quarta-feira, 31 de maio de 2017


REDEMUNHO

 
(POESIA EM FORMA DE TEATRO.

OU

AMOR + GARRA + COMPETÊNCIA =

TEATRO DA MELHOR QUALIDADE.)




 
 
 
 
 
           POR ALGUM MOTIVO, DESSES RELACIONADOS À INFORMÁTICA E QUE A GENTE (EU, PELO MENOS) NÃO CONSEGUE EXPLICAR, PUBLIQUEI, NO BLOGUE, NA SEGUNDA QUINZANA DE MARÇO DESTE ANO (2017), UMA CRÍTICA SOBRE O EXCELENTE ESPETÁCULO "REDEMUNHO", UM DOS DEZ MELHORES DESTE ANO, ATÉ O PRESENTE MOMENTO, CRÍTICA ESTA QUE "DESAPARECEU" DO BLOGUE.
 
           EM RESPEITO E CONSIDERAÇÃO A TODOS OS ENVOLVIDOS NO MAGNÍFICO E CORAJOSO PROJETO, ALERTADO QUE FUI, PELO MEU AMIGO ALEXANDRE DANTAS, ATOR NO ESPETÁCULO, CONSTATEI O "PROBLEMA" E, AQUI, ESTOU REPUBLICANDO A CRÍTICA, QUE ESPERO PODER LEVAR PÚBLICO A UMA NOVA TEMPORADA, PELA QUAL TORÇO BASTANTE.
 
 
         



 
Como é GRATIFICANTE ir a um Teatro, para ver TEATRO DE VERDADE!
 
TEATRO feito com amor, garra, dedicação e ajuda de amigos, sem patrocínios ou benesses de qualquer tipo, a não ser a já dita ajuda de amigos.
 
Um espetáculo belíssimo, de uma delicadeza, sensibilidade, competência...
 
Um texto magnífico, de RONALDO CORREIA DE BRITO.
 
Direção impecável, de ANDERSON ARAGÓN.
 
Um trio de excelentes atores: ALEXANDRE DANTAS, ANA CARBATTI e CLAUDIA VENTURA, cada um em seu melhor momento no palco; isso é dito por quem acompanha, há muito, o trabalho deles, ou seja, EU.
 
Um trabalho SEM QUALQUER DEFEITO (já nem vou gastar mais adjetivos; tudo é superlativo nesta montagem): ALFREDO DEL-PENHO (direção musical); SUELI GUERRA (direção de movimento - acho que a melhor dela, que já vi); DÓRIS ROLLEMBERG (cenário); FLÁVIO SOUZA (figurinos); ANDERSON RATTO (desenho de luz - a melhor luz que vi este ano, até agora)...
 
A temporada é muito curta. NÃO PERCAM POR NADA!!!
 
Saí do Teatro Rogério Cardoso (Casa de Cultura Laura Alvim), muito feliz e emocionado.
 



 


 
            Se existisse “sinopse de crítica teatral”, o texto acima, que foi postado por mim, tão logo cheguei a casa, em total estado de graça, após ter assistido ao espetáculo “REDEMUNHO”, seria uma. Praticamente, não há mais nada a dizer, mas vou me estender e ele será o embrião desta crítica.

            REDEMUNHO = “Gíria tradicional do orador de Minas Gerais, que pretendia dizer ‘redemoinho’ ou ‘rodamoinho’”.

            O título da peça pode parecer “estranho”, mas tem tudo a ver com ela. Desde que inicia, o texto nos envolve num rodopiar de emoções sucessivas e surpreendestes. Ele é a transposição, para o palco, de quatro contos do premiado escritor cearense RONALDO CORREIA DE BRITO, publicados em seu livro “Faca”, de 2003.

De acordo com o “release” da peça, enviado por JSPONTES COMUNICAÇÃO (JOÃO e STELLA), “Através de suas ‘memórias inventadas’, como o autor se refere às suas narrativas, o leitor – e agora o espectador - é transportado para as ruínas de um Sertão Nordestino mítico, que já não existe mais”.

            É inacreditável como um escritor do talento de CORREIA DE BRITO não seja tão conhecido e lido no Brasil, ainda que já tenha conseguido espaço no exterior, além de tantos prêmios! Coisas do Brasil!

Para compor o espetáculo, foram selecionados quatro dos contos do livro “Faca”: A Escolha”, “Redemunho”, “Cícera Candoia” e “Mentira de Amor”.

Ainda extraído do “release”: “(...) emergem relatos de origens arcaicas e personagens trágicos, os quais convidam a investigar aqueles segredos próprios do ser humano, de qualquer época ou lugar. Visitada pela literatura regionalista, esta terra remota e desconhecida ganha uma dimensão mítica, transformando-se no território dos terrores mais íntimos e antigos do Homem, quando o regional dá lugar ao universal.

Em sua versão teatral, os contos receberam tratamento contemporâneo, por meio da linguagem narrativa em cena. Sem fazer uso de qualquer artifício, que pretenda transpor para discurso direto a joia narrativa dos contos, o que o público ouvirá são as palavras escolhidas, uma a uma, pelo autor...”.



  



 
SINOPSE:
 
Em um tempo arcaico, quase mitológico, quatro histórias se tocam no centro de um redemoinho de fatalidades. As histórias desenham destinos que não podem ser evitados, colocando suas personagens centrais no momento inexorável de sua caminhada em direção ao trágico.
 
 
OS CONTOS:
   
"REDEMUNHO" reúne mãe e filho, dois últimos remanescentes da, outrora, nobre família Cavalcante de Albuquerque. Em total decadência, vivem apegados a valsas, árvores genealógicas e um piano centenário, mas acabam sendo levados a desenterrar uma antiga e dolorosa rixa do passado.
 
Em "CÍCERA CANDOIA", CIÇA se vê aprisionada aos cuidados de uma mãe entrevada, enquanto todos estão partindo, em fuga da seca. Ambas se sentem despertencidas” da vila em que vivem, por conta de uma peleja familiar, que culminou na morte do pai, e observam a terra secar de gente. Agora, CIÇA tem que decidir pela sua vida ou pela morte das duas.
 
"MENTIRA DE AMOR" relata o cotidiano de uma mulher, aprisionada pelo próprio marido e afogada na culpa pela morte de sua filha mais nova. Vive num mundo imaginário, criado a partir dos ruídos que escuta, vindos da rua. Um dia, chega à cidade um circo, que, aos poucos, desperta nela emoções e desejos nunca vividos. Ela entende que é chegada a hora de cumprir seu destino e romper esse silêncio de anos em sua vida.
   
"A ESCOLHA" conta a história de ALDENORA e LIVINO, casados e assombrados pelo fantasma do primeiro casamento dela com LUIZ SILIBRINO, o qual retorna, depois de dezoito anos. ALDENORA, agora, deve escolher entre a gratidão e a paixão.
 



 




FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Ronaldo Correia de Brito
Direção: Anderson Aragon
 
Elenco: Alexandre Dantas, Ana Carbatti e Claudia Ventura
 
Direção Musical: Alfredo Del-Penho
Direção de Movimento: Sueli Guerra
Cenografia: Doris Rollemberg
Figurinos: Flávio Souza
“Design” de Luz: Anderson Ratto
Fotos: Silvana Marques
Programação Visual: Humberto Costa – Mais Programação Visual
Produção Executiva: Christina Carvalho
Direção de Produção: Ana Carbatti Produções e Artes e CiaFaláCia Produções
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
 
 


 
 



 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 10 de março até 02 de abril de 2017.
Local: Teatro Rogério Cardoso (Casa de Cultura Laura Alvim).  
Endereço: Avenida Vieira Souto, 176 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2332-2015.
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h.
Duração:  80 minutos.
Valor dos Ingressos: R$40,00 e R$20,00 (meia entrada).
Capacidade: 40 espectadores.
Gênero: Drama.
Classificação Indicativa: 16 anos
 


 


 
            Embora eu não conheça os contos na íntegra, mas já esteja à cata do livro, sei que eles foram transpostos para o palco, praticamente, na íntegra, com o objetivo de interferir o  mínimo possível na beleza e contundência dos textos de CORREIA DE BRITO. Todas as rubricas e descrições das cenas são ditas por quem interpreta o/a personagem em questão. 

            Fiquei, profundamente, encantado com o estilo do autor (seu vocabulário, sua sintaxe, suas construções frasais, suas histórias) o que me permite, sem nenhum exagero, guardadas as devidas proporções, sentir, no ar, um perfume de Guimarães Rosa, um aroma dos cordelistas e de outros consagrados autores brasileiros, que põem, em suas frases, o olor da terra molhada do sertão, quando a chuva dá o ar de sua graça, e o cheiro de mato.

            O lirismo, quando necessário, cede espaço aos espinhos de algumas palavras que ferem, tudo a tempo e hora, num equilíbrio que nos conduz no rodopio proposto. O texto é belíssimo!!!

            Trata-se de um espetáculo bem intimista, minimalista até, o que justifica o fato de ter sido montado para pequenas plateias e em formato de arena, sendo que, quando não estão atuando – e até, mesmo, em atuação – os atores permanecem sentados, no meio do público, criando uma intimidade e cumplicidade, que facilitam a troca de emoções. Acertou na mosca a direção, não só por isso, mas, também, por todo o conjunto da obra, com destaque para duas, dentre tantas, cenas, quais sejam a do banho de chuva, em forma de arroz, que o personagem de ALEXANDRE DANTAS toma, e toda a longa cena, de CLAUDIA VENTURA, no monólogo relativo ao circo.




 

            O elenco demonstra ter mergulhado, profundamente, no universo do interior e nas referências da obra do autor. Cada um tem seus momentos de solo e, quando atuam em dupla ou trio, um enriquece o trabalho do outro; há uma grande troca de energia e de talento. Que belo trio de atores!!!

            Como se trata de um espetáculo “franciscano”, tudo teve de ser feito com uma verba curtíssima, e a solução, para se chegar a um espetáculo de tamanha qualidade, foi contar com a colaboração de alguns de nossos melhores profissionais de TEATRO e sua criatividade. Isso está presente no lindo e simples cenário, de DÓRIS ROLLEMBERG e nos singelos figurinos, de FLÁVIO SOUZA.

            A luz, de ANDERSON RATTO é, disparadamente, a melhor que vi este ano e das mais bonitas e bem feitas, nos últimos tempos, assim como é de emocionar o belíssimo trabalho de direção de movimento de SUELI GUERRA, talvez, como já afirmei, o melhor de sua carreira.

ALFREDO DEL-PENHO assina uma ótima direção musical, tendo preparado uma sugestiva e adequada trilha sonora.

            Se você está procurando uma sugestão de uma boa peça, daquelas que nos marcam, não deixe de assistir a “REDEMUNHO”. Tenho a certeza de que vai me agradecer pela sugestão.

 

 



(FOTOS: SILVANA MARQUES.)
 




 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

  

 

 

A PRODUTORA
E

A GAIVOTA


(UMA DELÍCA DE COMÉDIA, VALORIZADA POR UM
TALENTOSO ATOR.)



 



            Já vou logo perguntando e respondendo (direto, como a personagem): é uma boa comédia o que você procura, reunindo bom texto, boa direção e uma excelente interpretação? Uma comédia, em forma de monólogo, completamente diferente do que você está acostumado a ver?
            Então, cesse a procura e escolha um dos últimos seis dias da temporada, os dois próximos sábados, domingos e 2ªas feiras (3, 4, 5, 10, 11 E 12 de junho), vá ao Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, no Humaitá, e se prepare para rir muito, com JEFFERSON SCHROEDER, na pele de uma produtora de TEATRO, às voltas com um grave problema, antes da apresentação da peça que ela “produz” (as aspas dizem tudo; os leitores vão entender), que seria um clássico da dramaturgia universal, a famosa peça “A GAIVOTA”, do grande dramaturgo russo ANTON TCHEKHOV, a quem a tal “produtora”, MEIRE SABATINE, insiste em chamar de “Antônio”.
            O texto é o primeiro trabalho dramatúrgico de JEFFERSON, que estreia, no ofício, com o pé direito, tendo, inteligentemente, convidado JOÃO FONSECA, para dirigi-lo. 
 
 

Que JEFFERSON é um ótimo ator, todos os que vão ao TEATRO com frequência já o sabem, pelos tantos trabalhos excelentes que já realizou, no palco, principalmente como membro da “Cia. OmondÉ de TEATRO”, sob a batuta de Inez Viana. A grande surpresa está no autor, principalmente por ser seu texto de estreia, como dramaturgo.
            O texto é de um humor leve e bastante cáustico, ao mesmo tempo, bem temperado, com direito a críticas rasgadas ao próprio TEATRO. O autor mira sua metralhadora mordaz na direção de um conhecido crítico teatral, do próprio diretor da peça, do elenco de atores fracassados e de péssima qualidade, dos técnicos incompetentes... Tudo no julgamento da “produtora”. Ninguém escapa à língua ferina e à extrapolada “sinceridade” de MEIRE.
            Praticamente, o espectador vai rir muito, desde a primeira aparição da personagem até o “black-out” final, que, segundo MEIRE, é o melhor momento da peça, comparável ao intervalo, que é muito providencial (e que não há nesta peça), para que o público que não esteja gostando do espetáculo não assista a ele até o final e possa livrar-se de um “suplício”.
            Embora as matérias publicadas para a divulgação da peça digam que o texto é “baseado” em “A GAIOVOTA”, não é bem assim. Na impossibilidade da apresentação da peça, para um público que lota o teatro, por um problema que já ficará claro, adiante, quando eu falar na sinopse, MEIRE tem a (in)feliz ideia de “entreter o público”, contando, à sua maneira, a história, enquanto o elenco não chega. E ela o faz de uma maneira hilária, descontraída, com a pretensão de ser didática, intercalando a narrativa com ligações telefônicas ao diretor da peça e para falar de seu conturbado relacionamento com a filha, MICHELLE (MICHA), que resolveu sair de casa, por total incompatibilidade de gênios com a mãe, para assumir um relacionamento homoafetivo com a amiga LÚCIA. Esse fato, que poderia ser encarado como algo, se não natural, pelo menos, comum, também se torna motivo para o humor ferino da protagonista.
            No original, “A GAIVOTA” foi concebida como “comédia”, pelo próprio autor, ainda que, na forma, se trate, na verdade, de um drama. Foi escrita em quatro atos, resumidos, por MEIRE, a uma sequência única, de 70 minutos, sem intervalos; os atos ela vai anunciando, à medida que se desenvolve o enredo.




 
SINOPSE:
 
Na peça, JEFFERSON SCHROEDER interpreta MEIRE SABATINE, uma produtora de teatro “picareta” e divertidíssima, que conta, sozinha, a história de “A GAIVOTA”, de ANTON TCHEKHOV, fazendo todos os personagens.
 
E por que isso acontece? É que o elenco, acompanhado do diretor da peça, havia ido fazer uma apresentação do espetáculo numa lona cultural, num subúrbio distante, tendo, na volta, enfrentado um engarrafamento, na Avenida Brasil, do qual não conseguiam sair, deixando o público à espera deles, para a sessão daquela noite, num teatro.
 
Durante a peça, o público vai descobrindo que a “produtora” MEIRE, que não gosta de TEATRO, é “contaminada” e muda de opinião sobre a arte, por conta do desenrolar da história de TCHEKHOV, conseguindo, com isso, resolver problemas pessoais com a filha.
 
O objetivo do monólogo é passar, para o público, de forma humorada e criativa, a essência da obra “A GAIVOTA”, destacando a importância da arte e da cultura para uma sociedade que necessita de desenvolvimento.
 



 

            Uma cadeira fica vazia, na plateia, com a placa de “RESERVADO”, “ad aeternum”, aguardando um crítico teatral (e MEIRE lhe dá nome), que nunca vai, mas que também “não faz falta nenhuma, porque ninguém consegue entender o que ele escreve”. Essa cadeira vazia significa um prejuízo diário, segundo ela, já que o lugar deixa de ser vendido. Só esse momento já rende boas gargalhadas, de tão bem explorado que é.
A produtora não poupa críticas às lonas culturais, que ela chama de “tendas de favelas”, para um público “ignorante”, despreparado para assistir a TEATRO, o que a faz não se importar com o fato de o grupo se apresentar lá apenas com os figurinos, sem o cenário, o qual, segundo ela, é tão ruim, que também não faz falta alguma.
Critica o técnico de som, que não sabe o “be-a-bá” da sonoplastia: “o ator parou de falar, aumenta o som; começou, diminui”. E tome de bronca no profissional!
Pergunta, à plateia, quem conhece a peça “A GAIVOTA”. Sempre há alguém, uma pessoa, pelo menos, para responder afirmativamente. Essa é a deixa para que MEIRE se interesse pela opinião do espectador, se gosta da peça, aguardando-se que a resposta seja positiva, é claro, já que se trata de um clássico do TEATRO universal.
Não para MEIRE, que desqualifica a peça, arrasa com o texto, chamando-o de “chato” e “difícil”. “Eu acho essa peça chatíssima. Dificílima de entender. Nós tivemos que fazer várias leituras, pra entender. Fizemos leituras dramatizadas. Sabem o que é leitura dramatizada?
Propõe-se, então, a “explicar” aos “leigos” da plateia o que seja uma “leitura dramatizada”. Outro momento de extremo humor. “Ler, a peça. Mas essa peça, realmente, precisa de um estudo, porque não é fácil de entender. São uns nomes muito difíceis, que mudam do nada. Uns apelidos malucos, que não têm nada a ver com os nomes dos personagens, você fica pensando – está falando de quem agora?”.
 
 
            Em sua conversa com a plateia, MEIRE não deixa de abordar a eterna crise do fazer teatral e, ao pedir que um espectador do sexo masculino a ajude a montar um quadro, que vai auxiliá-la a “contar a história”, por meio de nomes e desenhos, pergunta à pessoa: “Você é ator? Porque, quando uma pessoa não sabe fazer uma coisa simples, ela é boa pra ser ator”. “Essa peça fala, basicamente, sobre TEATRO. Não é a toa que todos os personagens têm depressão, vivem reclamando da vida”. Brinca com a própria profissão.

 
            No contar a trama, ela vai trocando os nomes dos personagens por outros que possam parecer mais “fáceis de serem assimilados”. Uma das personagens femininas, NINA, por exemplo, é trocada pelo nome de uma famosa atriz de TV. E assim por diante...
            Sobre uma das atrizes da companhia: “A SALETE, que faz a NINA, ela... Não é... Atriz. Não nasceu pra coisa. Tem uma voz aguda. Ela é tão ruim que chega a ser boa.”. Aliás, para simplificar, todos do elenco são criticados por ela.
            E quando ela resolve revelar ao público “segredinhos de produção”? É um dos momentos mais engraçados da peça, quando ela dá nome a alguns famosos produtores de TEATRO e narra o que acontece durante as reuniões mensais do grupo, uma espécie de associação de produtores, não nos poupando de explicar sua infalível Regra do 1, enquanto uma colega, produtora, apresenta uma técnica, sua estratégia, para fazer com que os atores atuem de graça. Ri "indecentemente".

 



            Também não economiza crítica aos governantes: “TEATRO, eles piram numas coisas. TEATRO é uma coisa...chata. Não é a toa que TEATRO está sempre vazio. É uma coisa inútil. Você não vive sem um hospital, uma escola, um restaurante. Mas sem o TEATRO você vive. Eu sei disso há muito tempo. O governo é que agora que foi descobrir isso. E eu sei do que eu estou falando. Que eu estou enfiada de TEATRO até a cabeça”.
            No corpo do texto da peça, ao qual tive acesso, JEFFERSON já começa brincando também, ao descrever o cenário e o figurino, para uma possível montagem: “CENÁRIO: Experimental e metafórico de “A GAIVOTA”, de ANTON TCHEKHOV. Aparentemente, um pouco incompleto. FIGURINO: Casual chique. Uma roupa que sugere, por acaso, uma relação com a época onde a peça “A GAIVOTA” acontece”.
            Na verdade, tanto o cenário, de DANIEL DE JESUS, quanto o figurino, de CAROL LOBATO, são muito interessantes. O cenário nada mais comporta, além de um piso, totalmente coberto por sacolas plásticas, pretas, limitado por duas sequências de cortinas para box, transparentes, incolores, uma pequena plataforma, como uma rampa, e uma cadeira torta. O figurino, propositalmente, é meio fora do contexto, para quem está a trabalho, não está nadando em dinheiro, mas procura manter uma aparência oposta. É formado por uma calça comprida, larga, uma blusa e um casaquinho, que devem ter saído do rico acervo da grande figurinista CAROL LOBATO, também mencionada no texto.
            JEFFERSON SCHROEDER é um dos melhores atores de sua geração, mestre em fazer vozes diferentes, e todo o seu talento e versatilidade estão presentes neste espetáculo.
            Nada especial a dizer sobre o trabalho de direção, de JOÃO FONSECA, além daquilo que já virou clichê, que sempre observamos nele: competência e bom gosto.
            Comportada, discreta e precisa é a luz, de ANA LUZIA DE SIMONI (o DNA ajuda, se bem que a "gaivota" dela cresceu e já sabe voar sozinha) e JOÃO GIOIA.   

  

 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Jefferson Schroeder
 
Elenco: Jefferson Schroeder
 
Direção: João Fonseca
Cenário: Daniel de Jesus
Figurino: Carol Lobato
Luz: Ana Luzia de Simoni e João Gioia
Programação Visual: Daniel de Jesus
Produção: Luís Antônio Fortes
Fotos: Thiago De Lucena
 


 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 20 de maio até 12 de junho.
Local: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto.
Endereço: Rua Humaitá, 163 – Humaitá – Rio de Janeiro (Entrada pela Rua Visconde Silva).
Telefone: 2535-3846.
Duração: 70 minutos.
Dias e Horário: De sábado a 2ª feira, sempre às 19h.
Valor do Ingresso: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada).
Venda de Ingressos na Bilheteria do Teatro: de 4ª feira a domingo, a partir das 17h.
Classificação Etária: 12 anos.
 


 
 
 

“Espero que as pessoas se divirtam, riam, enquanto pensam, naturalmente, sobre a importância, aparentemente subjetiva, da arte, do teatro. Que pensem nos sonhos seguidos e nos deixados para trás, no poder evolutivo do amor infinito pelos filhos, pais, trabalho, e no quanto somos felizes, quando podemos voar nossas gaivotas”, destaca o ator e autor JEFFERSON SCHROEDER.

Tenha a certeza, JEFFERSON, de que a minha "gaivota" e a de todos os que estavam lá, comigo, naquela noite, voaram muito alto, graças ao teu talento. Formamos um bando de "gaivotas", muito felizes, voando, cada uma, de volta, para o seu ninho.



 
 
 
Jefferson Schroeder e João Fonseca.
 



(FOTOS: THIAGO DE LUCENA.)