terça-feira, 15 de novembro de 2016


A INVENÇÃO DO AMOR

 

 

(OS BONS TEMPOS
VOLTARAM.

ou

E VIVA O BESTEIROL
DE FRAQUE E CARTOLA!!!)

 
 

            Não é muito comum, já ao apagar das luzes de um ano, ocorrer estreias, principalmente de boas montagens. Contrariando a regra, tive o enorme prazer de fazer parte do grupo de felizes convidados para a estreia, na última 5ª feira, dia 10 de novembro (2016) de um espetáculo que promete ser uma das grandes sensações deste final de ano. Falo de “A INVENÇÃO DO AMOR”, que está em cartaz no Teatro do Leblon, Sala Marília Pêra, e que terá, ao que tudo indica, uma longa vida. E o melhor: com casa cheia.
 
            É claro que isso não ocorre e continuará ocorrendo por acaso. E o que justifica a boa reação do público, até agora, apenas nas quatro primeiras apresentações de uma temporada? A resposta é muito simples e pode ser condensada em duas palavras: talento e competência, não necessariamente nessa ordem. Isso é aplicado a uma comédia romântica, que não tem nenhuma outra pretensão, além de divertir o público, mostrando a evolução e os conflitos dos relacionamentos amorosos, da forma mais engraçada e inteligente possível, ingredientes que não podem faltar numa boa comédia.


 


Durante 75 minutos, que “voam”, como se fossem cinco, o público acompanha a relação amorosa de um Homo Sapiens com uma Mulher de Neandertal. Ele, por ter um cérebro privilegiado, vive às voltas com mil e uma invenções e, numa crise de ciúmes, para evitar que ela se relacione com outros machos, resolve inventar o amor. Sua nova invenção faz com que o casal pré-histórico se antecipe, no tempo, vivendo situações que marido e mulher só enfrentariam anos, décadas ou milênios mais tarde.

 
 

 

 
SINOPSE:
 
No início da história, o casal de protagonistas vive, confortavelmente, em sua caverna, na batalha diária pela sobrevivência do mundo selvagem, até que NHACA (MARIA CLARA GUEIROS), interrompendo uma caçada de mamutes, conta a CROC (GUILHERME PIVA) que está esperando filhote.
 
Ele, um neurótico homem das cavernas, percebe que não quer correr o risco de criar o filhote de outro homem e, na intenção de preservar a sua prole, resolve inventar o amor, com todas as suas condições limitadoras de relacionamento, inclusive a monogamia feminina. Até que NHACA comece a questionar a monogamia masculina!
 
Então, somos transportados para o castelo de Rei Salomão, que, entre esposas e concubinas, tem, à sua disposição, 1000 mulheres! NHACA entra em cena, como a esposa 462, e prova a CROC que o antigo Rei não tem condições, física ou mental, de manter tantas mulheres em seu harém.
 
De volta à Idade da Pedra, CROC inventa que precisa ir para a guerra e NHACA, agora mãe de 9 filhotes, dona de casa e bastante insatisfeita, resolve fechar a porta da caverna e fazer greve de sexo, tal qual Lisístrata faria, dali a alguns séculos. A partir daí, nosso protagonista terá que provar que merece conseguir entrar, novamente, na caverna da esposa.
 
Assim, com muitas idas e vindas na linha do tempo, juntos, o casal vive experiências que o amor só traria bem mais tarde, ao longo de toda a nossa história: o amor idealizado dos príncipes e princesas dos contos de fadas e também o amor juvenil, medieval e proibido de Romeu e Julieta; a libertinagem e o amor romântico; o feminismo e a castidade; inventam a separação e a guarda dos filhotes. Mas, com tudo, o amor persiste e eles, finalmente, chegam ao divã, para discutir, com o Dr Freud Flintstone, as condições que cercam o homem e a mulher: a fidelidade e a traição, o amor e o sexo, a verdade e a mentira, o desejo e o ciúme.
 

 
 
 


“O público acompanha a evolução do amor na história da humanidade, entrando em contato com situações que se repetem nos relacionamentos, ao longo dos tempos. CROC (GUILHERME PIVA) e NHACA (MARIA CLARA GUEIROS) vivenciam o que há de mais cômico e dramático nas relações afetivas, um universo do qual nenhum espectador escapa”. (Extraído do “release”, via assessoria de imprensa – LU NABUCO)

Segundo o diretor MARCELO VALLE, “Entender como o amor foi inventado não é uma tarefa das mais fáceis. Mas o que propomos, com ‘A INVENÇÃO DO AMOR’, é simples: fragmentamos a evolução de nossos padrões de comportamento, para mostrar esse amor, que se reinventa, sempre igual, mas sempre diferente. Imaginar qual teria sido o primeiro de todos os casais, para enxergar, em todos os outros, um pouquinho deles. Ou para enxergar nele um pouquinho de todos os outros. Quem sabe não conseguimos entender, assim, ‘A Invenção do Amor’”? (Idem.)

A dramaturgia da peça, inédita, de ALESSANDRO MARSON e THEREZA FALCÃO se constrói através da ótica do conflito masculino/feminino, numa linguagem crítica e muito bem humorada, cuja principal justificativa é o desejo da identificação do público. O maior trunfo do texto é falar de um assunto comum e imprescindível na vida de todos nós: o amor”. (Ibidem.)
 

 
 
Classificado o espetáculo como uma “comédia romântica”, ele acaba sendo um prato cheio para a prática do besteirol, um gênero teatral que surgiu, e atingiu grande sucesso, na década de 80, tendo surgido em São Paulo e, logo, ganhando a aprovação do carioca, que muito se identificou com o estilo. Completamente desprovido de preconceitos, o besteirol incorporou diversas referências da cultura brasileira, para montar uma caricatura do comportamento cotidiano. O humor anárquico e o rompimento com o engajamento e a cultura dita erudita formam os pilares do movimento, cujos nomes mais representativos, como autores e/ou intérpretes foram Mauro Rasi e Vicente Pereira, os mais importantes, ambos já falecidos, mas que também recebeu o reforço de Alcione Araújo, Flávio Marinho, Guilherme Karan, Hamilton Vaz Pereira, Marcelo Saback, Miguel M. Abrahão, Miguel Magno, Pedro Cardoso, Felipe Pinheiro, Cláudia Jimenez, Maria Lúcia Dahal, Luiz Carlos Góes e Miguel Falabella, o qual acabou por levá-lo, também, para a TV (TV Pirata foi o pioneiro.). Quem não se lembra de besteiróis engraçadíssimos, que marcaram uma época do TEATRO BRASILEIRO, como "As Mil e Uma Encarnações de Pompeu Loureiro",  A Mente Capta”, “Classificados Desclassificados”, “Pedra, A Tragédia”, “Nada” e “Sereias da Zona Sul”, por exemplo, todos grandes sucessos de público e de crítica, ficando meses em cartaz?
 
 
 
 

Não me canso de dizer que adoro esse gênero teatral, em cuja fonte beberam os autores de “A INVENÇÃO DO AMOR”, ALESSANDRO e THEREZA, conseguindo produzir um texto de altíssima qualidade, dentro do nicho da comédia, porém de uma forma mais lapidada que os primeiros e tão conhecidos e consagrados textos do besteirol, sem nenhum demérito para estes (muito pelo contrário), motivo pelo qual, num dos subtítulos desta crítica, utilizo a expressão “besteirol de fraque e cartola”, pela sofisticação da carpintaria dramatúrgica, sem deixar de ser popular, de apresentar um apelo fácil, para conduzir o público a fartas gargalhadas. A incorporação de elementos modernos, alguns ultramodernos, em plena Idade da Pedra constitui uma verdadeira pérola do humor.  


 
 

“A INVENÇÃO DO AMOR” é uma ideia genial, que não bastava apenas ser boa; tinha de ser bem desenvolvida. Disso se ocuparam os autores e criaram um texto que não perde a qualidade numa só cena. Ao contrário, vai num crescendo, deleitando o público com uma surpresa após a outra. Segundo a ficha técnica, aparece o nome de CARLA SIQUEIRA, na pesquisa, que deve ter colaborado muito nos alicerces sobre os quais o texto foi construído.

Não tenho a menor dúvida de que o propósito de todos os envolvidos no projeto é alcançado em sua plenitude, qual seja o de divertir, sem apelações, de qualquer tipo, instigando o espectador a exercitar sua inteligência e capacidade de entender, no que está explícito e nas entrelinhas, todas as críticas ao ser humano, como “centro mais importante do universo”, pegando-o em suas fragilidades, erros e vícios, os quais, obviamente, aparecem no texto, para nos mostrar quão pretensiosos somos em nossa “soberania” e "onipotência".

Além do excelente texto da peça, que, por único elemento, não bastaria para o sucesso do espetáculo, é preciso falar da experiente e competente equipe, reunida para levantar o espetáculo.

MARIA CLARA GUEIROS e GUILHERME PIVA parecem ter sido escolhidos, a dedo, para interpretar os personagens. Há, entre os dois, uma cumplicidade que faz o texto fluir, num ritmo de comédia, dentro do “timming” que esse tipo de espetáculo exige. O pingue-pongue entre os dois revela um intenso trabalho de mesa, antes das marcações e de outras etapas da montagem.
 

 


MARIA CLARA, embora já tenha assumido personagens “sérios”, é na comédia que ela encontra sua melhor zona de conforto e, dessa forma, seu rendimento cresce, porque ela tem o “dom” de fazer rir; ou, se preferirem, ela sabe fazer rir, domina a técnica, de forma natural, sem repetir os clichês de suas anteriores personagens, utilizando-se muito das entonações. Ela se reinventa, por completo, nesta peça. Está hilária!!!

PIVA, ao contrário, sempre me passou uma imagem de um ator mais talhado para o drama, embora já ao tenha visto, com boas atuações, em comédias. Confesso, porém, que não esperava tanto dele num papel cômico, principalmente com a responsabilidade de dividir o palco com alguém que se tornou popular, via TV, pelo destaque nos humorísticos. GUILHERME PIVA e MARIA CLARA GUEIROS formam uma dupla de ataque, capaz de marcar muitos gols e garantir a vitória do time, nos papéis em que se revezam, além dos personagens protagonistas.

E, já que estamos falando em “time”, precisamos revelar quem são os outros jogadores, que garantem a conquista da taça.

Na direção, MARCELO VALLE conseguiu captar as intenções dos autores e, com precisão cirúrgica, encontrou o ponto exigido pela montagem. Não há exageros, por parte da direção, o que poderia, muito bem, ter acontecido, já que o texto se presta a isso. A mão forte e competente do diretor conduziu o espetáculo por um caminho correto. Ator e diretor de larga experiência e detentor de tantos prêmios e indicações a, MARCELO soube valorizar as mensagens do texto, inclusive as que não se expõem claramente e precisam ser captadas nas entrelinhas. Fez um brilhante trabalho com os atores e, por isso, merece muitos elogios. DANIEL BELMONTE atuou como seu seguro assistente de direção.


 
 
A cenografia, criada por AURORA DOS CAMPOS, é um detalhe à parte. Todas as ações se passam no interior de uma caverna “tecno-rupestre”, termo que cunhei, para descrever o espaço cênico. Segundo a própria AURORA, ela utilizou “recursos clássicos”, mas que assumem um tom inovador, com cheiro de alta tecnologia, ainda que o material empregado seja simples e encontrado em qualquer “boa casa do ramo”. Falou mais alto o talento da artista, na concepção do excelente cenário. AURORA contou com o a ótima e criativa contribuição de TUCA, nos adereços de cenário.

MARCELO OLINTO sempre me surpreende a cada figurino criado para um espetáculo. Não fugiu à regra, em “A INVENÇÃO DO AMOR”. Os trajes moldados para os personagens pré-históricos são sensacionais, assim como os acessórios que vão sendo agregados aos trajes originais, no decorrer da peça, para caracterizar outros personagens, da era moderna.

            Para não roubar, aos leitores, o prazer de gargalhar, vou omitir alguns detalhes do cenário e do figurino, para que sejam descobertos, quando forem assistir à peça, e mais valorizados, pelo fator “surpresa”.

Na iluminação, outra vez, o trabalho e o talento de RENATO MACHADO, que me pereceu ligeiramente prejudicado, no dia da estreia, por qualquer imperícia de quem operava a luz, o que é perfeitamente compreensível, ainda que isso não tenha causado qualquer prejuízo considerável naquela noite.


 
 

Os atores se movimentam em cena com muito desembaraço e guardando a postura que os personagens exigem, graças à bela direção de movimento, de MÁRCIA RUBIN.

A composição visual dos dois personagens já arranca gargalhadas da plateia, tão logo cada um deles entra em cena, antes mesmo de dar sua primeira fala. Isso acontece pelo conjunto da obra da referida composição, para a qual contribui bastante, além dos figurinos, OTHON SPENNER, no visagismo e nos adereços de cabeça.

Um outro MARCELO, o ALONSO NEVES, colecionador de prêmios, na área de direção musical, reservou-nos motivos para boas gargalhadas, na medida em que, quando menos se espera, entra uma canção “cafona”, “brega” ou, no mínimo, “estranha”, “tosca” e, obviamente, muito engraçada, para ilustrar algumas cenas, além de outras, pertencentes a diferentes classificações, para dar apoio às cenas. Um trabalho de garimpagem perfeitamente adequado ao espírito desse delicioso besteirol, disfarçado, no bom sentido, de comédia romântica. Na trilha sonora, estão “Kam Sana” (Melissa), ao som da qual MARIA CLARA GUEIROS se contorce, sensualmente, numa “dança do ventre”; “Si Tu Vois Ma Mère” (Sidney Bechet), também para ajudar no “sensual e no romântico”; “Gonna Make You Swet” (Freedon Williams), “Retratos e Canções” (Michael Sullivan / Paulo Massadas), Siga o Seu Rumo” (Pimpinela) e Mulheres Modernas” (Falcão), quando inseridas nas cenas, levam o público ao extremo do riso; além dos belos e conhecidos clássicos, como o belíssimo tema do filme “Romeu e Julieta”, de Franco Zefirelli (Nino Rota) e “All You Need Is Love” (John Lennon). Imaginem o efeito que essa “salada” causa!                                                            

Por todos os comentários acima feitos, posso assegurar que a goleada de “A INVENÇÃO DO AMOR” superou o “trágico”, para alguns, não para mim, 7 x 1, com a diferença de que, aqui, o adversário não marcou nem um tento e a Alemanha se chama BRASIL, para orgulho do TEATRO BRASILEIRO.

            Vá conferir, logo, o que estou dizendo e marque você, também, um gol de placa, praticando a imbatível divulgação DE BOCA EM BOCA, para ampliar o placar.


 
 
 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Alessandro Marson e Thereza Falcão
Direção: Marcelo Valle
 
Elenco:  Maria Clara Gueiros e Guilherme Piva
 
Cenografia: Aurora dos Campos
Figurinos: Marcelo Olinto
Direção Musical: Marcelo Alonso Neves
Iluminação: Renato Machado
Direção de Movimento: Márcia Rubin
Visagismo: Othon Spenner
Pesquisa: Carla Siqueira
Assessoria de Imprensa: Lu Nabuco Assessoria em Comunicação
Programação Visual: Leandro das Neves
Produção Audiovisual: Eduardo Chamon e Leandro das Neves
Mídias Sociais: André Mizarela
Fotografia: Lúcio Luna e Renato Mangolin
Adereços de Figurino e de Cabeça: Othon Spenner
Adereços de Cenário: Tuca
Assistente de Direção: Daniel Belmonte
Assistente de Cenografia: Carolina Sugahara
Assistente de Figurino: Rodrigo Reinoso
Cenotécnico: André Salles
Pintura de Arte: Naira Santana
Costura Cênica: Nice Tramontim
Figurino Contemporâneo - Maria Clara Gueiros: VICTOR DZENK
Direção de Produção: Alice Cavalcante
Captação de Recursos: Renata Borges
Produção Executiva e Captação de Apoios: Nana Lima
Assistência de Produção e Administração de Temporada: Bruno Fagotti
Gestão do Projeto: Renata Leite – Rinoceronte Entretenimento
Assistente Financeiro: Angelica Neves – Rinoceronte Entretenimento
Produzido por: Alice Cavalcante e Marcelo Valle
Realização: Os Invencíveis e Sábios Projetos
 




 
 

 
 
 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 11 de novembro a 18 de dezembro de 2016.
Local: Teatro Leblon – Sala Marília Pêra
Endereço: Rua Conde de Bernadotte, 26, Leblon – Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2529-7700
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h30min; aos domingos, às 20h
Valor dos Ingressos: R$50,00 (5ª feira); R$70,00 (de 6ª feira a domingo) – meia-entrada a quem fizer jus, legalmente, ao benefício
Lotação do Teatro: 408 lugares
Duração: 75min
Classificação Indicativa: 12 anos
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, das 15h às 20h, para compra antecipada. No dia no espetáculo, até as 21h.
Pagamento: dinheiro e cartão, exceto Elo
Vendas pelo site: www.ingresso.com (aceitam cartão de crédito)
 

 

 

 
 
(FOTOS: LÚCIO LUNA 
e
RENATO MANGOLIN.)
 
 
 
 
 

 

 

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 
 
 

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