terça-feira, 5 de abril de 2016


COMO ME TORNEI ESTÚPIDO
 
 
 
(E VIVA O “POLITICAMENTE INCORRETO”!!!
 
ou
 
“EU MEREÇO.
EU ACONTEÇO.
EU SOU FELIZ”.)
 
 
 
 
 
 
            O primeiro sinal de que um espetáculo teatral “emplacou” é a presença maciça do público, enchendo as salas de espetáculo, chegando à lotação esgotada (Bendita plaquinha, afixada nas bilheterias!). O segundo, que, até, pode contar menos, são as (boas) críticas à peça, já que o crítico será sempre um “crítico” (incluo-me neles). A terceira é, quando, mal termina uma bem-sucedida temporada, o espetáculo reestreia, logo em seguida, em outro teatro, para atingir outras plateias, como é o caso de “COMO ME TORNEI ESTÚPIDO”, que encerrou, no dia 27 de março passado, sua primeira temporada vitoriosa, no Teatro SESC Ginástico, e já reestreia, nesta 5ª feira, dia 7 de abril (2016), no Teatro Clara Nunes.
 
            A peça é uma adaptação, para os palcos, de um livro escrito pelo jovem escritor e antropólogo francês MARTIN PAGE, que conta, de forma bem-humorada, a história de ANTÔNIO (ALEXANDRE BARROS), um sujeito que nada contra a corrente, isto é, posiciona-se contrário às normas e imposições sociais que controlam a maioria dos cidadãos.
 

 
 A peça mostra dez passos para uma pessoa se tornar estúpida e deixar de lado sua inteligência
Alexandre Barros (Antônio), à esquerda, e Gustavo Wabner.
 
 
 
 
SINOPSE:
 
Humor ácido e rebeldia são as principais bases do espetáculo, que vai contra uma sociedade que exige a estupidez como passaporte e oferece a massificação como recompensa.
 
ANTÔNIO, personagem de ALEXANDRE BARROS, enxerga a sua própria inteligência como um perigo iminente, pois seria ela a responsável pela dolorosa consciência da banalidade da vida.
 
Ou seja, a sua sabedoria é, também, o seu maior fardo.
 
Decide, então, buscar uma solução para o seu “problema”: tornar-se estúpido.
 
Desse modo, ao se transformar num sujeito ordinariamente comum, poderá, finalmente, viver sossegado, num mundo caótico e sem sentido.
 
 
 
 
Atores interpretam diversos personagens e brincam com a teatralidade das situações inusitadas que surgem no desenrolar das histórias (Foto: Divulgação/Desireé do Valle)
O elenco.
 
 
            O pequeno texto da sinopse, enviada pela assessoria de imprensa (Alessandra Costa – DUETO COMUNICAÇÃO), na verdade, não expressa, em detalhes, o que o espectador vai encontrar em cena e com o que vai se divertir à farta, pelo contato com um ótimo texto, fruto da adaptação de um livro (tarefa das mais difíceis), que leva a marca de PEDRO KOSOVSKI, um jovem talento, dos melhores dramaturgos dos últimos tempos (É só se lembrar de “Caranguejo Overdrive” e “Fatal”, por exemplo.) e com a direção de SÉRGIO MÓDENA, além dos trabalhos de quatro ótimos atores: ALEXANDRE BARROS, GUSTAVO WABNER, MARINO ROCHA e RODRIGO FAGUNDES.
 
            De acordo com o “release” a que tive acesso, “a peça (...) mostra dez passos para uma pessoa se tornar estúpida e deixar de lado sua inteligência, a responsável pela dolorosa consciência da banalidade da vida”.
 
            De forma bem lúdica e muito bem-humorada, passando ao largo de uma linguagem realista, a peça mostra a saga de um anti-herói, ANTÔNIO, 25 anos, contrário às normas e imposições sociais que controlam a maioria dos cidadãos, com pensamentos delirantes, à primeira vista, mas que levam o público a rir, sem entender por que o faz, o qual toma a “inaceitável” (pela sociedade) decisão de abdicar de sua inteligência, para se igualar à massa humana, por meio de um processo de autoidioismo.
 
            Vários são os motivos que me despertam o interesse em rever a peça, sem que haja um em especial.
 
 
Personagem enxerga a sua própria inteligência como um perigo iminente (Foto: Divulgação/Desireé do Valle)
 
 
            Gosto muito do texto, da ideia do texto, da adaptação dramatúrgica de PEDRO KOSOVSKI. Não conheço o livro, mas já estou à procura dele. Não para avaliar a roupagem teatral, à qual não faço restrições, compará-la com o original, que tal não é o meu propósito. Quero apenas ler o livro, que deve ser muito interessante (Aceito empréstimo.).
 
            Agrada-me a ideia de PEDRO, ao utilizar um humor ácido e sarcástico, por meio de elementos contemporâneos, do dia a dia universal e da realidade brasileira (excelentes críticas), muitos bem próximos ao público mais jovem (cultura “pop”), o que, provavelmente, não estão no livro de PAGE, mas que colaboram para que o texto, escrito em 2001, se torne bastante atual e seja o seu conteúdo assimilado com a mesma velocidade como nos informamos, pelas redes sociais, de tanta “cultura inútil”, o que acaba por nos tornar, também, de certa forma, a cada dia, mais "estúpidos", padronizados, a não ser que façamos um caminho oposto ao do protagonista.
 
            Apesar de, como já disse, não ter lido o livro, parece-me, salvo engano, que o prólogo, na peça, é uma criação de PEDRO KOSOKSKI, durante o qual os quatro atores, ainda sem personagens definidos, dirigem-se à plateia, falando sobre coisas do mundo contemporâneo, tendo, como ponto de partida, uma campanha publicitária de uma marca de roupa (Diesel), em que se vendia a ideia de que “ser estúpido é ser bacana”, por meio de um “slogan”: “BE STUPID”. Algo como “os inteligentes não criam, os estúpidos fazem melhor”. É, realmente, a inversão dos valores e isso não é ficção; aconteceu de verdade.
 
Logo após esse prólogo, os quatro atores assumem seus personagens, iniciando-se, propriamente, a peça, durante a qual há uma mistura de narrativa com ação dramática, por meio de diálogos.
 
            É assaz interessante acompanhar os passos que o protagonista dá, em sua saga, completamente deslocado e desajustado, na busca de soluções, nada convencionais, para resolver o seu “problema”, desde tentar se tornar um alcoólatra, passando por um “curso para suicidas”, numa entidade chamada “S.P.T.P.T.M, Suicídio Para Todos e Por Todos os Meios”, onde aprende, com uma “professora de suicídio”, técnicas para tal prática, chegando, até, a procurar um médico, na verdade, seu antigo pediatra, com a intenção de se submeter a uma cirurgia, para retirar uma parte do cérebro, uma “semilobotomia”. Em todas as tentativas, porém, não foi bem-sucedido.

 
 
 
Trata-se de um texto do qual transbordam situações bizarras, inusitadas e absurdas, numa linha muito próxima ao surrealismo. Talvez possa ser considerado uma heresia, dizer que, em determinadas cenas, pode-se reconhecer um pouco do universo beckttiano, guardadas as devidíssimas proporções.
 
            A linguagem do texto adaptado é dinâmica, combinando com o também dinamismo empregado por SÉRIGO MÓDENA na direção, com trocas de ações feitas muito rapidamente, para garantir o bom ritmo do espetáculo, o tempo exigido pela comédia. A opção por um mesmo ator representar vários personagens não é apenas uma solução para diminuir o custo da produção, mas uma boa maneira de proporcionar, aos atores, a oportunidade de mostrar a sua versatilidade na arte de interpretar, o que, aliás, à exceção de ALEXANDRE BARROS, que faz, muito bem, diga-se de passagem, um único personagem, os outros três do elenco, com muita propriedade e talento, se desdobram em vários.
 
            A movimentação dos atores, em cena, corre paralelamente às várias trocas de cenários, ou melhor, entrada e saída de elementos de cena, trocas feitas pelos próprios atores, formando ambientes diversos, por onde passa o protagonista.
 
            A direção soube tratar da temática, tão atual, da idiotização do ser humano, para que ele consiga se encaixar melhor, mais “confortavelmente”, no mundo de hoje, sem cair, a direção, no lugar-comum, explorando o talento e criatividade dos atores, nas suas caracterizações, de sorte que um simples gesto, como acrescentar uma peça ao figurino ou usá-la de forma “diferente”, característicos movimentos manuais e pequenas expressões corporais e mudanças de voz bastam para que se perceba o final da ação de um personagem e o início da presença de outro, em cena, no mesmo ator.
 
 
O elenco e o diretor (Sérgio Módena).
 
 
Gosto muito, também, de um efeito, desprovido de qualquer novidade, mas que funciona bastante, quando bem utilizado, como neste espetáculo, de um personagem dirigir-se, diretamente, ao público, para alguma informação ou comentário crítico, criando uma espécie de cumplicidade, uma interação palco/assistência.
         
Este trabalho é mais um excelente resultado no currículo de SÉRGIO MÓDENA, que, nos últimos dois ou três anos, assinou a direção de alguns dos melhores espetáculos que estiveram em cartaz, como “O Último Lutador”, “Ricardo III”, “A Arte da Comédia” e “As Mimosas da Praça Tiradentes”, por exemplo.
 
Quanto ao elenco, notei um equilíbrio total na atuação dos quatro atores. Ainda que, tecnicamente classificando o texto, haja a presença de um protagonista, que, regra geral, é o ator que se destaca, aqui, distribuo a mesma intensidade de foco aos quatro, pelos excelentes trabalhos, individuais e em conjunto. Todos representam com muita naturalidade e parece que se divertem bastante, enquanto trabalham. Todos põem em evidência sua veia cômica, sem exageros, porque o texto não é “escrachado”.
 
Lembro-me mais de ter visto ALEXANDRE BARROS representando papéis mais sérios, ou em espetáculos infantis, sempre com bom desempenho, porém descobri, no ator, um jeito muito especial e particular de fazer rir. Parece ter sido talhado para o personagem, por seu “physique du rôle” e por um lado cômico que eu não conhecia. Ótimo trabalho!
 
 
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Alexandre Barros, em primeiro plano, na hilária cena do hospital.
 
 
O personagem ALFREDO, ou AL, vivido por MARINO ROCHA, me fez dar boas gargalhadas, com seus eufemismos, assim como quando recitava trechos de poesias de Olavo Bilac. MARINO é um ator versátil, que defende, com correção, todos os vários personagens que representa na peça.
 
 
Marino Rocha, de pé, num de seus vários personagens.
 
 
RODRIGO FAGUNDES, bem diferente do que o grande público está acostumado a ver na TV, geralmente fazendo personagens caricatos, em humorísticos globais, é um grande ator cômico e, a meu juízo, como a “professora de suicídio”, tem um de seus melhores momentos na peça. É claro que atrai a atenção da plateia em todas as cenas de que participa.
 
 

Rodrigo Fagundes, em destaque, dando “aula de suicídio”.
 
 
Uma cena que leva o público a rir bastante é da consulta ao pediatra, onde se destaca bastante GUSTAVO WABNER, como a pequena CAROLINE, que é subornada, por ANTÔNIO, com pequenas e ridículas “recompensas” (dois Kit Kats e vinte pacotes de figurinhas das princesas Disney), para se fazer passar pela cliente do médico. Aliás, todos os envolvidos nesta cena estão ótimos.
 
 
 
Prazer! Gustavo Wabner! Mas pode me chamar de Caroline!
 
 
            Muitas vezes, é pela simplicidade, com bom gosto e inteligência, que se alcança a boa qualidade, comentário que se aplica ao cenário da peça, de SÉRGIO MÓDENA e CARLOS AUGUSTO CAMPOS, limitado a um sebo (cena inicial), onde, a rigor, há muitos livros, raros e preciosos, que podem assumir um signo de poder: o poder do saber, da cultura, do conhecimento (de ANTÔNIO, no caso).
 
São apenas quatro estantes, que vão assumindo várias configurações, de acordo com o ambiente em que se passam as demais cenas, sempre posicionadas pelos atores. A essa base cenográfica, vão sendo acrescidas algumas peças, na dependência de cada ambiente novo, como um bar, a sala onde funciona o “S.P.T.P.T.M”, um hospital, o consultório do pediatra...
 
 
Pensamentos e reflexões.
 
 
Os figurinos, de FLÁVIO SOUZA, são bem modernos, esportivos e na linha “casual”, de muito bom gosto, todos, salvo engano, de uma famosa grife. Agregam, aos personagens, um tom jovial e descontraído.
 
 
 A peça é baseada na obra do autor francês Martin Page
E agora, Antônio?!
 
 
A iluminação, de FERNANDA e TIAGO MANTOVANI, assim como a trilha sonora, de MARCELO ALONSO NEVES também contribuem bastante para o sucesso da peça.
 
            Por mais estranho e paradoxal que possa parecer – e a partir disso é que se provoca o riso, consciente ou inconsequente - a peça trata de algo que não seria motivo para se rir, que é a perda da individualidade, numa sociedade de consumo, mal estruturada e falida, na qual ser estúpido e não refletir sobre as decisões, não ter personalidade, é um pré-requisito, ou requisito, indispensável, para que um indivíduo possa ser aceito pelo outro, ainda que tenha de abrir mão de sua felicidade.
 
ANTÔNIO SOU EU, É VOCÊ... SOMOS TODOS ANTÔNIO!
 
Se eu tivesse de definir o espetáculo num só adjetivo, este seria “divertido”. Correria, porém, o risco de ser mal interpretado pelos que me leem. Poderia soar como algo de menor valor, o que não corresponde à verdade. “Divertido”, aqui não é um adjetivo de menor força significativa. Não se trata de uma comédia “digestiva”. Existe humor “estúpido” e humor inteligente, sobre a estupidez. É sobre este que se aplica o adjetivo, valorizado pela excelente direção, de SÉRGIO MÓDENA e pelas brilhantes atuações do quarteto de atores.
 
 
 
 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: MARTIN PAGE (autor do livro)
Dramaturgia (Livre Adaptação): PEDRO KOSOVSKI
 
Elenco (por ordem alfabética): ALEXANDRE BARROS, GUSTAVO WABNER, MARINO ROCHA e RODRIGO FAGUNDES
 
Direção: SÉRGIO MÓDENA
Iluminação: FERNANDA e TIAGO MANTOVANI
Cenário: SÉRGIO MÓDENA e CARLOS AUGUSTO CAMPOS
Figurinos: FLÁVIO SOUZA
Trilha Sonora: MARCELO ALONSO NEVES
Projeto Gráfico: GUSTAVO WABNER
Fotos: DESIRÉE DO VALLE
Registro Audiovisual: EDUARDO CHAMON
Assessoria de Imprensa: DUETTO COMUNICAÇÃO
Cenotécnico: ARTICULAÇÃO CENOGRAFIA
Assistente de Produção: TAIANA STORK e PEDRO PEDRUZZI
Direção de Produção: ANA PAULA ABREU e RENATA BLASI
Produção: DIÁLOGO DA ARTE PRODUÇÕES CULTURAIS
Produtores Associados: ALEXANDRE BARROS, GUSTAVO WABNER, MARINO ROCHA e SÉRGIO MÓDENA
Idealização: ALEXANDRE BARROS, GUSTAVO WABNER, MARINO ROCHA, SÉRGIO MÓDENA E PABLO SANÁBIO
 
 
 
 
Da esquerda para a direita, Rodrigo, Gustavo, Alexandre e Marino.
 
 
 
 
SERVIÇO:
 
Temporada de reestreia: De 07 de abril a 29 de maio de 2016.
Local: Teatro Clara Nunes – Shopping da Gávea – Rua Marquês de São Vicente, 52 – Gávea – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2274-9696.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h;  domingo, às 20h.
Horário de Funcionamento da Bilheteria: Das 13h às 20h.
Lotação: 435 lugares.
Classificação Etária: Não recomendado para menores de 14 anos.
Duração: 80 minutos
Gênero: Comédia
Valor do Ingressos: R$70,00 (inteira) e R$35,00 (meia-entrada).
 
 
 
 
           
Para terminar, apenas vou enumerar os dez passos para se tornar um estúpido, segundo a peça, com algumas frases, do texto, relacionadas a alguns deles:
 
1º PASSO: Be Stupid!
Inteligentes dizem não, estúpidos dizem sim.
Seja estúpido! Inteligentes têm cérebro.
Seja estúpido! Inteligentes planejam, estúpidos improvisam.
Inteligentes têm respostas, estúpidos têm sempre perguntas interessantes.
A inteligência é um erro da evolução.
Inteligentes dizem não, estúpidos dizem sim.
Na escola, ser inteligente é um insulto. Eu era alvo de “bullying” e toda espécie de assédio, como se fosse detentor de uma doença contagiosa. Meus professores me puniam, dizendo que eu estava adiantado demais, e meus colegas me massacravam, exigindo colas e cópias de deveres de casa.
Inteligentes escutam a cabeça, estúpidos escutam o coração.
Inteligentes têm uma única boa ideia, e essa ideia é estúpida.
Inteligentes criticam, estúpidos criam.
Inteligentes veem o que é isso, estúpidos veem o que isso pode ser.
A inteligência é uma doença. Uma doença que somos obrigados a consumir, do maternal ao pré-vestibular; da universidade às especializações, às extensões e MBAs.
 
2º PASSO: Reúna os amigos e torne pública a sua decisão.
Eu decidi me tornar estúpido!
Eu sofro de uma grave doença: inteligência. Tenho vinte e poucos anos e sinto aproximar de mim o perigo do cinismo, da amargura e da infinita tristeza. Sou pobre, solteiro e depressivo. Minha inteligência não se aplica a nenhum uso prático. Não me trará dinheiro, nem mulheres, carros, cargos de chefia e, muito menos, felicidade. Eu não consigo deter o meu cérebro, diminuir seu ritmo. Entendem? Há meses estabeleci a relação entre a minha infelicidade e a incontinência de minha razão: pensar, tentar compreender, ter consciência do mundo, nunca me trouxe nenhum benefício, mas, ao contrário, sempre atuou contra mim. Eu desejo a alienação. Apaixonar-me pelo cotidiano, ter fé na política, vestir roupas da moda, me emocionar com o grito de gol do Galvão Bueno, sonhar com o carro do ano, dar boa noite pro William Bonner. Não suporto mais ser diferente. Ambiciono a normalidade estupidificante da vida. Quero ser igual – igualzinho!  – a todo mundo.
 
3º PASSO: Mantenha-se firme, passe por cima de todos e persiga, obstinadamente, sua meta.
Era isso! Como não tinha nenhuma experiência nesse domínio e não queria perder preciosos anos de morte, tentando me matar sem sucesso, fui ao endereço indicado no panfleto. Era um velho edifício, aqui no centro da cidade: “S.P.T.P.T.M, Suicidio Para todos e Por Todos os Meios”,  associação fundada em 1742. As paredes da sala eram cobertas de retratos e fotos de suicidas célebres: Santos Dumont, Gilles Deleuze, Assis Valente, Virgínia Woolf, Sylvia Plath, Ana Cristina César, Hemingway... Lá, estavam presentes umas trinta pessoas, entre velhos, jovens, de todas as classes socais. Um quarteto de cordas tocava uma peça de Schubert e uma mulher, vestida de “smoking” preto, parecia ser a responsável.
 
4º PASSO – Aceite a ajuda sobrenatural dos fármacos. Afinal, Deus é química.
 
5º PASSO: Livre-se dos livros ou quaisquer obras que inspirem inteligência.
 
6º PASSO: Repita, para si mesmo: Eu mereço. Eu aconteço. Eu sou feliz.
7º PASSO: Louvarás o seu único Senhor: o dinheiro!
8º PASSO: Despreze os que estão abaixo e ame os que estão acima.
 
9º PASSO: Parabéns! Você se tornou estúpido!
 
10º passo: Uma vez estúpido...
 
 
 
 
 
(FOTOS: DESIRÉE DO VALLE)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

2 comentários:

  1. Eles realmente fizeram uma adaptação primorosa do livro. Digo mais: após ter assistido à montagem no Ginástico, fiz questão de levar uma amiga no Clara Nunes. E ali, confesso, nos três segundos que antecediam à peça, prendi a respiração. Em um instante previ o risco. Passaram rápido na minha mente o conteúdo do livro, e mais, muito mais, a adaptação que eles fizeram. A apresentação no Shopping da Gávea? Como profissional de marketing, senti no estomago o peso que isso poderia ter. Coragem, eu digo agora. Eles foram muito corajosos. E... Ufa! Mais uma vez, vitoriosos. Parabéns!

    OBS: sua crítica é muito boa, mas podia contar muito menos o roteiro...

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  2. Eles realmente fizeram uma adaptação primorosa do livro. Digo mais: após ter assistido à montagem no Ginástico, fiz questão de levar uma amiga no Clara Nunes. E ali, confesso, nos três segundos que antecediam à peça, prendi a respiração. Em um instante previ o risco. Passaram rápido na minha mente o conteúdo do livro, e mais, muito mais, a adaptação que eles fizeram. A apresentação no Shopping da Gávea? Como profissional de marketing, senti no estomago o peso que isso poderia ter. Coragem, eu digo agora. Eles foram muito corajosos. E... Ufa! Mais uma vez, vitoriosos. Parabéns!

    OBS: sua crítica é muito boa, mas podia contar muito menos o roteiro...

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