domingo, 4 de setembro de 2016


TÃOTÃO

 

(TÃO BOM!

TÃO CRIATIVO!

TÃO INTELIGENTE!

TÃO MARIA CLARA MACHADO!
 
TÃO PEDRO KOSOVSKI!

TÃO CACÁ MOURTHÉ!

TÃOTÃO!

TÃO...!)


 

 


            TÃO = advérbio indicador de grau de intensidade.

            Apesar de ser empregado em comparações (tão...como, quanto), todo adjetivo precedido por ele se reveste de um valor superlativo. Não poderia ser outro o título deste excelente espetáculo infantil, que, de início, já recomendo, com muito empenho.

 
 
 
            Uma peça infantil deve, em primeiro lugar, agradar ao seu público-alvo, as crianças, obviamente, para que elas se interessem, cada vez mais, por essa atividade cultural e venham a ser as futuras plateias nos “teatros para adultos”. Mas é importante, também, que cative os pais e outros acompanhantes, a “gente grande”, para que estes também se divirtam e que lhes possa servir de estímulo, para levar suas crianças, mais e mais vezes, ao TEATRO.

            “TÃOTÃO” presta-se a isso. Não há quem assista ao espetáculo e não goste dele, sejam os pequenos, sejam os adultos.
 

 


            Para mim, apesar de não ser cria de O TABLADO, cruzar aquele portão me causa uma grande emoção, todas as vezes que posso assistir a algum espetáculo lá. Não consigo explicar o motivo, mas algo me toca bem dentro da alma, como se, em vidas passadas eu lá vivesse, o que não é o caso, pois O TABLADO é um ano mais novo que eu.

            Neste ano de 2016, aquele “templo do TEATRO”, de onde saíram alguns dos maiores talentos do Teatro Brasileiro, comemora 65 anos e, pela primeira vez, desde sua fundação, recebe, em seu palco, um espetáculo infantil de outro autor que não da sua fundadora MARIA CLARA MACHADO, um nome que ocupa todas as galerias dos gênios do TEATRO, um nome para ser reverenciado “ad aeternum”, por sua incomensurável contribuição para o nosso TEATRO, em especial, o infantil.


 


            “TÃOTÃO” deve ter sido concebido muito pela ação do DNA: o O TABLADO foi fundado por MARIA CLARA MACHADO e, após sua morte, passou a ser dirigido e administrado por CACÁ MOURTHÉ (e seus colaboradores), sua sobrinha e diretora do espetáculo, escrito por PEDRO KOSOVSKI, filho de CACÁ e, por consequência, sobrinho-neto de CLARA. Tudo em família. E que família!!!  


 



 
SINOPSE:
O espetáculo, baseado no mito de Narciso, conta a história do menino TÃOTÃO, interpretado por RODRIGO TRINDADE, que passa grande parte do dia brincando, sozinho, no seu quarto, em frente ao espelho.
 
O que TÃOTÃO vê refletido é um verdadeiro mundo mágico, um teatro da imaginação.
 
Diante do espelho, ele brinca e se diverte com seus amigos imaginários, que compõem a LIGA DOS SUPER-EUS: HIPER-EU (JOÃO SANT'ANNA), um menino um tanto hiperativo; EU IDEAL (VICTOR MELLO), o menino que gosta de fazer tudo certinho; EU BEBÊ (JOANA CASTRO), uma criancinha doce e indefesa; ELA EU (MANUELA LLERENA), a menina do grupo; e NÃO EU (VINICIUS MAIA), aquele que é sempre do contra.
 
Um dia, TÃOTÃO recebe a visita surpresa de sua amiga TINA (JÚLIA STOCKLER), que aparece sem avisar e acaba descobrindo por que TÃOTÃO nunca sai de casa: ele fala e brinca com o espelho.
 
TINA começa a provocar o amigo, quando, por acidente, eles caem sobre o espelho, que se quebra e os puxa para dentro.
 
Lá, num mundo estranho e cheio de mistérios, TÃOTÃO reencontra seus amigos imaginários, mas, para sua surpresa, descobre que todos estão presos no espelho. Eles são vítimas do vaidoso NARCISO (SAULO ARCOVERDE), que os transformou em meros reflexos do mundo real, criados para servi-lo.
 
TÃOTÃO e TINA, porém, ainda não foram transformados, definitivamente, em reflexos e têm uma chance de reverter a situação: eles contam com algumas poucas horas, até o amanhecer, para elaborar um plano e libertar o grupo do domínio de NARCISO e, finalmente, voltar para o mundo real.
 




 


            É a primeira vez que CACÁ dirige uma peça escrita por PEDRO, seu filho, um texto inédito e o primeiro que ele escreve para crianças. PEDRO, nos últimos anos, vem colecionando prêmios, por peças por ele escritas, tendo sido o ano de 2015 marcante, em sua carreira de dramaturgo, graças, principalmente, ao estrondoso sucesso de seu “Caranguejo Overdrive”, que jamais deveria sair de cartaz, por ser uma obra-prima. No momento em que escrevo esta crítica, PEDRO e seus (nossos) amigos de elenco, estão levando o "Caranguejo" para fora do Brasil, apresentando-se na Colômbia. 

Como diretora artística de O TABLADO, CACÁ vem promovendo importantes realizações durante os últimos quinze anos, em que se vê no leme do barco, destacando-se a retomada dos Cadernos de Teatro (Novos Cadernos de Teatro), uma revista de teatro, lançada em 1956, que completa 60 anos este ano. Particularmente, sou muito grato por essa iniciativa, já que colecionava esses “cadernos”, quando impressos, e me senti meio órfão, quando deixaram de circular. Comemorando a retomada da revista, em fase de pesquisa, a publicação ganhará novas edições, em plataforma digital, e teve todo o seu acervo digitalizado e disponibilizado, gratuitamente, para “download” no “site” de O TABLADO.
 
 
 
 
 

            De acordo com o “release”, enviado por JSPontes Comunicação (João e Stella) e pelo diretor de produção, Fernando do Val, O texto (...) tem como elemento chave o espelho’, esse multiplicador de imagens, que tanto pode remeter ao ato de se enxergar, como ao de se contemplar. A peça fala, ainda, sobre uma questão na ordem do dia: o quanto podemos ser hipnotizados pelas múltiplas imagens que nos chegam a todo momento e acabar vivendo isolados, em nossas pequenas ilhas, os celulares, ‘tablets’ e afins, ausentando-nos do mundo ao redor”

"Uma das coisas que me mobilizou neste trabalho foi a relação com a imaginação da criança, nesse mundo já com tanta imagem. O espelho é meio Iphone, meio Ipad, esse espelho que não reflete a gente, mas abre essas mil janelas. Estou com um filho pequeno e fico pensando como é esse mundo da imaginação, da ilusão, que é tão importante para a infância, como esse lugar ainda fica vivo dentro dessa avalanche de imagens.", diz PEDRO.

O texto da peça é lindo, escrito numa linguagem acessível às crianças, mesmo as mais novinhas, sem idiotizá-las, que é algo que muito me irrita, em algumas peças infantis. O autor coloca, na boca dos personagens, diálogos entre crianças perfeitamente normais, utilizando o humor, com ponderação, já que este é ingrediente necessário à receita de uma boa peça infantil (para adultos talbém), porém divertir, fazer rir, apenas, não é o objeto-fim de uma peça infantil. Há, nesse texto, dicas e muito ensinamento, que podem ser trabalhados e ampliados, depois, pelos pais, em sua lida cotridiana com as crianças.
 
 
 
 

Um dos detalhes mais interessante deste texto, na minha visão, se volta para os nomes dos personagens, para lá de adequados e significativos, principalmente os que representam os “alter egos” de TÃOTÃO. HIPER EU é o retrato da “superioridade”, do poder, que o menino pensa ter sobre os demais, o que não é característica só dele; ELA EU pareceu-me uma ideia, muito interessante, de fazer menção ao não-preconceito, referente à questão de “gênero”, que tantos problemas e discussões desperta, sendo a "porção mulher" do menino (“Um dia, vivi a ilusão de que ser homem bastaria” – Gilberto Gil, em “Super-Homem, a Canção”); EU BEBÊ pode servir para “justificar” as “bobagens” cometidas pelo protagonista, servindo de “desculpa” para elas, uma vez que bebês não têm discernimento sobre as coisas do seu mundo; EU IDEAL resume a “perfeição” procurada e que deveria haver em cada um de nós, sob todos os aspectos, principalmente aos olhos dos outros; NÃO EU é a rejeição aos defeitos, às imperfeições, aos erros pessoais, a todo o “mal feito”.

É excelente a direção de CACÁ MOURTHÉ, e nem se poderia esperar algo diferente, a julgar por seus brilhantes trabalhos em montagens anteriores.
 
 
 
 

Quanto ao elenco, de atores jovens e não ainda conhecidos do público de TEATRO, mesmo por mim, eu que sou considerado “rato-de-teatro”, só tenho a dizer que, de cara, se percebe que são formados naquela casa, pela disciplina e pelo talento em cena. Todos se apresentam homogeneamente, na criação de seus personagens, com um pequeno destaque para o protagonista, RODRIGO TRINDADE (TÃOTÃO) e JÚLIA STOCKLER (TINA), e para o antagonista, SAULO ARCOVERDE (NARCISO).

Além dos três nomes já citados, fazem, ainda, parte do elenco JOÃO SANT'ANNA, MANUELA LLERENA, JOANA CASTRO, VINICIUS MAIA e VICTOR MELLO, todos crias da casa, "como rege a tradição".

Há, ainda, em cena, já que trata de um musical, uma ótima banda, formada por quatro jovens e talentosos músicos: LEONARDO VALOR (teclado)VICENTE BARROSO (bateria)ENZO MASTRANGELO (guitarra)VINÍCIUS NESI (baixo).
 
 




Apesar de não ser uma superprodução, em termos de orçamento, o talento, a criatividade e o empenho de todos os envolvidos no projeto são responsáveis por um espetáculo corretíssimo, em todos os aspectos.

O cenário e os figurinos são assinados por LÍDIA KOSOVSKI e são dois elementos que causam impacto na peça.

Quanto ao cenário, a sua peça-chave, o espelho, “é apresentada em duas escalas: em tamanho natural, ao fundo do palco, e uma réplica gigante, que circunda a toda a boca de cena, transformando a caixa cênica neste mundo mágico, dentro do espelho. Em ambos, o jogo de luzes esconde ou revela cenas e personagens por trás do misterioso espelho. A sua moldura, como num objeto de estilo rococó, é coberta por múltiplas aplicações e entalhes – que, neste caso, são super-heróis, soldadinhos, carrinhos, aviõezinhos, formando um minucioso painel de ícones dos 'brinquedos de meninos'. Por sua riqueza de detalhes, a moldura foi carinhosamente batizada pela equipe de "moldura rocopop" (extraído do “release”). Fiquei muito bem impressionado com a ideia do cenário, assim como seu acabamento.

Os figurinos também chamam a atenção do espectador, de qualquer idade, pelo que apresentam de coloridos e lúdicos. E aqui, também, cabe um comentário à questão do acabamento das peças. Percebe-se que, além da genialidade da artista, na concepção dos trajes, há um rigor no acabamento das roupas, todas bastante adequadas à personalidade de cada um que as veste.
 
 


Quanto às músicas, especialmente compostas para a peça, por FELIPE STORINO (melodia) e PEDRO KOSOVSKI (letras), executadas, ao vivo, não se pode dizer nada menos do que lindas, de fácil apelo popular, levando as pessoas a saírem com partes delas na cabeça, terminado o espetáculo.

Interessantes e bem afins com a montagem são as coreografias, de BRUNO CEZÁRIO; a preparação vocal, de ISADORA MEDELLA; e a iluminação, de FELIPE LOURENÇO.

"TÃOTÃO" é um daqueles espetáculos infantis, voltados para toda a família e assistir a ele é um excelente programa para um final de semana.

Imperdível!


 

 

 

 
FICHA TÉCNICA:
 
TEXTO: Pedro Kosovski
DIREÇÃO: Cacá Mourthé
 
ELENCO / PERSONAGENS: Rodrigo Trindade: Tãotão, Júlia Stockler: Tina, Saulo Arcoverde: Narciso, João Sant'Anna: Hiper Eu, Manuela Llerena: Ela Eu, Joana Castro: Eu Bebê; Victor Mello: Eu Ideal, Vinícius Maia: Não Eu, Letícia Spiller: voz em ‘off’, mãe de Tãotão 
 
MÚSICOS: Leonardo Valor – teclado, Vicente Barroso – bateria, Enzo Mastrangelo – guitarra, Vinícius Nesi – baixo, Vítor Niskier – bateria (sub), Pablo Paleólogo – teclado (sub) 
CENÁRIO, FIGURINO E CONCEPÇÃO DE ADEREÇOS: Lídia Kosovski
MÚSICAS ORIGINAIS: Felipe Storino
LETRAS: Pedro Kosovski
DIREÇÃO MUSICAL: Pedro Nêgo
EFEITOS SONOROS: André Chalhoub
COREOGRAFIAS E LIMPEZA DE MOVIMENTO: Bruno Cezário
ILUMINAÇÃO: Felipe Lourenço
PREPARAÇÃO VOCAL: Isadora Medella
ADEREÇOS DE CENOGRAFIA, ‘LAYOUT’ E CONFECÇÃO DE MOLDURAS BARROCAS: Derô Martin e Alexandre Guimarães
VISAGISMO: Mona Magalhães
FOTOS: Jackeline Nigri
DESIGN: Maurício Grecco e Lygia Santiago 
ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO: Laura Araújo
ASSISTÊNCIA DE CENOGRAFIA E FIGURINO: Júlia Marina
SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE FIGURINO: Kika de Medina
ASSISTÊNCIA DE VISAGISMO: Júlia Bravo
CENOTÉCNICO E EQUIPE: Zé Maranhão, José Djavan, Paulo Fernandes e equipe
EQUIPE DE MONTAGEM DE LUZ: Gabriel Prieto, Leandro Alves, Maurício Cardoso
COSTUREIRAS: Maria de Jesus e Zezé Gomes
ALFAIATE: Macedo Leal
ADEREÇOS DE FIGURINO: Cláudia Taylor
CHAPÉUS: Denis Linhares
CONTRARREGRAS: Danilo Lobo, Felipe Zava, Luiz Madalena e Natan Rockenbach
OPERADOR DE LUZ: Gabriel Prieto
OPERADOR DE SOM: Luana Valentim
CAMAREIRA: Luiza Pignaton 
BILHETERIA: Luisa Marques
ADMINISTRAÇÃO: Mônica Nunes
CONTROLLER FINANCEIRO: Heloísa Lima
ASSISTÊNCIA ADMINISTRATIVA: Cristina Rocha
ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO: Kelson Succi
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Luana Manuel
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Fernando do Val
REALIZAÇÃO: M.C.M. MARIA CLARA MACHADO PRODUÇÕES ARTÍSTICAS LTDA. e O  T A B L A D O  65 anos
 



 



 
SERVIÇO:

TEMPORADA: De 11 de junho a 27 de novembro
LOCAL: Teatro O Tablado - Avenida Lineu de Paula Machado, 795 – Lagoa – Rio de Janeiro
DIAS e HORÁRIOS: sábados e domingos, às 17h
VALOR DOS INGRESSOS: R$40,00 e R$20,00 (meia entrada)
DURAÇÃO: 55 minutos
CAPACIDADE: 147 espectadores
HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DA BILHETERIA: sábados e domingos, das 15h às 17h30min
VENDAS ANTECIPADAS: www.ingresso.com
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: Livre e recomendada para a partir de 03 anos
 



 
 
 
 
 
 
 
 
(FOTOS: JACKELINE NIGRI)
 
 
 
 
 
 
 
 


 


 


 



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



 
 


 
 
 
 
 






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