quarta-feira, 15 de junho de 2016


LOVE STORY

– O MUSICAL

 

 

(“AMAR É NUNCA TER DE PEDIR PERDÃO”.)

 

OU NÃO?

 

NÃO!!!)

 

 

Macintosh HD:Users:meise:Desktop:LOVE STORY:b love story logo.jpg

 

 


 

 

            Em 1970, o mundo quase se desidratou, de tanto chorar, com a história de amor entre um casal, sem final feliz. Era um filme, baseado num romance, chamado “Love Story”, traduzido, no Brasil, para “Uma História de Amor”, dirigido por Arthur Hiller, com roteiro de Reich Segal, estrelado por Ali MacGraw e Ryan O’Neal.

 

            A essência do enredo do filme era muito simples e bem pouco original: Um jovem, Oliver Barrett IV, de família muito rica e estudante de Direito, conhece uma estudante de Música, Jennifer Cavalleri, apaixona-se por ela e acabam se casando. O pai do rapaz, Oliver Barrett III, porém, não aceita a nora, por ela ser uma moça de família humilde, e acaba deserdando o filho. Algum tempo depois, a moça tenta engravidar e não consegue. Procura, então, um médico, para fazer alguns exames, e descobre que está gravemente doente, com pouco tempo de vida, acabando em óbito.

 

 

 


 

Cartaz do filme.

 

 

            Piegas, cafona, sentimentaloide ou outra qualquer qualificação negativa que lhe queiram dar, mas o fato é que o filme se tornou um fenômeno de bilheteria, no mundo inteiro, e o motivo é um só: o amor e a comiseração são duas molas, interligadas, que movem o universo humano. Mais ou menos, de uma forma ou de outra, todos sabemos que “qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor vale amar”, que todos, ao seu jeito, amam e que é, indiscutivelmente, sabido que se trata do maior e mais profundo sentimento entre iguais. E, quando há amor, não importa a forma como ele se nos apresenta, a comiseração está presente. Quem ama tem pena do sofrer do/a parceiro/a. Pena, não como aquele sentimento pequeno, que nos leva a achar até indigno da raça humana. “Não se deve ter pena de ninguém”. Falo da piedade, da compaixão, daquilo que faz um sofrer pelo outro, querer estar em seu lugar, desejar, para si, a dor alheia, quando quem sofre é o ser amado. É disso que falo.

 


 


 

Tudo começou aqui.

 


           

Quarenta anos depois, em 2010, aquela que foi considerada, pelo American Film Institute, uma das mais emblemáticas histórias de amor de todos os tempos (Não sei em que posição ficou “Ghost – Do Outro Lado da vida”.), ganhou uma versão musical, na Inglaterra, escrita por Stephen Clark (texto e letras), com música e letras de Howard Goodall. O espetáculo teve sua primeira temporada no Chichester Festival Theatre, em Sussex, Inglaterra, e recebeu críticas tão entusiasmadas, que, ainda em 2010, estreou no West End de Londres, no Duchess Theatre, quando recebeu três indicações para o Prêmio Laurence Olivier. O espetáculo ganhou turnês na Holanda e na Rússia (2013-2014), com produções locais. Nos Estados Unidos, teve uma montagem na Filadélfia, em 2012.

 

 



 

 


Agora, depois da explosão do filme e do bem-sucedido caminho percorrido, em apenas seis anos, pela peça, temos a oportunidade de assistir a “LOVE STORY – O MUSICAL”, num palco de TEATRO, no Rio de Janeiro, em cartaz, até o dia 31 de julho (2016), no Centro Cultural João Nogueira, mais conhecido como Imperator, no Méier, bairro da zona norte carioca, anunciado, numa ótima jogada de “marketing”,  como “um espetáculo que não vem da Broadway”, isso pelo fato, já citado, de ter sua origem em Londres.

 

            Trata-se da primeira montagem do musical na América Latina, tendo sido vertido, para o nosso idioma, por ARTUR XEXÉO, com direção de TADEU AGUIAR e assistência de FLÁVIA RINALDI, direção musical de LILIANE SECCO e com um elenco de 11 atores e sete músicos.

 

 

 


 

 


 

 


 

 

 

            Um grande diferencial do espetáculo, em termos de “novidade”, e que vem sendo motivo de muitos comentários, favoráveis, como não poderia deixar de ser, é o fato de todos os atores serem negros. Aqui, já vou deixando bem claro que me recuso a utilizar o termo “afrodescendente”, que considero tão ridículo quanto chamar “favela” de “comunidade”, “cego” de “deficiente visual”, e outras tantas bobagens, depois que inventaram o abominável “politicamente correto”. Seria tão “ofensivo” falar “negro” quanto “branco”, e não estou aqui para perder tempo com inutilidades, futilidades linguísticas.

 

 

 

a

 

 

 

            Por oportuno, gostaria de “justificar”, sem que nem houvesse necessidade para isso, a brilhante ideia da direção em se decidir por ter, em cena, apenas atores negros. Um amigo de TADEU AGUIAR telefonou-lhe, quando soube que ele estava para montar mais um de seus espetáculos, sempre grandes sucessos, perguntando-lhe se não haveria um papel para um seu amigo. Recebeu, como resposta, a orientação de que o rapaz ficasse atento aos testes e lá comparecesse, para ser submetido ao crivo dos que selecionariam o elenco. Na ponta da linha, o outro completou: “Mas há um problema: ele é negro”. Claro que não havia, ali, nenhum tipo de “problema”, menos ainda de discriminação, por parte do amigo de TADEU; nada além da constatação de que, infelizmente, há poucos papéis para atores negros, no Brasil. TADEU AGUIAR respondeu-lhe que não havia qualquer problema, nada que impedisse o rapaz de tentar um papel na peça.

 

 

 


 

 

 

            Deflagrado o processo de seleção, durante a primeira fase do qual a produção recebe currículos e fotos dos candidatos, o diretor observou, após o encerramento das inscrições, que 70% dos melhores currículos eram de atores negros, momento em que teve um “insight” e decidiu que todos os personagens seriam interpretados por atores daquela etnia, partindo do princípio básico de que o amor não tem cor e de que os autores da peça não tinham definido que os atores deveriam ser desta ou daquela raça. Se o espetáculo não fosse bom, não levasse o selo de qualidade das produções de TADEU AGUIAR e EDUARDO BAKR, creio que, só por tal iniciativa, já seria merecedor dos nossos aplausos. Dos meus, com toda a certeza! Mas, além de tudo, é um ótimo espetáculo!!!

 

            Quase repetindo a do filme, visto que a versão para os palcos seguiu, praticamente, a das telas (digo “praticamente”, porque não vi o filme e, portanto, não posso afirmar), eis a sinopse, bem enxuta, da peça:

 

 

 


 

 

 

 
SINOPSE:
 
OLIVER BARRETT IV (FÁBIO VENTURA) estuda Direito, em Harvard, e JENNIFER CAVILLERI (KACAU GOMES) é estudante de Música, em Radcliffe, uma universidade menos cotada do que a dele.
 
Ele é riquíssimo e ela é pobre. Ele pratica esportes e ela toca piano. Mas se apaixonam perdidamente.
 
A família do rapaz, principalmente o pai, OLIVER BARRETT III (RONNIE MARRUDA) condena a união.
 
Mesmo deserdado, OLLIE se casa com JENNY, vivem felizes, até que uma descoberta muda, radicalmente, seus destinos.
 

 

 

 


 

 

 

            Não estaria eu sendo sincero, se dissesse que “LOVE STORY – O MUSICAL” é uma obra-prima, o melhor trabalho de TADEU AGUIAR, como diretor. Seu nome sempre estará ligado aos magníficos Quatro Faces do Amor”, Quase Normal” e “Ou Tudo Ou Nada”, todos, indiscutivelmente, de qualidade superior à produção em pauta, no meu entender, os quais já lhe renderam um lugar de destaque entre os grandes diretores de musicais, sem falar de outros, dos quais participou, como ator e/ou produtor, como é o caso de “Esta É A Nossa Canção”, “Baby – O Musical”, “Era No Tempo Do Rei”, “My Fair Lady” e “Bilac Vê Estrelas”.

 

            Da mesma forma estaria sendo injusto, se não reconhecesse que se trata de um ótimo espetáculo, produzido, ainda que sob muito sacrifício, com míseros patrocínios, imbuído de muito empenho e cercado de excelentes profissionais, o que gerou um trabalho digno de recomendação.

 

 

 


 

 

 

Costuma-se utilizar o termo “água-com-açúcar” de forma quase pejorativa, entretanto não se pode esquecer que o açúcar é doce e que esse detalhe “gustativo” é, sempre agradável. Portanto, que fique claro que o “água-com-açúcar” me agrada muito, desde que o açúcar não seja adicionado em dose excessiva. Neste musical, a dosagem é perfeita.

 

 

 

 

FICHA TÉCNICA (resumida), acrescida de comentários:
 
            Nem tanto pelo texto, na sua essência, de STEPHEN CLARK (texto e letras), com música e letras de HOWARD GOODALL, ainda que muito bem traduzido por ARTUR XEXÉO, agradou-me, sobremaneira, o musical por vários motivos:
 
            1) A direção firme e criativa de TADEU AGUIAR, dosando a mão no açúcar e fazendo com que uma história fora dos nossos padrões culturais, latinos, brasileiros, por excelência, pudesse se vestir de verde e amarelo, atingindo o público brasleiro. Gosto muito da constante movimentação dos elementos do cenário, o que concede à peça um grande e agradável dinamismo (as cenas são curtas e muito bem ligadas umas às outras), assim como de algumas cenas, em especial, como a do jantar de apresentação da namorada à família do rapaz e a cena final, sobre a qual não farei comentários, para não tirar a surpresa da última imagem da protagonista. Só posso adiantar que a morte é apresentada “pra cima”, como o início, talvez, de uma outra vida.
 

 
 


 
 

            2) O bom rendimento do elenco, com destaque para o casal protagonista, KACAU GOMES e FÁBIO VENTURA, numa bela simbiose, poucas vezes desenvolvidas num palco. Além deles, SÉRGIO MENEZES (PHIL CAVALLERI, um italiano, dono de uma padaria, pai de JENNIFER), RONNIE MARRUDA e FLÁVIA SANTANA (os pais de OLIVER), e mais ESTER FREITAS, RAFAELA FERNANDES, SUZANA SANTANA (quase sem texto, porém interpretando muito, sem verbalizar), RAÍ VALADÃO, EMÍLIO FARIAS e CAIO GIOVANI.
 
 


 
 
 
FÁBIO, infelizmente, andava afastado dos palcos, porém retorna a todo vapor, interpretando um personagem que, por trás de uma índole pacífica e romântica, esconde um leão feroz, quando tem de enfrentar a intransigência do pai, lutando por seu amor e por sua felicidade, chegando a abrir mão de ser o herdeiro de uma fortuna. Além de seu bom trabalho de ator, é dono de uma voz belíssima, que valoriza todas as canções de cuja interpretação participa, seja em solos, seja em duetos com KACAU.
 
 

 
Fábio Ventura.
 
 
Com o devido respeito e pedido de desculpas aos demais elementos do elenco, mas KACAU GOMES é, sem dúvida alguma, o nome do espetáculo, uma unanimidade. Mais cedo ou mais arde, a hora de cada um chega. A hora de brilhar. A hora de ter seu talento reconhecido por todos. Não é de hoje que, por sua voz, KACAU GOMES é elogiada, desde os tempos em que atuava como “back vocal” para alguns cantores de sucesso. Depois que se decidiu pelo TEATRO, mais propriamente, pelos musicais, tornou-se uma das nossas mais disputadas e requisitadas cantrizes. Brilhou em muitos espetáculos, com destaque para “Beatles Num Céu De Diamantes”, quando era ovacionada, em cena aberta, e que a fez conhecida e admirada por uma legião de seguidores. À voz, afinadíssima, de um alcance quase infinito, somou-se um talento de atriz, que foi sendo forjado aos poucos, até atingir o nível de uma protagonista. Uma grande protagonista. Uma inesquecível protagonista. A sua hora chegou, KACAU! Paradoxalmente, a personagem, a quem caberá o “ônus” da morte, apresenta uma vivacidade, um ótimo senso de humor, uma vontade de viver, um astral tão elevado...
 
 

 
Kacau...
 
 
 
...Gomes.
 
 
3) As canções, de uma maneira geral, são muito bonitas, do ponto de vista melódico, e receberam um bom tratamento, em termos de letras, por parte de XEXÉO. Ganham, ainda, maior destaque pela interpretação dos atores/cantores e pelo brilhante acompanhamento de uma pequena e magnífica orquestra de cordas, formada por ANDRÉ AMARAL (piano), ANDERSON PEQUENO (violino), FÁBIO PEIXOTO (violino), ANDRÉ DANTAS (violão), MATHEUS PEREIRA (violoncelo), LEANDRO VASQUES (contrabaixo) e STOYAN GOMIDE (viola), todos sob o comando de LILIANE SECCO, sempre competente, na direção musical.
 
4) Fiquei encantado com o cenário, de EDWARD MONTEIRO, que causa belíssimos efeitos, valorizado pelo ótimo desenho de luz do mestre AURÉLIO DE SIMONI.
 
5) NEY MADEIRA e DANI VIDAL assinam os figurinos, bem de acordo com os personagens, a época e o local em que se passa a trama.  
 
6) O espetáculo também é valorizado pela coreografia, de ALAN RESENDE, que não existe em grande quantidade, para os padrões de um musical, porém é compensada pela qualidade.
 
 
 
 
 
7) GABRIEL D’ÂNGELO, no desenho de som, caprichou no seu trabalho, para que o público possa ouvir, distintamente, as falas e as letras das canções, tudo muito bem distribuído naquele imenso espaço do Imperator. Excelente a qualidade do som!
 
8) Não podem ser esquecidos dois nomes, considerados os dois braços de TADEU AGUIAR, há anos, em todas as suas montagens: NORMA THIRÉ, na coordenação de produção e EDUARDO BAKR, na produção geral.
 
            9) A produção é da Estamos Aqui Produções Artísticas.
 


 

 

 


 

 

 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 10 de junho até 31 de julho (2016).
Local: Centro Cultural João Nogueira – Imperator.
Endereço: Rua Dias da Cruz, 170 - Méier – RJ.
Telefone: (21) 2597 3897.
Capacidade: 642 pessoas.
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 21h; domingo, às 19h.
Valor do Ingresso: R$60,00. (Meia-entrada para os que, legalmente, fazem jus a ela.).
Duração do Espetáculo: 100 minutos.
Classificação Etária: 10 anos. 10 anos
 
www.imperator.art.br
 

 

 

 

RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO!!!

 

 

 


 

Amor!!!

 

 

 

 

(FOTOS: GUSTAVO BAKR.)

 

 

 

 

(FOTOS PARTICULARES, FEITAS, NA SESSÃO DE ESTREIA, POR MARISA SÁ.)

 

 


 

 


 

 

2 comentários: