sexta-feira, 25 de novembro de 2016


O ESCÂNDALO

PHILIPPE DUSSAERT



(TUDO ELEVADO À MÁXIMA POTÊNCIA.)
 

 


            Faz quase meia hora e há um homem sentado, diante de um computador, uma tela em branco, com um propósito, o de escrever uma crítica a um espetáculo teatral, e ele não sabe o que dizer nem como começar. Esse homem sou eu e a peça é “O ESCÂNDALO PHILIPPE DUSSAERT”, em brilhante carreira no Teatro Maison de France, Rio de Janeiro.

            Desde que assumi o meu lado crítico teatral, raríssimas vezes, vi-me em tal constrangedora situação: ter muito o que expressar e não saber como. O que dizer de um espetáculo em que tudo é superlativo, elevado à máxima potência? Como começar a escrever sobre uma peça que é unanimidade (Burro é quem não pensa igual a todos, com relação a esse espetáculo, Sr. Nélson Rodrigues.)

            De repente, percebo que a tela já não está mais em branco e que, afinal, consegui dar o pontapé inicial ao meu texto. Dois parágrafos escritos. Mas é preciso muita cautela, para não entregar o jogo. Faz-se necessário preservar um grande segredo que o texto nos reserva, no final da peça, que eu jamais deixaria escapar, nem sob tortura.

            É certo que o escrito pelo dramaturgo é ótimo, a direção idem, os elementos técnicos perfeitos, mas a espinha dorsal, que sustenta esta montagem, se chama MARCOS CARUSO, uma unanimidade nacional, quer como artista, quer como pessoa, de uma gentileza e elegância a toda prova, a ponto de receber cada espectador, com um aperto de mão e um agradecimento pela ida ao TEATRO.


 


            São 43 anos de carreira; mais de 35 peças, como ator; 10 textos por ele escritos, sozinho ou a quatro mãos, com Jandira Martini (É dele, por exemplo, o fenômeno teatral “Trair e Coçar é Só Começar, que, este ano, está completando 30 anos em cartaz. A peça integrou várias edições do Guinness Book, como recordista da temporada mais longa.); um retumbante sucesso, de público e de crítica, em todas as mídias, com destaque para a TV. Finalmente, MARCOS CARUSO se apresenta num espetáculo solo, inédito no Brasil, escrito pelo francês JACQUES MOUGENOT, que, também, é ator, com direção de FERNANDO PHILBERT e tradução de MARILU DE SEIXAS CORRÊA.

Após mais de quatro décadas de carreira e convites recebidos por diretores e produtores, para montar seus trabalhos, MARCOS CARUSO brinca que é a primeira vez em que é “escolhido pelo público”, para uma peça. Isto porque foi de um trio de senhoras, que nunca fizeram teatro, mas assistiram, em Paris, à peça e compraram seus direitos, que veio a proposta para o ator fazer o primeiro monólogo na carreira.

            Extraído do “release”, enviado pela assessoria de imprensa (leia-se JOÃO PONTES e STELLA STEPHANY), "O ESCÂNDALO PHILIPPE DUSSAERT" é um texto que investiga, com fino humor, os limites da arte contemporânea e as polêmicas em torno do assunto, através da história de um escândalo do pintor francês Philippe Dussaert. Vencedora do Prêmio Philippe Avron, por esta peça, JACQUES MOUGENOT está, há quase uma década, em cartaz, ultrapassando a marca das 600 apresentações, na França. (...) Nesta peça, o dramaturgo francês usa a figura de um pintor contemporâneo e sua polêmica carreira, para fazer, junto ao público, uma reflexão sobre o que é e o que não é arte – o tema é terreno fértil para infindáveis controvérsias e polêmicas.

            São palavras de MARCOS CARUSO: “Cada vez mais, eu me interesso pelo teatro contemporâneo. Como autor, diretor ou ator, quero, cada vez mais, me debruçar sobre temas contemporâneos. ‘O ESCÂNDALO PHILIPPE DUSSAERT’ permite uma investigação, em que ator e plateia, de maneira divertida e surpreendente, desvendam um dos maiores escândalos da história da arte contemporânea.”.

 


            Faço coro ao que disse CARUSO, e a peça serviu de grande válvula de escape, para eu me assumir, de uma vez por todas, como um grande cético acerca do que se convencionou chamar de arte contemporânea, principalmente no campo das artes plásticas. Tenho muitas restrições ao que se expõe por aí, em nome de uma liberdade de expressão, na forma de “obras”, as quais, absolutamente, não me dizem nada, não me emocionam nem um pouco; ao contrário, na maioria das vezes, me provocam uma grande rejeição e raiva, pela perda de tempo de ter ido até elas, e, tenho a certeza, à grande maioria das pessoas também.

Tenho visto, por aí, no Brasil e fora daqui, exposições das quais saio me perguntando como, por que e para que alguém se propôs a “criar” algo tão bizarro, que acha ser arte. Será que acha mesmo? Muita gente, ainda que não goste – e aqui incluo os críticos de artes plásticas – para não ser diferente, embarca numa de que estão diante de uma espécie de “oitava maravilha do mundo”. Chegam a ser patéticas e ridículas as “explicações” que tentam dar, para justificar tantas aberrações. Posso dizer que lavei a alma, vendo a peça, graças a PHILIPPE DUSSAERT e a MARCOS CARUSO.

            Não sei se procedem duas histórias que me contaram acerca dessas aberrações “mudernas”. Uma delas é a de que um determinado pintor colocou, no chão, uma imensa tela, em branco, pegou algumas galinhas, introduziu-lhes os(as) pés/patas (?) em latas de tintas, de diferentes cores, soltou-as sobre a tela e provocou seus deslocamentos (XÔ! XÔ!), até saírem todas de lá. Imaginem o que ficou “pintado”!!! Dizem que ele fez isso, exatamente, para zombar de alguns críticos, os quais, obviamente, adoraram a “obra de arte”. Seria cômico, se não fosse ridículo, a ser verdade.

            A outra, segundo consta, com o mesmo propósito, por parte do seu “autor”, diz que o pintor encostou uma enorme tela numa parede, molhou o rabo de alguns cavalos, em tintas bem coloridas, e empurrou-os, com o traseiro voltado para a tela, até que quase encostassem nela. Os movimentos pendulares dos rabos eram como “pinceladas” ao acaso, formando outra “grande obra de arte”. Não duvido das duas e penso haver outras histórias semelhantes por aí.


           


            Um dos aspectos que mais me agradam no texto é o fato de o autor não fazer concessões e criticar, sem qualquer parcimônia, críticos, aos quais os tiros parecem ser mais direcionados, artistas, pintores, a imprensa “especializada” e a falsa “intelligentsia” do bloco “Unidos das Vaquinhas de Presépio”, tudo com aquele toque bem-humorado e irônico da velha e boa, e sempre atual, “comédie fraçaise”, o que é garantia de boas gargalhadas, ainda mais quando o texto, de excelente qualidade, é conduzido por um ator do alto (sem piadas ou trocadilhos) do talento de um MARCOS CARUSO.

            E, como eu já disse, tantas vezes, que “o que dá pra rir dá pra chorar / questão só de peso e medida” (plagiando Billy Blanco), não é para se chegar às lágrimas; absolutamente, não! Mas é, também, para fazer pensar, refletir bastante nos conceitos atuais de “arte”. O que você poderia pensar de uma “arte” que se baseia na “significância do não signo” e que prega a “representação do nada” e a “plenitude do vazio”. Chega a ser hilário, para não ser deselegante.



 
 
 
SINOPSE:
 
A peça conta a história do pintor PHILIPPE DUSSAERT, nascido no norte da França, em 1947, que perseguiu, obstinadamente, em sua trajetória, o sentido mais profundo do minimalismo.
 
Sua proposta inicial é inusitada: reconhecido pelo seu talento de exímio copista, reproduz quadros famosos de pintores, como Da Vinci, Manet, Cézanne, Vermeer, porém exclui, da imagem, quaisquer personagens humanos ou animais e preserva, fielmente, o cenário ao seu fundo.
 
Causando surpresa e inquietude no mundo das artes, ele segue, radicalizando sua proposta e, pouco a pouco, vai ganhando o mercado de arte contemporânea - suas obras se tornam, cada vez mais, valiosas e disputadas por grandes museus e colecionadores.
 
A trajetória de DUSSAERT chega ao ápice, quando ele expõe, e vende, ao custo de 8 milhões de francos, sua obra maior. O episódio deflagra uma reviravolta, que ficou conhecida como “O ESCÂNDALO PHILIPPE DUSSAERT”.
 

 
 
 
 

            A proposta cênica da peça é a de que um ator, como numa palestra, vá contando a inusitada trajetória de DUSSAERT, o que pode parecer, a quem não teve ainda o prazer de se deleitar com o espetáculo, que seja algo enfadonho. Mas não! Absolutamente, não o é! Muito pelo contrário!!! Graças ao talento do ator e à correta direção de FERNANDO PHILBERT, melhor a cada novo trabalho como diretor, vemos um ator se movimentando, da forma mais natural possível, apropriando-se de todo o palco do Maison, dirigindo-se à plateia não num tom professoral, mas como alguém que nos estivesse contando uma história na mesa de um bar, por exemplo.

            A direção acertou em cheio em saber aproveitar todo o potencial do ator, deixando-o livre para criar – é a impressão que passa.

            CARUSO tem a capacidade de gerar uma intimidade tal com a plateia, a ponto de, vez por outra – ocorreu no dia em que assisti à peça – algumas pessoas, talvez por ingenuidade ou por exibicionismo, sim, darem pitacos, sem ser nos momentos em que o ator lhes pede que o façam. Fica parecendo uma grande roda de bate-papo.

            No início, a apresentação parece mesmo uma palestra, bem dinâmica, logo de saída, mas, com uns quinze minutos de espetáculo, percebe-se a mudança de comportamento do ator, o qual passa a representar, ainda que, repito, com a maior naturalidade possível.

            Ele vai, com total maestria, contando a progressão das façanhas do personagem protagonista, que não se confunde com o ator protagonista, até a revelação final da peça, que é de surpreender a todos. Duvido de que alguém possa, no decorrer do espetáculo, aguardar um final tão inusitado, inopinado.

            CARUSO parece uma cobra, “hipnotizando” os “sapos” da plateia, não só pelos olhos, mas também pelos ouvidos. É impossível piscar, deixar-se distrair por qualquer outro elemento; apenas o texto e sua irretocável interpretação, digna de prêmios têm sentido, durante 80 minutos. Até os malditos celulares (pelo menos, no dia em que vi a peça), tiveram descanso. Aliás, perdão, celulares! Malditos são os que fazem uso de vocês, durante um espetáculo, qualquer que seja ele.       

            NATÁLIA LANA projetou um cenário, lindo, moderno e funcional, à altura do espetáculo, propondo, apenas, telões, para as várias e interessantíssimas projeções do material de vídeo, criado por RICO VILAROUCA, além de uma mesa e um banco alto, cromados, para o “conferencista".

            É dela, também, o elegante figurino de CARUSO, que se torna mais bonito  e ganha mais destaque, em função da fina postura de um dândi, como ele.

O espetáculo pede uma luz discreta, para os momentos mais “didáticos”, quase nula, em outros, para pôr em destaque as projeções, e, ao mesmo tempo exuberante, por mais que possam ser opostos, nos momentos em que o texto o pede. Isso é o que consegue, com seu ótimo trabalho, VILMAR OLOS.

Também não podem passar sem um bom comentário as musicais incidentais, muito bem selecionadas, por MAÍRA FREITAS, responsável pela trilha sonora. Belas combinações de imagens e sons!

 
 


 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Jacques Mougenot
Tradução: Marilu de Seixas Corrêa
Direção: Fernando Philbert
 
Interpretação: Marcos Caruso  
 
Cenário e Figurino: Natália Lana
 
Iluminação: Vilmar Olos
Direção Musical: Maíra Freitas
Vídeos: Rico Vilarouca 
Assistente de Direção Vinícius Marins
Fotos: Paula Kossatz
Direção de Produção: Carlos Grun - Bem Legal Produções
Realização: Galeria de Arte Cor Movimento Ltda
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
 


 
 
 
 
 
 
 
 



 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 26 de agosto a 18 de dezembro
Local: Teatro Maison de France 
Endereço: Avenida Presidente Antonio Carlos, 58 – Centro / Rio de Janeiro  
Tel: (21) 2544-2533
Dias e horários: 5ª feira e 6ª feira, às 20h; sábado, às 21h; domingo, às 18h
Valor dos Ingressos: 5ª feira e 6ª feira = R$60,00; sábado e domingo = R$70,00 Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, a partir das 13h30min
Capacidade: 353 espectadores
Classificação Etária: 12 anos
Duração: 80 minutos
Gênero: Comédia
 



 



Não há o que pensar ou discutir: troque, imediatamente, qualquer programa, qualquer um mesmo, de 5a feira a domingo, por uma ida ao Teatro Maison de France, a fim de assistir a “O ESCÂNDALO PHILIPPE DUSSAERT, com direção, magnífica, de FERNANDO PHILBERT e interpretação insuperável de MARCOS CARUSO.


UM DOS MELHORES ESPETÁCULOS DE 2016!!!


 

 
 
 

 
(FOTOS: PAULA KOSSATZ.)
 
 
 
 
 
 
 
Galeria Particular: com Marcos Caruso e Fernando Philbert.
Foto: Marisa Sá.)
 
 

Um comentário:

  1. Impossível não desejar assistir o mais rápido possível ! Crítica maravilhosa!

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