido de pé.  Sempre encontra um detalhe para destacar as características de cada personagem ou para realçar algo que sobressai no ator, como é o caso, por exemplo, da candura e ingenuidade da personagem de MALU RODRIGUES, praticamente sem maquiagem, mas com destaque para a “porcelana” de sua pele, bem como o realce de seus lindos olhos.  E por falar em olhos, também DAVI GUILHERME teve os seus destacados pelas mãos de BETO, detalhe importantíssimo para a personalidade de galante conquistador que seu personagem pede.  BETO é fantástico!
 
DESIGN DE SOM: MARCELO CLARET – Um dos pontos mais importantes para um musical é, evidentemente, o som.  Se ele falha, destrói a peça.  É preciso que o som dos instrumentos e o das vozes sejam muito bem equalizados e puros, cristalinos, para não comprometer a qualidade das canções e das interpretações.  MARCELO sabe fazer isso como ninguém.  Seu trabalho é irretocável.
 
ILUMINAÇÃO: PAULO CÉSAR MEDEIROS – É, simplesmente, deslumbrante.  Mais do que isso não se faz necessário dizer.  A cada trabalho, PAULINHO se supera.  As luzes não são fortes, mas suaves, como as cenas requerem, e as constantes mudanças de cores atribuem a elas uma beleza ímpar.
 
ELENCO (por ordem alfabética):




CLÁUDIO BOTELHO: Já estávamos saudosos de suas atuações.  É muito bom ver, ainda que bissextamente, este grande nome do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO nos palcos, e não apenas nos bastidores.  CLÁUDIO é um ótimo ator e muito bom cantor.  Conhece música, tem uma cultura musical invejável e uma sensibilidade à flor da pela (“O que será que me dá, que brota à flor da pele...”).  Neste espetáculo, entrega-se, por inteiro, ao personagem, que vai conduzindo a narrativa, e o resultado é muito bom, já que sua comunicação com o público se faz logo de início, com total empatia.  Também domina  a técnica do improviso e de fazer humor inteligente.
 
DAVI GUILHERMME: Com apenas 22 anos de idade, este jovem grande intérprete de musicais, foi revelado por CHARLES e CLÁUDIO, salvo menor engano, em O DESPERTAR DA PRIMAVERA, aliás, um grande celeiros de excelentes profissionais, no qual tinha um desempenho discreto, em função de seu personagem, porém muito correto.  Neste ...CHICO..., DAVI é um dos grandes destaques, com uma voz firme e bela, saltitando dos graves aos agudos, na dependência das canções que lhe foram destinadas na peça.  Quem quiser vê-lo em outra excelente atuação é só ir, às 4ªs feiras, às 20h, ao Teatro Café Pequeno, onde também faz um ótimo trabalho (ainda como excelente pianista e diretor musical) em VAMPIRAS LÉSBICAS DE SODOMA.
 
ESTRELA BRANCO: Outra grata revelação de O DESPERTAR..., ESTRELA tem uma participação marcante neste espetáculo, melhor, segundo minha humilde opinião, do que em MÍLTON....  Lá, perdoem-me os que assistiram aos dois espetáculos, se eu estiver errado, pareceu-me que os tons das canções que solava estavam um pouco altos, o que a levava a um esforço muito grande, fazendo com que sua linda voz perdesse um pouco do brilho e soasse muito estridente, em vários solos.  Águas passadas, ainda que tal detalhe não lhe tirasse o valor naquela encenação.  Mas, aqui, a “performance” de ESTRELA é digna de grandes elogios, tanto nos solos quanto nas outras participações.
 
FELIPE TAVOLARO: Apesar de jovem, já é um veterano em musicais e um aplicadíssimo profissional, recém-chegado de Nova York, aonde foi em busca de aprimora-se na profissão e onde se destacou nos curso que fez, ficando lá por mais de dois anos e chegando a atuar, profissionalmente, na Broadway, a fazer parte do elenco de apoio do filme The Wolf of Wall Street, ao lado de Leonardo de Capri, tendo participado, ainda, de programas de TV, sobre musicais da Broadway.  O reconhecimento de seu talento e de seu empenho rendeu-lhe a participação em ...CHICO....  Faz um excelente trabalho, com sua voz estentórea e, por vezes, suave.
 
LÍLIAN VALESKA: O que não falta, no TEATRO MUSICAL BRASILEIRO, é mulher de voz linda e afinada.  LÍLIAN é uma delas.  Também já é velha conhecida dos amantes dos musicais e, mais uma vez, empresta seu vasto talento de atriz e cantora a este espetáculo.  É comovente vê-la e ouvi-la cantando.  Sua voz é de uma personalidade tal, que fica nos nossos ouvidos, depois que saímos do teatro.  Minha paixão por ela, por seu talento, começou, há alguns anos, quando, por várias vezes, chorei ao vê-la em IMPÉRIO, um musical impecável, de Miguel Falabella e Josimar Carneiro.
 
MALU RODRIGUES: Não há adjetivos para caracterizar o trabalho dessa jovem, de 20 anos, que é de fazer o espectador quase atingir o nirvana.  A voz dessa moça é algo indescritível.  A sensibilidade com que interpreta cada canção é de uma beleza, de uma delicadeza ímpar, sem falar de sua espetacular presença e domínio de palco.  Surgiu, ainda adolescente, nos musicais de CHARLES e CLÁUDIO, e teve sua grande revelação, ao protagonizar O DESPERTAR DA PRIMAVERA.  Já naquele trabalho, aos 16 anos, MALU não deixava a menor dúvida de que já era um grande nome dos musicais, hoje, também, brilhando no cinema e na TV.  É, sem sombra de dúvidas, a maior mais jovem cantriz do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO.
 
RENATA CELIDÔNIO: Que voz! Que interpretações!  Que talento!  Que falta faria, se não estivesse nesse elenco!  É muito difícil buscar adjetivos positivos para quem reúne tantos numa só pessoa.  É outra grande dama dos nossos musicais e se comporta de forma magistral em ...CHICO....  Brinca com os graves e os agudos, sem o menor esforço, e encanta os nossos ouvidos.
 
SORAYA RAVENLE: A mais velha e, portanto, mais experiente, do naipe feminino, SORAYA dispensa todo e qualquer comentário acerca do seu trabalho.  É completa para musicais.  Dona de um registro vocal belíssimo, valoriza, e muito, qualquer peça de que participa.  Acompanho sua carreira desde os primórdios e verifico, a cada trabalho, uma evolução enorme, que dá a impressão de que já atingiu o apogeu.  Mas lá vem um novo projeto e SORAYA nos surpreende com uma atuação ainda melhor.  Sua PRIMEIRA DAMA é perfeita.  Seus solos são inesquecíveis.  Sua presença em cena é marcante.  É uma das grandes damas do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO.
 
A banda que executa o acompanhamento do elenco é formada por THIAGO TRAJANO (regência, guitarra, violão e bandolim), LUCIANO CORREA (cello), PRISCILLA AZEVEDO (piano e acordeão) e MÁRCIO ROMANO (percussão e marimba).  Excelentes músicos!  Atuação nota DEZ.  Destaque, por conta dos arranjos, para as intervenções do acordeão e da marimba, muito bem aproveitados.






Não posso deixar de evidenciar alguns detalhes, em todos os sentido, que merecem um foco especial:
 
1)      As variações das narrações, ao vivo e em “off”.  Funcionam muito bem e não permitem que o tédio possa marcar presença.

2)      A cena do teste de artistas para a companhia de mambembes (SHOW BIZZ).

3)      O dueto entre CLÁUDIO e SORAYA, na canção BASTIDORES.  A letra original da canção se prestou, perfeitamente, para dramatizar a lembrança de um momento muito "especial" na vida dos dois personagens: o seu casamento.

4)      A cena que revela o envolvimento homoafetivo entre LEA (LILIAN) e LIA (RENATA) (MAR E LUA).  Muito bonita, sutil e delicada.  Lirismo puro.

5)      A cena em que DAVI interpreta, magistralmente, o TANGO DO COVIL, para conquistar a mocinha, recém-incorporada ao grupo.  Além da excelente interpretação, ótima também é a coreografia.

6)      MALU, cantando SENTIMENTAL, de dificílima interpretação.

7)      A divertida concepção encontrada para a interpretação da canção CIRANDA DA BAILARINA, quando os atores cantam com vozes de crianças, com as cabeças dentro de bebês-conforto, manuseando, como fantoches, seus próprios “bracinhos".

8)      A canção O MEU AMOR, originalmente composta para o musical A ÓPERA DO MALANDRO, para uma cena em que duas mulheres disputam um homem, aqui, é interpretada por dois homens, DAVI e FELIPE, acompanhada de linda coreografia, de Sheila Aquino e Marcelo Chocolate, contando com o apoio, em cena, de LILIAN e RENATA.

9)      Outro detalhe importante é a interpretação de VIDA, por SORAYA, merecedora de muitos aplauso em todas as sessões.

10)  Uma das cenas mais emblemáticas do espetáculo é a interpretação de CLÁUDIO para GENI E O ZEPELIN, uma letra “teatral”.  Ele abusa do direito de ser genial nessa cena, complementada por uma fantástica ideia da direção, de colocar todo o elenco restante na plataforma superior do cenário, ao fundo, exibindo placas com partes da letra da canção, num revezamento milimetricamente ensaiado, criando um elemento de surpresa, ovacionado pela plateia.  A letra da canção é tão narrativa e a interpretação de CLÁUDIO tão perfeita, que é facílimo imaginar as cenas descritas no corpo da canção.






11)  Belíssima é a cena em que DAVI e MALU simulam uma cena de sexo, dentro do maior lirismo, ao som de TATUAGEM, que a dupla interpreta de forma espetacular.

12)  Muito boa a ideia de convidar oito pessoas da plateia, para que subam ao palco, a fim de compor um suposto público, para uma apresentação da trupe, numa das mais remotas cidades do interior brasileiro, localidade na qual havia apenas oito casas.  Sentados naquilo que seria um auditório, essas pessoas assistem, de perto, a uma sucessão de números musicais fantásticos, momento em que cada um do elenco tem a sua oportunidade de brilhar num solo, sem falar em outras ocasiões, como:

a)      A VIOLEIRA – talvez a melhor participação de ESTRELA no espetáculo.

b)      BISCATE – interpretação bem descontraída de CLÁUDIO e LÍLIAN.

c)      NÃO SONHO MAISSORAYA, mais uma vez, mexe com a sensibilidade do público.

d)     SOB MEDIDARENATA explora, muito bem, a letra da canção.

e)      SAMBA DO GRANDE AMORDAVI e RENATA, interpretação bem leve, com direito a deliciosas pitadas de humor.

f)     FUNERAL DE UM LAVRADOR – o momento máximo de LÍLIAN.  Convincente e emocionante.

g)      RODA VIVA – um dos clássicos do repertório de CHICO, muito bem interpretado por FELIPE, com o apoio do elenco.

13)  Outro grande momento do espetáculo é a cena em que MALU e ESTRELA interpretam BEATRIZ, do balé O GRANDE CIRCO MÍSTICO, atualmente em fase de produção de uma nova montagem teatral.  Acrescente-se, aqui, uma pequena, não menos importante, participação de CLÁUDIO.

14)  SORAYA faz o público prender a respiração, ao interpretar, a capela, um trecho de INVICTA, emendando com uma singular leitura de GOTA D’ÁGUA, que levanta a assistência.  Não dá vontade de parar de aplaudir.

15)  FELIPE, interpretando VOCÊ VAI ME SEGUIR, também deixa boas recordações.

16)  A cena em que todas as mulheres, à exceção de SORAYA, interpretam TERESINHA.

17)  CLAUDIO emociona muito o público, ao cantar BASTA UM DIA, que emoldura uma das mais belas cenas do musical GOTA D’ÁGUA.  E olha que, lá, na primeira versão, quem cantava a canção era nada mais, nada menos que BIBI FERREIRA.  Reportei-me àquele espetáculo e fui às lágrimas com a interpretação de CLÁUDIO.

18)  A interpretação de MALU para MIL PERDÕES.  Sabe, muito bem, explorar o insólito da letra, que termina por um “Te perdoo por te trair”.

19)  A maneira abrupta como CLÁUDIO anuncia, do nada, à plateia, que o espetáculo ali se encerra, por terem decorridos os 90 minutos prometidos, no que é interpelado pelos demais atores do elenco, que o convencem a continuar o espetáculo.

20)  BAIOQUE, uma ideia genial, do filme QUANDO O CARNAVAL CHEGAR, cantado por DAVI, ESTRELA, MALU e FELIPE, aproveitando bem a escada e a plataforma superior do espetáculo.  Esta cena é muito aplaudida.






21)  Muito linda a interpretação de EU TE AMO, por CLÁUDIO e SORAYA.  Muito lírica, valorizada pelo talento dos dois.

22)  A cena em que todo o elenco canta PEDAÇO DE MIM, na penumbra, cada um deles iluminando o rosto do outro, com possantes lanternas.  O efeito plástico da cena é muito bonito.

23)  O QUE SERÁ?, do filme DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS, nas vozes de CLÁUDIO, LILIAN e SORAYA.

24)  Interessante a tentativa de encenação de uma versão teatral para o clássico de Alexandre Dumas Filho, A DAMA DAS CAMÉLIAS, ao som de NOITE DOS MASCARADOS.

25)  A reconciliação do casal CARLOS e A PRIMEIRA DAMA, ao som de SEM FANTASIA, um dos mais lindos duetos da peça.

26)  A cena final, ao som de FLOR DA IDADE, cuja letra parafraseia o poema QUADRILHA, de Carlos Drummond de Andrade, interpretada por todo o elenco.




O final da temporada de TODOS OS MUSICAIS DE CHICO BUARQUE EM 90 MINUTOS está previsto para o início de abril, entretanto, considerando-se as casas cheias, em todas as sessões, a aceitação maciça da plateia e da crítica e a procura de ingressos (no início de fevereiro, já foram abertas as vendas para março), tudo indica que o espetáculo está fadado a continuar em cartaz, no Clara Nunes ou em outro teatro, no Rio de Janeiro, por muito mais tempo, antes de fazer carreira em outras praças do Brasil e, quiçá, no exterior, seguindo o exemplo de ÓPERA DO MALANDRO e  BEATLES NUM CÉU DE DIAMANTES.

Não consigo encontrar um ponto fraco neste espetáculo, para poder dizer: É ÓTIMO, PORÉM...  Não, não consigo.  Então, na falta de um "furo", digo apenas: É ÓTIMO!








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(FOTOS DA PRODUÇÃO, DA DIVULGAÇÃO, DA PÁGINA DA PEÇA, NO FACEBOOK, E DE MARISA SÁ.)



3 comentários:

  1. Gosto de TUDO que Chico fez. Gosto até do que ele AINDA NÃO FEZ, daí podem imaginar como foi assistir essa belezura! Magnífico!!!!
    Assino embaixo de tudo que escreveu. Análise minuciosa e profunda.
    Bravíssimo!

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  2. Parabéns pela sua detalhada resenha!
    Vc escreveu lindamente e abordou com magnitude todos os detalhes desse maravilhoso musical!
    Amo as musicas de Chico, é uma imensa felicidade assistir a esse espetáculo, fantástico do inicio ao fim!!!

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  3. Parabéns, Gilberto, pelo brilhante texto. Você conseguiu dissecar por completo o espetáculo do início ao fim. Foi até o momento a mais completa das inúmeras resenhas que li. Em relação às suas opiniões, não consegui encontrar nenhum ponto de discordância entre o que achei e o que você escreveu. Quando você disse, sobre Malu Rodrigues:"É, sem sombra de dúvidas, a maior mais jovem cantriz do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO", fico imaginando o que o futuro dessa atriz ainda nos reserva com o talento monumental que possui. Parabéns pelo texto, muito bom!

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