terça-feira, 26 de setembro de 2017


BITUCA –
MÍLTON NASCIMENTO PARA CRIANÇAS

 
(TRILOGIA ENCERRADA COM CHAVE DE OURO.)


 
 

 
            Duas talentosas pessoas, dois grandes artistas, PEDRO HENRIQUE LOPES e DIEGO MORAIS, tiveram uma brilhante ideia: por meio do TEATRO INFANTOJUVENIL, resolveram homenagear grandes músicos da chamada MPB, ao mesmo tempo, apresentando-os aos pequenos, que merecem e têm a obrigação de conhecer o talento desses grandes nomes e mestres.
            Assim, construíram uma trilogia, que já apresentou “Luiz e Nazinha – Luiz Gonzaga Para Crianças”, em que o homenageado foi o grande “Rei do Baião”, e “O Menino das Marchinhas – Braguinha Para Crianças”, focado na obra do grande compositor João de Barro. Ambas foram grande sucesso de público e de crítica, tendo merecido prêmios e muitas indicações a tais, assistidas por mais de cem mil pessoas.
            Para fechar, com chave de ouro, o projeto, a dupla nos apresenta “BITUCA – MÍLTON NASCIMENTO PARA CRIANÇAS”, que fez uma vitoriosa temporada, recentemente, no Teatro dos Quatro, tendo retornado ao cartaz, no último domingo (24/09/2017), no Anfiteatro do Morro da Urca (VER SERVIÇO.) Esta será bem curta, mas há a possibilidade de outras, muito em breve. Fiquem atentos! De qualquer forma, vale a pena o passeio ao aprazível Morro, fazer uma linda viagem no bondinho e, ainda por cima, deliciar-se com este maravilhoso espetáculo.
            Segundo o “release”, enviado por RACHEL ALMEIDA, da assessoria de imprensa, o espetáculo, um Musical infantil (Para mim, infantojuvenil; ou melhor, PARA TODAS AS IDADES.) se inspira na trajetória do músico, para expor temas importantes e delicados como respeito às diferenças raciais e sociais, adoção e o papel da família e da amizade na formação dos indivíduos. O espetáculo integra o premiado projeto ‘Grandes Músicos para Pequenos’...”.
 
            Como bem se vê, além de tudo, trata-se de um espetáculo didático, sem o viés, por vezes, “chato” do didatismo, e aborda temas tão importantes, principalmente numa época em que, infelizmente, temos de driblar e enfrentar o ódio, o preconceito e a intolerância. E tudo isso embalado pelas canções de um dos maiores compositores e intérpretes da Música Popular Brasileira de todos os tempos, o inimitável MILTON NASCIMENTO.
 
 
 


            Sem a menor sombra de dúvidas, o projeto “GRANDES MÚSICOS PARA PEQUENOS”, idealizado pela ENTRE ENTRETENIMENTO, empresa em que PEDRO e DIEGO são sócios, que abarca os três espetáculos anteriormente citados, é digno do maior respeito e admiração, por ser uma tentativa, muito bem sucedida, diga-se de passagem, de “homenagear e preservar a memória de grandes nomes da Música Popular Brasileira”, num país sem memória e onde se cultua mais o que vem de fora do que a “prata da casa”, sem falar no consumo do mau gosto, representado por tantos movimentos “musicais”, ditos “artísticos”. Não tenho culpa de ter um gosto musical apurado e saber a diferença entre MÚSICA e genéricos. Quem não gostou do que eu disse, paciência, mas vá conhecer o que é música de verdade, vendo o “BITUCA”!  
O espetáculo aqui analisado, como os anteriores, foi escrito por PEDRO HENRIQUE LOPES, dirigido por DIEGO MORAIS, contando com a direção musical de GUILHERME BORGES.
É inspirado na vida e na obra de MILTON NASCIMENTO e “expõe, em cena, a ternura e os desafios inerentes ao processo de adoção e as dificuldades de inserção de uma criança negra em um ambiente majoritariamente branco”.

O elenco é formado por UDYLÊ PROCÓPIO (BITUCA), MARTINA BLINK (DONA LILIA, MÃE ADOTIVA), ALINE CARROCINO (MARICOTA, COLEGA DO GRUPO ESCOLAR), ANNA PAULA BLACK (AVÓ e MÃE MARIA), MARINA MOTA (PROFESSORA DO GRUPO ESCOLAR) e PEDRO HENRIQUE LOPES (SALOMÃO, COLEGA DO GRUPO ESCOLAR).


 
 



 
SINOPSE:
 
O elenco conta, e canta, a história do pequeno MILTON, que, ao ficar órfão, aos dois anos de idade, é adotado pelos patrões de sua avó, os quais se veem obrigados a uma mudança de cidade.
 
Chegando a Minas Gerais, o menino precisa lidar com o preconceito da sociedade, por seu negro e ter pais brancos, mas enfrenta tudo isso com determinação e bom humor, fazendo da música seu maior escudo e arma, para vencer todos os obstáculos.
 
Apesar de ser um tributo ao grande artista, além dos fatos reais de sua vida, também foram criados momentos ficcionais, com o objetivo de debater temas da maior relevância, como adoção, “bullying” e preconceito racial, de maneira lúdica, leve, mas que provoque reflexão.
 
Também pode ser constatada uma grande homenagem à maternidade e à ampliação dos modelos de família, outro assunto tão discutido atualmente.
 



 

            Deve ter sido uma tarefa muito difícil para o autor do texto, o diretor, e o excelente diretor musical, GUILHERME BORGES, selecionar 20 canções para o “set list”, as quais não surgem do acaso, uma vez que as letras têm uma ligação direta com a narrativa. GUILHERME já provou seu grande talento em outros grandes trabalhos, em musicais, e aqui, também, não deixa por menos, compondo arranjos lindos e voltados para o lúdico que o espetáculo exige.
 



 
 "SET LIST":
“CANÇÃO DA AMÉRICA” - “MARIA, MARIA” - “TUDO O QUE VOCÊ PODIA SER” - “COISAS DA VIDA” - “BOLA DE MEIA, BOLA DE GUDE” - “FÉ CEGA, FACA AMOLADA” - “CORAÇÃO DE ESTUDANTE” - “NADA SERÁ COMO ANTES” - “CAÇADOR DE MIM” - “NOS BAILES DA VIDA” - “PAISAGEM NA JANELA” - “QUEM SABE ISSO QUER DIZER AMOR” - “PONTA DE AREIA” - “PARA LENNON E MCCARTNEY” - “CANÇÃO DO SAL” - “AMOR DE ÍNDIO” - “CAXANGÁ” - “CALIX BENTO” - “NUVEM CIGANA e ”TRAVESSIA, não exatamente nessa ordem.
 


 

Essas belíssimas e emblemáticas canções da MPB, como diz o “release” da peça, “transportam o espectador para esse universo todo especial do músico, que passa pelas belezas de Minas Gerais, rezadeiras, relicários e movimento barroco.”.
No que se refere ao texto, assim como nos anteriores, PEDRO constrói diálogos que estão ao nível de entendimento de qualquer criança de inteligência média, sem muita sofisticação, mas com muito bom gosto e na medida certa, sem gorduras. São diálogos bem ágeis, para que a peça possa seguir uma fluência num ritmo próprio para o público-alvo, o qual não aceita morosidade, textos longos e arrastados. É tudo muito dinâmico, enriquecido pela ótima direção, de DIEGO MORAIS e pelo trabalho de direção de movimento e coreografias, que não consta na ficha técnica fornecida pela assessoria de imprensa.
Um espetáculo deste tipo pega o espectador pelo texto e pelo visual, daí a grande importância dos cenários e figurinos, que levam a marca do talento de CLIVIA COHEN, impecáveis, em todos os sentidos.
 
 
 
Os cenários são belíssimos, com um painel, ao fundo, feito de “fuxicos” enormes, com predominância do azul, sendo que outros, menores, fazem o acabamento da ribalta, reunidos, lado a lado. Uma delicadeza só, que predomina nas outras peças, que são painéis, os quais, reunidos, formam um trenzinho e, separadamente, quando virados, se transformam em vários espaços, como uma sala de aula, o quarto do BITUCA, a sala da casa dos pais dele, a sala da direção da escola. Quando não funcionam como esses ambientes, se apresentam na forma de lindos e gigantescos relicários, pelos quais sou apaixonado e dos quais tenho uma vasta coleção, com destaque para um grande Espírito Santo, marca registrada do artesanato mineiro e da arte popular.
CLÍVIA também é responsável pelos adereços utilizados nesta montagem, à exceção dos dois bonecos que personificam BITUCA, quando bebê e quando menino, muito bem manipulados, diga-se de passagem, criação de JOSÉ COHEN.
Para completar o cenário, entram em cena, quando necessário, móveis escolares, para compor o ambiente da sala de aula.
Os figurinos também são um destaque dentro dos elementos plásticos do espetáculo; criativos, coloridos e muito bem confeccionados, um detalhe importante em figurinos teatrais.
Também contribui para a beleza plástica do musical e iluminação, projetada por CARLOS LAFERT, sempre adequada a cada cena e canção executada.
Os personagens, mesmo os infantis, passam, facilmente, a sua verdade, graças, em parte, ao trabalho de visagismo, de VÍTOR MARTINEZ.
Falar do elenco é uma das tarefas mais fáceis e, ao mesmo tempo, de difícil execução.
 
 
 
Seria fácil, se eu apenas dissesse que TODOS SÃO EXCELENTES, QUER ATUANDO, QUER CANTANDO, mas se torna, não difícil, mas trabalhosa, quando o propósito é fazer uma análise individual, mais aprofundada, do trabalho de cada ator/atriz.
Comecemos pelo protagonista, UDYLÊ PROCÓPIO, que eu não conhecia e me encantou com seu BITUCA. Infelizmente, não havia assistido a nenhum de seus trabalhos anteriores, mas já admito não perder nenhum dos próximos. Seu “physic du role” se aproxima muito da imagem de MILTON, quando bem mais jovem, e, além de ser bastante afinado, tem um belo timbre de voz, potennte também, e isso é muito bom, já que o verdadeiro MILTON é considerado um dos melhores cantores brasileiros de todos os tempos. Além de tudo, o ator coloca a alma na voz, de acordo com o teor de cada letra. Belíssimo trabalho!
 
 
 
Nas críticas aos espetáculos anteriores, da trilogia, já tive a oportunidade de enaltecer os trabalhos de MARTINA BLINK e ALINE CARROCINO.
MARTINA tem uma belíssima atuação, esbanjando doçura e sentimento materno, da primeira à última cena, sem falar na beleza de sua voz e na maneira doce como a emite
ALINE, a despeito de também saber fazer uso da voz, para cantar, sobressai-se como atriz, muito em função de sua personagem. É dona de uma energia contagiante e executa com tanta verdade a função de encrenqueira, fofoqueira, implicante, preconceituosa, “sincera” demais, que acaba angariando – a personagem – a antipatia de muita gente, prova de que a atriz cumpre, à risca, o papel que lhe deram. Paradoxalmente, é a personagem que mais provoca o riso da plateia, por seus exageros e “micos’.
ANA PAULA BLACK, também com ótima presença cênica, tanto como a AVÓ como MÃE MARIA, passa um astral leve, de paz, de muito amor, carinho e tolerância, de que tanto carecemos.
MARINA MOTA, como a professora do grupo escolar, tem, aparentemente, uma menor importância na trama, o que não corresponde à verdade, e a atriz tambén defende, com muita competência, seu papel. A personagem evolui de uma inicial aparente rejeição a BITUCA, pressionada pelos outros pais, até uma aceitação total do menino e assume, totalmente, sua defesa.
Para o final, deixei PEDRO HENRIQUE LOPES, dono de um currículo invejável, como ator, que, atuou como protagonista, nas duas primeiras peças, da triçlogia, e, nesta, assume um papel coadjuvante, que bem poderia não ter tanto destaque, porém vivido por ele, o personagem cresce bastante, no decorrer do espetáculo, e o resultado final do seu trabalho é merecdor dos maiores elogios.
 
 

 
FICHA TÉCNICA:
Texto: Pedro Henrique Lopes
Direção: Diego Morais
Direção Musical: Guilherme Borges
Elenco: Udylê Procópio (Bituca), Martina Blink (Dona Lilia, mãe adotiva de Bituca), Aline Carrocino (Maricota, colega de escola de Bituca), Anna Paula Black (Avó de Bituca e Mãe Maria, mãe biológica de Bituca), Marina Mota (Professora do Grupo Escolar) e Pedro Henrique Lopes (Salomão, colega de escola de Bituca)
Cenários, Figurinos e Adereços: Clívia Cohen
Bonecos: José Cohen
Iluminação: Carlos Lafert
Desenho de Som: Afonso Batistela
Caracterização e Visagismo: Vítor Martinez
Produção e Realização: Entre Entretenimento
 




 
 
 

 
SERVIÇO:
Temporada: De 24 de setembro a 8 de outubro.
Local: Anfiteatro do Morro da Urca (acesso belo Bondinho).
Endereço: Avenida Pasteur, 570, Urca – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2546-8400.
Dia e horário: Apenas aos domingos, às 11h.
SESSÃO EXTRA: DIA 12 DE OUTUBRO, 5ª FEIRA (DIA DAS CRIANÇAS), ÀS 11 HORAS.
Ingressos: R$60,00 (inteira) e R$30,00 (meia entrada), incluindo a passagem do Bondinho.
Lotação: 500 pessoas.
Duração: 55 minutos.
Classificação: Livre.
Funcionamento da Bilheteria: Todos os dias, das 8h às 20h.
Assessoria de imprensa: Racca Comunicação - Rachel Almeida
(21) 3579-1352 | (21) 99196-1489 | racca.almeida@gmail.com
 
 




 

            A tendência de quem “consome” é querer sempre mais. Somos muito exigentes. Se uma companhia de TEATRO apresenta um bom espetáculo e promete um segundo, automaticamente, exigimos que seja melhor que o anterior ou, pelo menos, igual, em qualidade. Não sei dizer se gosto mais do primeiro ou do segundo espetáculo, da trilogia, que são, igualmente, excelentes, entretanto, de todos, o que mais me tocou, por todos os elementos aqui analisados, é este “BITUCA”.
           Já havia assistido à penúltima sessão da primeira temporada, mas não achei pertimente lançar a crítica depois de a peça ter saído de cartaz, motivo que me fez aguardar esta segunda, para me expressar, com muito carinho e alegria sobre ela.
 


“Nossa ideia é criar espetáculos com conteúdos atraentes para as famílias, para aproximar as gerações”, dizem os idealizadores do espetáculo,
“A ideia é trazer o legado de uma cultura, quase esquecida, para as novas gerações, com um conteúdo atraente para as famílias”, descreve PEDRO HENRIQUE LOPES
 “Queremos criar experiências de entretenimento inesquecíveis e marcantes, onde o espectador participe de forma ativa”, explica o diretor DIEGO MORAIS.
PEDRO e DIEGO, podem ter a plena certeza de que vocês atingem, sempre, o seu objetivo. Trata-se de um espetáculo para toda a família e para todas as idades, para os fãs ou não de MILTON NASCIMENTO.
 


Um apelo: NÃO PAREM NA TRILOGIA! Lembrem-se de que há outros tantos gonzagas, braguinhas e miltons por aí, à espera de um reconhecimento, em vida, de preferência, e estão ávidos de serem apresentados aos pequenos, que desejam que eles conheçam suas trajetórias na MPB, suas conquistas, no Brasil e no exterior. E os pais e avós, como eu, certamente, seremos eternamente gratos a vocês.

 


FOTOS: ANDRÉA ROCHA,
JOSÉ COHEN
e
JÚNIOR MANDRIOLA.)

 
 
 
 
 
 
 

 

 

 

 



 

 

 

 

 

 



 

 

 
 

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