sábado, 13 de maio de 2017


O PAPAGAIO
 

(UMA MODESTA FESTA EM FAMÍLIA, MAS...
...BEM COMEMORADA.

ou

“A VOZ TAMBÉM ENVELHECE”,
MAS O TALENTO NÃO.)
 

 



            Parece que foi ontem, que um galã mexia com os corações das mocinhas e senhoras na TV, com seu jeito romântico, de bom menino; do filho, que toda mãe queria ter; do genro, que toda sogra procurava. Mas lá se vão 50 anos de carreira e MARCELLO PICCHI pode ser encontrado, ao vivo e em cores, com as marcas do tempo, ainda que em boa forma física, guardando traços do belo rapaz, com o mesmo talento para representar, comemorando, em família, sua bela trajetória, no TEATRO e na TV.

            MARCELLO está em cartaz com o monólogo “O PAPAGAIO”, no Teatro Cândido Mendes (VER SERVIÇO), escrito e dirigido por seu filho, o também ator e escritor THIAGO PICCHI.

            THIAGO levou, para o palco, quatro de seus contos, bastante adaptados, com acréscimos, cortes e alterações de algumas passagens, com o objetivo de torná-los mais teatrais. Eles estão presentes em dois de seus livros, O Papagaio e Outras Músicas” e “A Arte de Salvar um Casamento”.

Os contos utilizados na peça foram “O Papagaio”, que dá título ao espetáculo, “O Marquês do Pombal”, “Sorria” e “O Leilão”. O que os quatro têm em comum é a abordagem do tema “solidão”. Está em jogo não apenas a solidão, como sentimento ou estado de espírito, mas a forma inusitada como os personagens, todos bem maduros, velhos, convivem com ela.

Segundo THIAGO, ele ficou bastante comovido (eu também teria ficado; aliás, estou; comovido e profundamente triste), quando uma professora de voz lhe disse que desenvolve um trabalho com pessoas da terceira idade, as quais apresentam problemas na voz, por não utilizá-la, por não terem a oportunidade de fazer uso dela, como se o ato de falar atrofiasse, por desuso. São pessoas que não têm família, amigos, parentes vivos, que não usufruem das mídias sociais, que têm, apenas, a “companhia” da TV, para lidar com a solidão.

E eu acrescento que tenho conhecimento de que esse exército de pessoas é muito maior do que possamos imaginar.

THIAGO se apropriou de alguns de seus personagens dos livros e os colocou, em cena, numa ordem diferente da encontrada nas publicações, de modo que houvesse um fluxo dramático, e tentou ligar uma história à outra, sem que cada uma perdesse a sua independência, fazendo pequenas referências de uma na outra. Este é o primeiro texto que escreveu para o chamado “teatro adulto”.

O texto de THIAGO, que bebeu na fonte do realismo fantástico, ainda que parta de vivências tão naturais e corriqueiras, é de excelente qualidade. Fatos do cotidiano servem de motivação aos personagens, para uma busca, que não se sabe certa e garantida, mas representa uma porta para novas possibilidades, dentre as quais - espera-se - haverá algo melhor a ser vivido.

Agrada-me muito esse tipo de texto. Sou fã dos escritores que enveredaram por essa seara do surrealismo literário, que tanto instiga e desenvolve o nosso potencial de imaginar, até conseguir “ver”.
 
 



Para mim, o texto é o ápice da peça, o que há de melhor nela, além de outros elementos elogiáveis. Aprecio o estilo literário de THIAGO e gostei bastante das adaptações, que funcionam muito bem, nos quatro monólogos, pela boca de MARCELLO PICCHI.

            Para MARCELLO, afastado, há algum tempo, dos focos dos refletores, fazer este espetáculo corresponde a um desafio inédito, já que, pela primeira vez, está sozinho no palco. Fazer monólogo não é para os fracos!

São quatro contos, protagonizados por personagens que se sentem presas em um cotidiano sufocante. Para elas, urge se libertar e voar para outra realidade possível, nem tão real assim, talvez. Daí a escolha do título, “O PAPAGAIO”, uma ave que, na peça, um dia, fugiu de seu “cativeiro” e voou, em busca de liberdade, de oxigênio, que lhe garantisse a vida. São pessoas levadas a transcender o real, para, assim, vivê-lo plenamente.

O espetáculo, bastante leve e agradável de ser visto, tem, aproximadamente, 50 minutos, com uma encenação simples e sem grandes efeitos visuais, cujo foco recai sobre o poder imagético das palavras.

Os elementos técnicos, como cenário, figurino, iluminação e trilha sonora, por exemplo, são bem simples e discretos, secundários, cedendo o destaque ao texto e à interpretação, funcionando todos, porém, a contento.

"A opção por espaços menores e que possibilitem a proximidade física entre ator e público visa a potencializar a sensorialidade da experiência de cada espectador". (Retirado do "release".)



 




 
SINOPSE:
 
1) Cantor lírico, aposentado, tem, como único amigo, o papagaio da vizinha, ao qual, de sua janela, vive tentando “ensinar” trechos de algumas óperas. Um dia, a vizinha o informa do desaparecimento do papagaio. Uma janela se abre na vida do cantor...
 
2) Idoso é contratado, pela prefeitura, para realizar trabalho misterioso.
 
3) Um casal de irmãos, já idosos, se provoca incessantemente. A irmã morre e as provocações cessam. Só por um instante...
 
4) Recluso, por anos, em seu apartamento, um homem se apaixona pela mão de uma mulher, que exibe joias a serem leiloadas em programa de TV.
  
MARCELLO PICCHI celebra 50 anos de carreira, interpretando personagens que encontram maneiras surpreendentes de lidar com a solidão.
 



           
 
 

Extraído do “release”, enviado pela produção da peça (GABRIELA VASSELAI): “Um papagaio verde e amarelo foge da gaiola. Mais do que um bicho de estimação, a ave era o elemento que dava suporte ao relacionamento entre um cantor de ópera, solitário, e sua vizinha. O que fazer, quando este único elo se rompe?

Em ‘O PAPAGAIO’, os textos partem de situações cotidianas, que acarretam eventos extraordinários, mas sem que a figura sobrenatural se imponha. Não são fantasmas ou soluções do tipo “deus ex machina”*, que vêm para resolver os impasses, e sim situações em que a própria realidade torna-se objeto de questionamento pelo público”.



 



 
(*Expressão latina, que significa, literalmente, “Deus surgido da máquina”, e é utilizada para indicar uma solução inesperada, improvável e mirabolante, para terminar uma obra ficcional.
O termo refere-se ao surgimento de um(a) personagem, um artefato ou um evento inesperado, artificial ou improvável, introduzido, repentinamente, numa trama ficcional, com o objetivo de resolver uma situação ou desemaranhar um enredo.
O uso do termo surgiu no teatro grego clássico, no qual muitas peças terminavam com um deus sendo, metaforicamente, baixado por um guindaste, até o local da encenação, para, então, “amarrar” todas as pontas soltas da história.
A expressão é usada, hoje, para indicar um desenvolvimento de uma história que não leva em consideração sua lógica interna e é tão inverossímil, que permite, ao autor, terminá-la com uma situação improvável, porém mais palatável.
Em termos modernos, deus ex machina” também pode descrever uma pessoa ou uma coisa que, de repente, aparece e resolve um problema aparentemente insolúvel. – WIKIPÉDIA, com adaptações.)
 

 
 



Ainda do “release”: “Embora as personagens do espetáculo sejam levadas a situações-limite, não se trata de uma ode à distopia. Todos conseguem encontrar novos caminhos, ainda que, para isso, precisem forçar os limites da nossa realidade palpável. Navegar já não basta; voar é preciso. (...) Com o propósito de despertar uma estranheza inquietante no espectador, o texto mobiliza e convida que ultrapassemos os limites humanos e a lógica.”

Neste espetáculo, o foco mais intenso recai na palavra. Em cena, fisicamente, apenas o ator e alguns raros elementos cenográficos.

            Por ser um monólogo, o espetáculo exige muito do diretor e do ator, já que tal gênero teatral carrega, consigo, uma tendência à monotonia. A palavra “monólogo”, geralmente, reporta à ideia de algo monótono, “insosso”, o que não é verdade. Há “monólogos” e monólogos. Aqueles podem funcionar, mesmo, como soníferos, porque não foram bem montados, por quaisquer motivos. Estes, ao contrário, prendem a atenção do espectador, graças a um bom texto e trabalho de direção e de interpretação. “O PAPAGAIO” se enquadra neste tipo.

THIAGO não procurou inventar a roda e, ao que parece, deixou MARCELLO bem à vontade, em cena, com marcações bem naturais e permitindo que o ator desenvolvesse, naturalmente, seu potencial de interpretação.

MARCELLO se houve muito bem, interpretando personagens bem diferentes, inclusive femininos, imprimindo, a cada um, uma marca distinta, fácil, para a plateia, de serem identificados e analisados. Merece um crédito a mais, pelo fato de estar realizando o espetáculo com um dos braços imobilizado, fruto de um tombo uma semana antes da estreia.

Em 50 anos de carreira, MARCELLO PICCHI já viveu os mais diferentes personagens e conquistou, além de prêmios, o reconhecimento do público, que o está prestigiando neste seu primeiro trabalho-solo, o melhor presente, para comemorar o jubileu de ouro, como bom profissional da arte de representar.   



 




 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto e Direção: Thiago Picchi
 
Elenco: Marcello Picchi 
 
Cenário: Carlos Alberto Nunes
Figurino: Arlete Rua
Iluminação: Raphael Cassou
Trilha Sonora: Beto Ferreira.
Trabalho Vocal: Hílton Prado Antonella
Programação Visual: Leo Viana Design
Fotografia: Jeydsa Félix
Produção: Gabriela Vasselai.
 



 



 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 2 a 31 de maio de 2017.
Local: Teatro Cândido Mendes. 
Endereço: Rua Joana Angélica, 63 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: Às 3ªs e 4ªs feiras, às 20h.
Valor do Ingresso: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia-entrada).
Classificação Etária: 14 anos.
Gênero: Drama.
 



 



            Se você procura um bom espetáculo, no horário alternativo, pra preencher sua necessidade de alimentar a alma de alegria e emoção, “O PAPAGAIO” é uma boa pedida.

 
 

 
Marcelo e Thiago Picchi: ator e diretor; pai e filho = dois talentos.





(FOTOS: JEYDSA FÉLIX.)
 
 
 




 

 

 

 

 



 

 

 

 

 

 


 

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