terça-feira, 22 de abril de 2014


VERTIGEM DIGITAL


 

 

(QUEM OU O QUE SE ESCONDE POR TRÁS DO MUNDO VIRTUAL?  QUEM É QUEM NESSE UNIVERSO?)

 

 

 


 

 


Os deuses do TEATRO, vez por outra, nos reservam agradáveis surpresas, como a que tive, recentemente, ao assistir ao espetáculo VERTIGEM DIGITAL, em cartaz no Tetro do Jockey, de 6ª a domingo, sempre às 21h, em temporada até 25 de maio.

 

            Mas onde está a grata surpresa?

 

ALEXANDRE ELIAS sempre mereceu meu respeito e admiração como um profissional ligado à música, responsável por direções musicais, trilhas, arranjos e preparação vocal em vários espetáculos de grande monta, como, por exemplo, para citar apenas os mais recentes, TIM MAIA, VALE TUDO – O MUSICAL e GONZAGÃO, A LENDA, este que lhe rendeu o Prêmio Shell de Teatro, em 2013, na categoria Direção Musical, embora já tenha recebido inúmeros outros prêmios e indicações.

 

Mas ainda não apareceu a surpresa.

 

Esta se faz presente, quando ALEXANDRE ELIAS resolve enveredar na dramaturgia e escrever uma peça para TEATRO e dirigir seu próprio texto.

 

Sim, ele escreveu o texto de VERTIGEM DIGITAL, baseado, livremente, no livro do mesmo nome, cujo título original é DIGITAL VERTIGO, do sociólogo Andrew Keen, segundo o qual o lado social das redes ditas “sociais” é uma ilusão.

 

"O que acontece quando se opta por divulgar, nas redes sociais, cada um dos passos que damos no dia a dia?  As pessoas estariam fadadas a viver uma existência compartilhada, em que centenas de pessoas podem opinar sobre suas escolhas e acompanhar o desenvolvimento de suas vidas?  Na opinião do autor desta obra, as pessoas acreditam que suas identidades só se realizam pela internet.  Escrevo nas mídias sociais, logo existo."

 

E, ainda por cima, ELIAS assina a direção do espetáculo, começando com pé direito nas duas funções.

 

"A peça conta a história de cinco pessoas que se encontram no momento em que os relacionamentos humanos estão mudando constantemente, devido ao advento das novas tecnologias e da supervalorização das redes sociais e do culto às celebridades."

 

Mudando, para melhor ou para pior?  O texto propõe exatamente uma reflexão sobre isso.  Trata-se de um divertido, ainda que sério, questionamento sobre a dependência que adquirimos da vida virtual – especialmente em se tratando das redes sociais.

 

A cada dia - não há como contestar - o homem, principalmente o da “urbis”, no afã de se comunicar, enclausura-se, cada vez mais, num mundo virtual, em que a realidade é sempre um faz-de-conta, que ele crê verdadeiro.  Infelizmente (É UM ABSURDO!), até mesmo em restaurantes, auditórios, cinemas e TEATROS, as pessoas perderam a noção de respeito ao próximo e à privacidade e não se desgrudam de seus computadores, “iphones”, “tablets”, “notebooks” e de outros representantes da parafernália midiática do computador e seus filhotes.

 

A internet e, como consequência, as redes sociais, estão levando o ser gregário, que sempre fomos, a um isolamento crescente e assustador.

 

Até quando iremos conseguir sustentar essa situação ilusória de “aldeia global”?  Até quando suportaremos viver sem o abraço presencial, o incentivo e o conforto do cara a cara, a palavra dita ao pé do ouvido, com direito a “bafinho quente”?  Até quando irá o prazo de validade dos amigos do Facebook, dos nossos seguidores no Twitter?

 

  

Ivan Mendes lidera o elenco de "Vertigem Digital" (Foto: Janderson Pires)

Elenco


 

Em cena, um quinteto de bons atores (IVAN MENDES, como DOM COSTA; LETÍCIA CANNAVALE, como DULCE MACHADO; FERNANDA GABRIELA, como ELISA BRAGA; LÍGIA FAGUNDES, como EVA HARRINGTON; e FRANCISCO SALGADO, como WIKIPÉDIA) se reveza em alguns personagens, vivendo situações que levam o espectador a refletir sobre o verdadeiro papel das redes sociais, até que ponto poderemos sobreviver sem elas, numa sociedade que fomenta, insistentemente, a nossa inclusão nesse mundo maravilhoso da internet, sob pena de perdermos o bonde do tempo.  Nessa altura, falar em “bonde” já é um sacrilégio.  Melhor seria dizer o “supersônico de fabricação mais moderna”.  Ou será que até eu já “morri e me esqueci de deitar”?

 

Não é à toa que o livro que deu origem à peça traz, na capa, uma espécie de subtítulo: POR QUE AS REDES SOCIAIS ESTÃO NOS DIVIDINDO, DIMINUINDO E DESORIENTANDO?

 

Não é de hoje, que o tema “solidão, isolamento” vem sendo tratado por consagrados escritores, como é o caso de Fernando Sabino, em sua fantástica crônica OITO MILHÕES DE SOLITÁRIOS, na qual fala da solidão dos passageiros, como “sardinhas em latas”, dentro de vagões do metrô, no horário de “rush”.  Não estariam sozinhas, fisicamente, mas solitárias nas suas almas.

 

 

 


Quem é quem no mundo virtual?

 

 

            Sair sem o seu celular (perdão, IPHONE de última geração), conectado à internet e às redes sociais, parece causar a sensação de nudez, diante das outras pessoas.  Assim como eu mesmo dizia, há tempos, que me sentia nu, no meio da rua, quando esquecia o meu relógio, outro objeto escravizante, hoje, o mesmo se dá com muitas pessoas, ao esquecer o celular em casa, o qual serve para tudo, “inclusive como telefone” (piada infame).

 

            Segundo o programa do espetáculo, a peça “fala de medos, paixões, sonhos, frustrações, através desse mundo paralelo em que vivemos e nos relacionamos.  Os diálogos reafirmam o encontro entre realidade e ficção e nos fazem acreditar, ainda mais, que não há apenas uma verdade.”

 

            Trata-se de um espetáculo simples, produção despretensiosa, no sentido de uma ostentação plástica e tecnológica, com cenários, figurinos e iluminação parcimoniosos, entretanto a boa ideia do tema, sua contemporaneidade, assim como uma direção aplicada e o bom trabalho feito pelos atores justificam uma ida ao Teatro do Jockey.

 

Acima de tudo, vale o espetáculo como uma sucessão de alertas às pessoas:

1) Há um outro mundo, além do virtual. 

2) Há uma outra realidade, ou a verdadeira realidade, do lado de cá da telinha.

3) Avance e progrida, sem tirar os pés do chão, porque, se isso não ocorrer, uma reversão poderá ser impossível de ser atingida.  Poderá ser uma ida sem volta.

 

            E por que não uma reflexão acerca do vocábulo “amigo”? Parece que, no mundo moderno, três categorias – conhecido, colega e amigo – se fundiram nesta.  Não seria, no mínimo, estranho chamar de “amigo no Face” a pessoas que nem conhecemos, que apenas adicionamos (não agregamos) por serem amigas do amigo do amigo do amigo do amigo…?

 

            Isso me faz lembrar uma charge, de autor desconhecido, que andou circulando, recentemente, no próprio FACEBOOK, relacionada ao enterro de um usuário, digamos, compulsivo dessa rede social.  Na hora do sepultamento do falecido, a viúva se faz acompanhar de apenas uma meia dúzia de pessoas.  Então um dos AMIGOS diz à viúva: “Pena que só tenham vindo poucas pessoas ao enterro do Fulano”.  E ela completa: “Pois é!  E ele, no Face, tinha mais de mil “amigos”.

           

Outra, bastante interessante e, ao mesmo tempo, bem ingênua, é a que reproduzo abaixo, retirada da internet, com o crédito na própria imagem:   

 

 

 


 

  

            Reforço, aqui, a recomendação de que assistam a este espetáculo e, mais do que isso, tirem suas conclusões a respeito da importância da tecnologia, do universo virtual e das redes sociais no mundo moderno, contudo sem exageros nem prejuízos à vida e à relação entre seres HUMANOS.

 

 

FICHA TÉCNICA:

 

Texto e Direção: ALEXANDRE ELIAS

 

Elenco:

IVAN MENDES - DOM COSTA

LETÍCIA CANNAVALE - DULCE MACHADO

FERNANDA GABRIELA - ELISA BRAGA

LÍGIA FAGUNDES - EVA HARRINGTON

FRANCISCO SALGADO - WILKIPÉDIA

 

Assistente de Direção: FLÁVIO PARDAL

 

Direção Musical: ALEXANDRE ELIAS

 

Direção de Produção: ALEXANDRE LINO

 

Figurinos: ESPETACULAR PRODUÇÕES ARTÍSTICAS NEY MADEIRA - DANI VIDAL - PATI FAEDO

 

Cenário: KARLLA DE LUCA

 

Iluminação: HUGO MERCIER

 

Preparação Corporal: GISELDA FERNANDES

 

Produção Executiva: BRENO LIRA GOMES

 

Produtores Assistentes: DANIEL PORTO,  PAULO AMARO E BRUNO IMENES

 

Contrarregra: VICTOR HUGO RODRIGUES

 

Operador de Som: DIOGO PIVARI

 

Operador de Luz: CARINA D’ÁVILA

 

Fotografia Artística: JANDERSON PIRES

 

Visagismo: NILTON MARQUES

 

Design Gráfico: GUILHERME LOPES MOURA

 

Webdesigner: MARIANA MARTINS

 

Videografismo: MARCIO THEES

 

Assessoria Jurídica: ANDRÉ SIQUEIRA

 

Contabilidade: ALEXANDRE BASTOS

 

Coordenação Administrativa-financeira: ALEXANDRE LINO

 

Coordenação Geral: LÍGIA FAGUNDES

 

Realização: LÍGIA FAGUNDES e CINETEATRO PRODUÇÕES

 

Site: www.vertigemdigital.com.br

 

 

 

O músico Alexandre Elias venceu o Prêmio Shell pela trilha de "Gonzagão, a Lenda" (Foto: Divulgação)

Alexandre Elias

 

Eu e Alexandre Lino (diretor de produção), em noite de estreia.


 

 

(FOTOS: PRODUÇÃO / DIVULGAÇÃO DO ESPETÁCULO)

 

 

 

 




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