sexta-feira, 2 de junho de 2017


OCUPAÇÃO MARCELINO FREIRE

– A PALAVRA AMASSADA ENTRE

OS DENTES


(A RADIOGRAFIA DE UMA SOCIEDADE.)


 
 


            Teve início, no dia 9 de maio passado, e vai até o dia 4 de junho, o próximo domingo, no SESC Copacabana, Rio de Janeiro, a “OCUPAÇÃO MARCELINO FREIRE - PALAVRA AMASSADA ENTRE OS DENTES”. Embora estejamos no último final de semana da temporada, vale o registro do que está acontecendo no SESC.

MARCELINO FREIRE é um consagrado escritor pernambucano, radicado em São Paulo, que está tendo seus textos montados em três espetáculos, simultaneamente, nessa “OCUPAÇÃO...”.

Do “release” do evento (com adaptações), enviado pela assessoria de imprensa (DANIELLA CAVANCANTI): “Apesar de já ter tido incursões pelo cenário carioca, onde seus livros foram lançados, e participar de eventos literários, é o projeto mais significativo de abordagem da obra de MARCELINO, no Rio, um dos maiores expoentes da escrita brasileira na contemporaneidade, que tem seus livros lançados em toda a América Latina e na Europa e atrai a atenção de diversos grupos, pelo Brasil, principalmente porque MARCELINO ‘escuta’ a rua; é dela que vem sua obra, repleta de personagens marginais, reconhecíveis e através de uma voz crítica, contundente e importante para os dias de hoje”. 

Três espetáculos estão sendo encenados nessa “OCUPAÇÃO...”: “UM SOL DE MUITO TEMPO”, “BALÉ RALÉ”, e “CONTOS NEGREIROS DO BRASIL”. Além disso, o projeto também abarca uma oficina literária, com o próprio MARCELINO; um sarau de poesias, com a participação do autor e dos poetas convidados Chacal e Mano Melo; e, ainda, disponibilizará um acervo, com uma seleção de livros do escritor, no Espaço de Leitura do SESC.

            Assisti aos três espetáculos teatrais, porém, por falta de tempo, só entrarei em detalhes técnicos com relação a um deles e, utilizando o critério de gosto pessoal, falarei, exatamente, daquele de que mais gostei, do que me falou, profundamente, na alma, que é “CONTOS NEGREIROS DO BRASIL”.

 

UM SOL DE MUITO TEMPO

(“LÁGRIMA EM ROSTO DE VELHO, É CHUVA.
SAI, ENCHENDO RIOS SECOS.
PROFUNDOS DESLIZAMENTOS.”)



 



                 
                        SINOPSE:
 
Trata-se de uma “performance” solo, feita por WILSON BELÉM, com direção de CADU CINELLI, a partir  de  seis  contos  de MARCELINO  FREIRE.
 
Personagens, como o Velho, os Acompanhantes, o Avô e a Criança, dão voz a pontos de vista distintos sobre o processo de envelhecimento e a senilidade.
 
Os contos são “A Última Sessão”, “Belinha”, “A Acompanhante”, “Hora do Banho”, “Vovô Valério Vai Voar” e “Troca de Alianças” e abordam o tema da senilidade.
 
A passagem do tempo incidindo sobre corpos, mentes e sentidos. Sobre velhos e acompanhantes. Sobre  avós  e netos. Sobre pais, sobre filhos. Sobre irmãos.
 
O texto se reporta tanto aos que vivem, na própria carne, o processo de envelhecimento como aos que estão por perto, atentos à inexorabilidade das horas.
 
Construindo um ambiente intimista, de cumplicidade e proximidade com o espectador, o ator fala pelos personagens destas histórias.
 
A teatralidade dos contos emerge não a partir de uma adaptação para a forma dramática (os contos são falados integralmente), mas através da valorização da riqueza rítmica, musical e poética da prosa do autor. São palavras e sons que constroem as imagens; sensações e afetos constroem as relações que se encarnam nas ações da cena.
 
 

 

 
 
 


 


 
 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Marcelino Freire (contos extraídos dos livros “AMAR É CRIME”, “ANGU DE SANGUE”, “BALÉ RALÉ” e “RASIF”)
 
Concepção e atuação: Wilson Belém
 
Direção: Cadu Cinelli
Cenografia e Iluminação: Cadu Cinelli
Assistência de Projeto Cenográfico: Harderson Oliveira
Cenotécnico: Alex Augusto
Figurino: Florencia Santangelo
Costureiro: Caio Braga
Preparação Vocal: Marianna Lima
Arranjo para Violão: Glória Calvente
Composição Musical para o Conto “TROCA DE ALIANÇAS”: Henrique Machado
Fotos: Caíque Cunha e Rafael Teixeira
Design Gráfico: Evee Ávila
Assessoria de Imprensa: Daniella Cavalcanti
Mídia Social: Rafael Teixeira
Direção de Produção: Thamires Trianon e Wilson Belém
Assistente de Produção: Raphaela Machado
Produção: 9 Meses Produções Artísticas
Idealização: Inácio e Belém Produções Artísticas
 
 


 


 





 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 09 de maio a 01 de junho de 2017.
Local: SESC Copacabana (Sala Multiuso – Cine-Teatro).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – Rio de Janeiro.
Dias e Horário: 3ªs, 4ªs e 5ªs feiras, às 20h.
Valor dos Ingressos: R$25,00 (inteira), R$12,00 (meia entrada) e R$6,00 (associado do SESC). 
Classificação Indicativa: 14 anos.
Duração: 60 minutos.
Lotação: 50 lugares.
 
 

 

 
 

 
 
 


BALÉ RALÉ

(“ESSA É UMA HISTORINHA INFANTIL.
MAS TEM SANGUE”.)



 



 
SINOPSE:
 
“BALÉ RALÉ” é a celebração da palavra. Mas é, também, sua execração. Porque não há palavra sagrada que dê conta de um mundo podre.
 
E esse tempo é político, como sempre, como tudo, mas mais agora, uma política à flor da pele, da qual não podemos nos safar, obliterar, ocultar mais. Não queremos.  Há um grito pendente no mundo, na fila, para ser gritado, há gerações. Os personagens marcelianos são essa metonímia - a de todos os gritos num único grito.
 
O espetáculo fecha uma trilogia, iniciada com “Feriado de Mim Mesmo” e “O Homossexual ou A Dificuldade de Se Expressar”.
 
O projeto dá continuidade à trajetória da companhia, marcada pela reflexão de algumas questões emergentes do país e do mundo, que atravessam conteúdos ligados à diversidade, à territorialidade, à modernidade e seu reflexo sobre o homem contemporâneo, numa reflexão contundente sobre os limites do corpo e da sociedade e de como estes podem estar dotados de uma potência revolucionária.
 
Falas, frases, falos, frases roubadas, pedaços vivos de cotidiano, matéria, coisa.
 
“BALÉ RALÉ” é música para os olhos.
 
Existe um destino trágico dos que estão na vanguarda. Estar conectado a um tempo, mas também a um espaço: o Rio, o Brasil, o mar, o sertão, o mundo. Em uma difusa e dispersa pós-modernidade, personagens marginais buscam por identidade.
 
“BALÉ RALÉ” é no presente. “BALÉ RALÉ” é um exercício de auto-escuta. É o homem, atribulado, perturbado por si, tentando, entre acordes e fugas, entre semitons e batuques, ouvir, auscultar a si mesmo. Personagens que são monstros, que despertam, como vulcões, seres atolados, que decidem cantar o que escutam nos seus próprios corações. Sensualidade, miséria, amor, vingança, ódio, existência.
 
Para falar de coisas concretas, recorremos ao melífluo universo do velado, da escuridão: um cabaré. Com ações extremadas, estes personagens não se limitam ao indivíduo, são o próprio mundo.
 
Os personagens de “BALÉ RALÉ” carregam o mundo nas costas, as dores e os amores. E isso tudo tem uma origem específica: são pedaços vivos, rejuntes da própria matéria social brasileira. São personagens que desabafam palavra e, por ela, desabam. São pedaços vivos de cotidiano, compondo um vozerio.
 
“BALÉ RALÉ” é uma peça sobre vozes e sobre corpos, impondo, ao público, o lugar de escuta. Personagens que são como vulcões em erupção, em momentos-limites, extremos, prontos para matar ou morrer.
 
“BALÉ RALÉ” é um depoimento.
 

 
 



 



 
 
FICHA TÉCNICA:
 
 
Texto: Marcelino Freire
Concepção e Direção: Fabiano de Freitas
Assistência de Direção: Juracy de Oliveira
 
Elenco: Blackyva, Leonardo Corajo, Maurício Lima, Samuel Paes de Luna, Vilma Mello e Juracy de Oliveira (Stand In)
 
Direção de Movimento: Márcia Rubim
“Design” de Luz: Renato Machado
Operadores de Luz: Iuri Wander e Celma Ungaro
Direção Musical: Gustavo Benjão
Cenografia: Pedro Paulo de Souza e Evee Ávila
Montagem de Cenário: Gérson Porto e Iuri Wander
Figurinos: Luiza Fardin
Costureira: Karen Bernardo
Assistência de Figurino: Julie Mateus
Pesquisa Visual: Evee Ávila
Visagismo: Josef Chasilew
Assessoria de Imprensa: Daniella Cavalcanti
Mídia Social: Rafael Teixeira
Fotos: Caíque Cunha e Rafael Teixeira
EQUIPE QUINTAL PRODUÇÕES: Verônica Prates (Direção de Produção), Valencia Losada (Coordenação Artística), Maitê Medeiros (Coordenação de Planejamento), Thiago Miyamoto (Produção Executiva), e Iuri Wander (Coordenação Técnica)
Motoboy: Amaro Salvador
Realização: Teatro de Extremos / Quintal Produções
 
 

 
 






 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 11 de maio a 04 de junho de 2017.
Local: SESC Copacabana (Arena).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 20h30min; domingo, às 19h.
Valor do Ingressos: R$25,00 (inteira), R$12,00 (meia entrada) e R$6,00 (associado do SESC).
Classificação Indicativa: 16 anos.
Duração: 60 minutos.
Lotação: 200 lugares.
Gênero: Drama.
 


 



 
 




CONTOS NEGREIROS DO BRASIL

(NINGUÉM AQUI É ESCRAVO DE NINGUÉM”.)

           
 

 
 
SINOPSE:
 
“CONTOS NEGREIROS DO BRASIL” leva o público a presentificar índices estatísticos, contextualizados  com  cenas, que  reproduzem  dores,  paixões,  medos,  alegrias  e  angústias.
 
A carne negra é exposta em suas dimensões e experiências reais, sociais e culturais. Um espetáculo documentário sobre a condição real e atual da negra e do negro no Brasil; seja o jovem estudante, o gay negro, a negra hipersexualizada pela sociedade, o menor infrator, a prostituta e a idosa.
 
Os personagens veem as cenas por meio de estatísticas, apresentadas pelo sociólogo e filósofo RODRIGO FRANÇA, com dados atuais, que são expostos para a plateia, em imagens desenhadas e projetadas.
 
Os atores LI BORGES e MILTON FILHO interpretam todos os personagens, contidos nos 12 contos do livro “Contos Negreiros”, de MARCELINO FREIRE.
 
 


 



 



            Dos três espetáculo a que assisti, este foi o que mais me tocou, pela profundidade dos textos, pela bela direção, de FERNANDO PHILBERT, e pela magistral interpretação do elenco, LI BORGES, MILTON FILHO E RODRIGO FRANÇA.

            Com os contos utilizados nesta montagem, o autor, além de situar o negro na sociedade brasileira, mostrando, abertamente e sem poupar realidade, o quanto ele sofre, para se impor, como cidadão, para ter vez e voz, nos chama a atenção para a ancestralidade da raça, mostrando a sua importância e influência na formação da cultura brasileira, em toda a sua miscigenação.

            Nesse viés, ganha força, no espetáculo, a religiosidade, explorada no foco às religiões de origem africana. Vez por outra, os textos são intercalados por frases e/ou citações em yoruba, sem falar nos diversos cantos, nessa mesma língua, que são entoados, ao longo de toda a encenação. É tudo muito emocionante, contagiante, e confesso estar arrepiado, agora, ao escrever estas palavras, porque estou me reportando à sessão em que assisti à peça.

            As informações que nos chegam, pela mídia, sobre toda a sorte de atrocidades que, até hoje, sofre a raça negra, no Brasil, do racismo, de forma geral, à violência, física e moral, por que passam, tornam-se mais iluminadas, pelas impressionantes e revoltantes estatísticas, que vão sendo, brilhantemente, apresentadas, e fixadas, em painéis-lousa, por RODRIGO FRANÇA, didaticamente, porém com um toque teatral, que as valoriza.

            O trabalho dos atores é magnífico. Tanto LI quanto MILTON, em apresentações solo ou quando dialogam, valorizam, sobremaneira, o texto de MARCELINO. Ambos, ao assumir a sua negritude, a sua identidade, demonstram orgulho por sua origem, e isso é muito bonito e serve para mostrar, aos que, ainda, não se conscientizaram de que a cor da pele não faz a menor diferença, dentro da raça humana, que “black is beautiful”, que negro é gente, como qualquer pessoa de outra cor, e merece ser visto e tratado com respeito e dignidade.
 
 


            PHILBERT, a cada dia, vem se firmando como um dos nossos melhores diretores contemporâneos e soube captar toda a essência das mensagens contidas nos textos de MARCELINO, conduzindo seu excelente trio de atores a uma “performance” que contagia, mexe, profundamente, com os corações, que são todos da mesma cor.

            Uma das grandes ideias do diretor foi pedir a LI e MILTON que redigissem um texto, adicional, falando dos seus sentimentos e narrando uma experiência própria de vida, em que ficasse marcada a sua condição de negro. E o resultado foi fantástico. As duas últimas cenas da peça têm, como coautores, os dois. Ambos os textos são lindos e muito valorizados pela interpretação da dupla.

            Saí daquela sala, para assistir a outro espetáculo da “OCUPAÇÃO MARCELINO FREIRE”, com a vontade de ficar ali mesmo e rever tudo aquilo e me emocionar novamente.

Para a nossa alegria, principalmente a de quem não conseguiu, ainda, ver a peça ou deseja, como eu, revê-la, o espetáculo voltará ao cartaz, no próximo dia 13 de junho e será encenado até o dia 26 de julho, sempre às 3s e 4ªs feiras, às 20h, no Teatro Poeirinha.  

             
 
 


 


 
 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Marcelino Freire
Direção: Fernando Philbert
Assistente de Direção: Mery Delmond
 
Elenco: Li Borges, Milton Filho e Rodrigo França
 
Direção Musical: Maíra Freitas
Cenário e Figurino: Natália Lana
Cenotécnico: André Salles e Equipe
Costureira de Figurino: Zilena Costa
Iluminação: Vilmar Olos
Pesquisa, Texto Descritivo e Iconografia: RodrigoFrança
Pesquisa de Cânticos e Idioma Yoruba: Ya Erelu Lola Ayonrinde, Babalorixá Anderson Soares Conceição, Babá Tebe É Bruno Henrique Silveira Macedo e Professor Fábio França.
Diretor de Cena: James Simão
Fotos: Caíque Cunha e Rafael Teixeira
Mídia social: Rafael Teixeira
Direção de Produção: Sérgio Canizio
Contabilidade: TA Consultoria e Assessoria Financeira Contábil
Realização: Diverso Cultura e Desenvolvimento.
 
 


 
 







 
 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 12 de maio a 04 de junho de 2017.
Local: SESC Copacabana (Sala Multiuso)
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana – Rio de Janeiro
Dias e Horários: De 6ª feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Valor do Ingressos: R$25,00 (inteira), R$12,00 (meia entrada) e R$6,00 (associado do SESC).
Classificação Indicativa: 14 anos
Duração: 70 minutos
Lotação: 50 lugares
Gênero: Drama
 
 

 

 




(FOTOS: CAÍQUE CUNHA
E
RAFAEL TEIXEIRA.)



 



 



 





 


 
 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 



 



 



 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário