quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

BIBI –
UMA VIDA EM MUSICAL

(BIBI: UMA VIDA QUE VALE TODOS OS MUSICAIS.
ou
UMA OBRA-PRIMA,
SEM O MENOR ESPAÇO
PARA QUALQUER
TIPO DE ERRO.)






            Sejam as minhas primeiras palavras de um enorme agradecimento a THEREZA TINOCO e a CLÁUDIA NEGRI, por terem tido a feliz e iluminada ideia de idealizar um espetáculo musical, homenageando alguém ainda em vida, coisa tão rara, no Brasil, sendo que esse “alguém”, ainda em atividade, aos 95 anos de idade, é, nada mais, nada menos, que a maior estrela do TEATRO BRASILEIRO de todos os tempos. E o termo “estrela” vai, aqui, empregado pelo fato de sua arte atingir várias mídias e funções, não apenas como atriz. Sem mistérios maiores, pois todos os que me leem já se deram conta de quem estou falando, preparem seus corações para uma viagem no tempo, a fim de conhecer um pouco mais sobre DONA BIBI FERREIRA, nascida Abigail Izquierdo Ferreira.

            De acordo com o “release”, enviado pela assessoria de imprensa (MEIZE HALABI), o espetáculo “é uma produção com 19 atores, 8 músicos, 120 figurinos, 30 perucas, sapatos e chapéus sob medida, 800 metros de tecidos, 12 costureiras, 300 refletores e uma cena com 1.490 lâmpadas”. Resumindo, uma superprodução, DE VERDADE, que emprega cerca de uma centena de profissionais.

            E segue o “release”, dizendo o que todos nós já esperávamos ver em cena: “um tributo inédito à maior estrela do teatro nacional, que está em cena há 76 anos”.

            Uma vida inteira dedicada às artes, é a própria BIBI quem diz: “Não consigo lembrar de mim fora de um teatro”.

“A trajetória pessoal e profissional dessa estrela brasileira só poderia ser contada, e celebrada, levando para o palco o próprio palco, das companhias de comédia, do teatro de revista, dos grandes musicais e do teatro engajado, em que ela atuou”, ainda consta no “release”.






SINOPSE:

Em “BIBI, UMA VIDA EM MUSICAL”, a história familiar, profissional e amorosa da artista se enredam. 

A formação em música, dança e línguas estrangeiras foi estimulada pela mãe AÍDA IZQUIERDO, bailarina espanhola. 

A estreia profissional no teatro, aos 19 anos, foi pela mão do pai, o ator PROCÓPIO FERREIRA, em papel escrito, por ele, para a filha. 

Assim, o musical percorre todas as fases da vida de BIBI, da escolha do seu nome, sua preparação para os palcos, os espetáculos musicais, como os inesquecíveis “Gota D’Água”, de Paulo Pontes e Chico Buarque, "Minha Querida Dama" (“My Fair Lady”), “Alô Dolly” ("Hello, Dolly") e “Piaf, a Vida de Uma Estrela da Canção”, seus casamentos, o nascimento da filha única, Tina Ferreira, as viagens para Portugal e Inglaterra, a trabalho e a estudo, a homenagem da escola de samba Viradouro, até sua chegada a um teatro da Broadway, aos 90 anos.







            Sem mais delongas (entreguei a idade), passemos a fazer um comentário crítico sobre o musical, de longe, um dos melhores - se não o melhor - musicais biográficos a que já assisti em toda a minha vida. E não foram poucos; não foram mesmo.

            Comecemos pelo texto, base de sustentação de qualquer peça de TEATRO. Depois de ter marcado muitos pontos positivos, com “Hebe – O Musical”, em cartaz em São Paulo, cujo roteiro foi baseado na biografia da artista, escrita pelo próprio, ARTUR XEXÉO acertou a mão, neste “BIBI...”, ao lado de LUANNA GUIMARÃES, com quem divide a tarefa de contar a trajetória dessa grande dama do TEATRO BRASILEIRO, da juventude aos dias atuais. Grande mérito da dupla! Parece-me que, na verdade, XEXÉO é o co-autor do texto, o que não faz a menor diferença.

            No texto, não ficam de fora os principais fatos e momentos que marcaram a vida de BIBI, ela que, mesmo sem a menor noção do que seria uma artista, entrou em cena, pela primeira vez, aos 24 dias de idade, na peça “Manhãs de Sol”, de autoria de Oduvaldo Vianna, substituindo uma boneca, que desaparecera pouco antes do início do espetáculo.

            Quanto à idade exata de BIBI, não pairam dúvidas com relação ao ano: 1922, o da “Semana de Arte Moderna”, que balançou os alicerces da genuína cultura nacional. Coincidentemente, no ano em que surgiu um representativo movimento de vanguarda cultural, no Brasil, também nasceu BIBI. Ou será que “estreou”? Já sobre o dia certo do nascimento, há muitas dúvidas. Parece que nem BIBI sabe, ao certo, o dia em que veio ao mundo. A mãe dizia que ela nascera em 1º de junho; o pai falava que a data era 4 de junho, mas sua certidão de nascimento traz a data de 10 de junho. Isso era muito comum naquele tempo.

            Ainda bem pequenina, seus pais se separaram e BIBI passou a viver com a mãe, que foi trabalhar na Companhia Velasco, uma companhia de teatro de revista espanhola. Seu primeiro idioma, até os quatro anos, foi o espanhol. O idioma português e o grande amor pela ópera ela viria a aprender com o pai.




De volta ao Brasil, tornou-se a atriz mirim mais festejada do Rio de Janeiro. Entrou para o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde permaneceu por longo tempo, até estrear na companhia do pai. Aos nove anos, teve negada a matrícula no Colégio Sion, em Laranjeiras, por ser filha de um ator de teatro, o que não era visto com bons olhos, naquela época; não poderia se misturar com as meninas “de família”.

Profissionalmente, sua estreia se deu em 28 de fevereiro de 1941, quando interpretou Mirandolina, na peça “La Vocandieira”.

Em 1944, montou sua própria companhia teatral, reunindo alguns dos nomes mais importantes do TEATRO BRASILEIRO, como Cacilda Becker, Maria Della Costa e a diretora Henriette Morineau. Pouco mais tarde, foi para Portugal, onde dirigiu peças, durante quatro anos, com grande sucesso.

É bom acrescentar, também, que estudou TEATRO, durante uma boa temporada, em Londres.

Na década de 60, vieram os sucessos dos musicais, como “Minha Querida Dama” (My Fair Lady), ao lado de Paulo Autran, com quem formou outras duplas de protagonistas. Ainda nessa época, atuou, também, em outros musicais de TEATRO e televisão. Em 1960, iniciou a apresentação, na TV Excelsior de São Paulo, de "Brasil 60" (61, 62, 63, etc., conforme o ano), um programa ao vivo, que levou, à televisão, os maiores nomes do TEATRO, aproximando as duas mídias e ajudando a promover este. Um dos grandes entrevistados foi seu próprio pai, uma lenda viva, à época, do TEATRO BRASILEIRO.









Na década de 70, dirigiu e/ou atuou em grandes e inesquecíveis espetáculos, teatrais e musicais, como na direção da primeira versão de “Brasileiro, Profissão: Esperança”, de Paulo Pontes, com Maria Bethânia e Ítalo Rossi. Quatro anos depois, remontou o espetáculo, contando com a atuação de Paulo Gracindo e Clara Nunes, lotando, por meses, a maior casa de “shows” do Rio de Janeiro, à época, o o lendário Canecão. Em 1972, atuou no emblemático musical “O Homem de La Mancha”, como Aldonza/Dulcinéa, repetindo a dobradinha BIBI FERREIRA/Paulo Autran, com tradução de Paulo Pontes e Flávio Rangel, com direção deste, além das versões de Chico Buarque e Ruy Guerra, para as lindas canções da trilha do musical, que ainda contava com Grande Otelo, como Sancho Pança, no elenco. Esse musical havia sido trazido por Paulo Pontes, que assistira a uma montagem dele na Broadway e achou que seu conteúdo tinha tudo a ver com o momento político brasileiro de então. Em 1975, participou da emblemática e inesquecível montagem de “Gota “D’Água”, uma versão moderna e urbana da tragédia “Medeia”, de Eurípedes, numa releitura de Chico Buarque e Paulo Pontes, um dos maiores sucessos do TEATRO BRASILEIRO, em todos os tempos, espetáculo que ficou meses em cartaz, com total aprovação de público e de crítica e que mostrou um outro lado de BIBI, a engajada nos problemas sociais, mais próxima ao povão, numa personagem, Joana, completamente distante do “glamour” de outras por ela representadas anteriormente. Em 1976, dirigiu Walmor Chagas, Marília Pêra, Marco Nanini e mais 50 artistas, em “Deus Lhe Pague”, um clássico da dramaturgia brasileira, de Joracy Camargo.































Na década de 80, marcou presença, com a descoberta de que poderia interpretar a diva Edith Piaf. Foi em 1983 que estreou “Piaf, a Vida de uma Estrela da Canção”, trabalho que, além da consagração do público e da crítica, lhe rendeu alguns prêmios. Aliás, prêmios não lhe faltaram e, ainda hoje, os recebe, à farta. Gastaríamos dezenas de linhas, para enumerá-los. “Piaf...” fez muitas viagens, permaneceu seis anos em cartaz e, em quatro anos, atingiu um milhão de espectadores, incluindo uma temporada em Portugal, com atores portugueses no elenco.

Na década de 90, montou, pela terceira vez, “Brasileiro, Profissão: Esperança”, com ela mesma atuando, ao lado de Gracindo Júnior. Fez, ainda, um outro espetáculo, em que cantava canções e contava histórias de Piaf, comemorou seus 50 anos de carreira, com o espetáculo “Bibi in Concert” (1 e 2) e dirigiu, pela primeira vez, uma ópera, “Carmen”, de Bizet.






Em 2003, foi recebida nos braços do povo, em plena Avenida Marquês de Sapucaí (Sambódromo), quando, homenageada pela Escola de Samba Unidos do Viradouro, foi tema de enredo, no carnaval carioca.




A VIRADOURO CANTA E CONTA BIBI - UMA HOMENAGEM AO TEATRO BRASILEIRO

(G.R.E.S Unidos do Viradouro - RJ)

O teatro consagrou e pede passagem.
A Viradouro, meu amor, faz a homenagem.
O teatro consagrou e pede passagem.
A Viradouro, meu amor, faz a homenagem.

Abram as cortinas, que o show vai começar.
É "manhã de sol", um rouxinol vem despertar.
Voa, vai tocar no seu coração.
Amor, nessa avenida, quanta emoção
Em cada gesto, em cada expressão,
Em cada lágrima que vai sorrir.
Diva, brilha a voz dos grandes musicais.
Nesse palco, os artistas imortais
Hoje vão te aplaudir.

Se um vento soprar, eu vou.
Deixa o "Dom" me levar, amor.
Vou em busca de um ideal,
No meu sonho de carnaval.

Se um vento soprar, eu vou.
Deixa o "Dom" me levar, amor.
Vou em busca de um ideal,
No meu sonho de carnaval.

Em toda forma de arte,
Uma luz acendeu.
A "Gota D'Água" faz parte
Dos seus encontros com Deus.
"Piaf, um hino ao amor",
"A vida de uma estrela da canção"
Em uma noite de esplendor.
"Amália" foi sua inspiração
E, quando o sol se põe,
Desce uma estrela lá do céu.
Vem reviver, ao seu lado, Bibi,
O seu mais brilhante papel.





 



Na década de 2010, BIBI se dedicou a realizar espetáculos focados em apenas um artista, como Piaf, por quem ela tem grande admiração, Amália Rodrigues, a Rainha do Fado, e o ícone Frank Sinatra. Após 50 anos afastada do teatro de comédia, voltou aos palcos, como atriz, fazendo “Às Favas com os Escrúpulos”, texto de Juca de Oliveira e direção de Jô Soares.

Em 2015, entrou para a lista das 10 Grandes Mulheres que Marcaram a História do Rio de Janeiro, ao lado, simplesmente, de nomes como Dona Ivone Lara, Chiquinha Gonzaga, Cecília Meireles, Leila Diniz, Maria Lenk, Carmen Miranda, Nise da Silveira, Helô Pinheiro e a Princesa Isabel.

Aos 90 anos, conseguiu realizar um sonho/profecia, que foi cantar na Broadway, em New York, para um enorme público, que a ovacionou.
    
Aos 95 anos, ainda faz sua turnê de despedida dos palcos, com o “show” “Bibi - Por Toda Minha Vida”, espetáculo só com músicas brasileiras.

BIBI é, também, homenageada, em São Paulo, como sendo o nome do mais importante prêmio, do Brasil, exclusivamente para TEATRO MUSICAL, idealizado por Marllos Silva, o "PRÊMIO BIBI FERREIRA", a cujas cerimônias faço questão de comparecer, convidado que sou.


 


            Musicais biográficos não têm muito como fugir a uma forma, ou fórmula, para contar a vida do personagem, que não seja seguir uma ordem cronológica (isso até serve para facilitar, ao espectador, o acompanhamento do espetáculo), o que é motivo de crítica negativa, para muita gente, mas que, a mim, não incomoda nem um pouco; ao contrário, gosto muito. O que me desagrada é quando o texto é mal escrito, o que não é o caso em tela; ocorre, justamente, o oposto. É um texto limpo, preciso, necessário.

            Para ser considerado bom, dentre outras exigências, a parte referente à trilha sonora de um musical tem de agradar aos ouvidos, quer seja ela formada por canções conhecidas, quer utilize composições originais. É ótimo, quando deixamos o teatro com alguns trechos, ou canções inteiras, na memória, a afetiva, principalmente. É claro que, também, é preciso que todas as canções estejam inseridas no contexto da história. Isso ocorre em “BIBI...”. São 33 canções, ao todo. A utilização de músicas conhecidas, todas de grande sucesso, em décadas anteriores, e as composições criadas, especialmente, para a peça (5), todas da lavra de THEREZA TINOCO, são de um bom gosto a toda prova e, perfeitamente, ocupando os lugares e momentos corretos.

            Ainda na área musical, mais uma vez, TONY LUCCHESI, de reconhecido talento, assume a difícil tarefa de assinar a direção musical do espetáculo, além de, também, ser responsável pelos arranjos, contando com a luxuosa assistência de ALEXANDRE QUEIROZ e LÉO BANDEIRA. O que não falta é harmonia, na área musical, não só pelo fato de todo o elenco se sair muito bem, no canto, como também pela parte que cabe à ótima banda, formada por ALEXANDRE QUEIROZ (regência e piano), MIGUEL SCHÖNMANN (teclado, violão e cavaquinho), LÉO BANDEIRA (bateria), DAVID NASCIMENTO (baixo), THAIS FERREIRA (violoncelo), LUIZ FELIPE FERREIRA (violino), ÉVERSON MORAES (trombone) e GILBERTO PEREIRA (flauta, clarinete, sax alto e sax tenor). Oito músicos, produzindo um som que parece vir de uma orquestra de muitos outros.






            SUELI GUERRA faz um excelente trabalho de coreografia e direção de movimento, coordenando um elenco de muitos atores, harmoniosamente colocados em cena. Nas coreografias, originais e ajustadas a cada momento, ela procura ocupar todo o espaço cênico, principalmente na cena em que BIBI dança com GUILHERME LOGULLO, ao som de “Estrada do Sol”, de Tom Jobim e Dolores Duran, muito bem interpretada pelo casal de atores, celebrando o início do romance de BIBI com PAULO PONTES.

            A parte cenográfica é uma das grandes atrações do espetáculo, a cargo de NATÁLIA LANA, que se preocupou em fazer uma homenagem ao TEATRO, utilizando as estruturas básicas da cenografia à mostra, “sem coberturas”, segundo a própria. São utilizados muitos trainéis (elementos de madeira ou tecido, móveis e bidimensionais, nos quais se pode pintar um muro, jardim, porta, parede, janela etc.,) praticáveis, palco, boca de cena, telões, rotunda, ciclorama, bambolinas e pernas (elementos que se caracterizam como limite lateral do palco). A intenção disso, segundo a cenógrafa, é prestar uma merecida “homenagem aos técnicos de palco, que ficam atrás das cortinas, mas que fazem o espetáculo acontecer”. Achei brilhante a ideia!

            Revelou-me, ainda, NATÁLIA que, “no primeiro ato, os elementos cenográficos retratam a cenografia de uma época, com telões pintados e mais realistas; já no segundo, que se passa a partir da década de 60, mostramos um rompimento com o realismo, e utilizamos um cenário mais abstrato, que busca receber e trabalhar com a luz”. Complementa a talentosa NATÁLIA LANA que “foi muito importante ter a direção, a iluminação e os figurinos neste mesmo conceito, para que fosse obtida uma unidade no espetáculo”. Isso se chama trabalho em equipe e só pode dar certo. Em TEATRO, ninguém faz nada sozinho.






            Peguemos o gancho, então, para fazer referência à belíssima iluminação, de ROGÉRIO WILTGEN, que não desperdiça a luz, com invenções desnecessárias, algumas vezes, vistas em outras produções, quase à guisa de “experimentos”, por vezes, desastrosos. Tudo - intensidade e tons - neste desenho de luz, é ótimo e ajuda a criar imagens que não se apagarão de nossas mentes.

            Aplausos, de pé, para a suntuosidade e a criatividade, nos figurinos – muitos e todos –, desenhados e idealizados pela dupla NEY MADEIRA e DANI VIDAL. Não há um, sequer, que não esteja adequado a cada momento, a cada cena, sem falar no bom gosto da dupla e na qualidade dos acabamentos, o que, via de regra, não é muito comum, em figurinos teatrais. A elegância dos modelos usados por BIBI, ao longo de sua carreira, veste AMANDA ACOSTA, assim como, elegantemente, se apresentam todos os outros personagens da peça.

            O desenho de som, de GABRIEL D’ÂNGELO, é correto, o que significa que ele, com sua comprovada competência, venceu, mais uma vez, um desafio, do qual ouço falar muito, que é resolver as dificuldades para uma boa equalização de som, no Teatro OI Casa Grande, pelas enormes dimensões deste (quase mil lugares, com um grande balcão). Som perfeito e cristalino.

            TADEU AGUIAR brilha na direção do espetáculo, sabendo pôr em relevo aquilo que mais o merece, com soluções bonitas, práticas e de fácil assimilação, para o público, até o mais leigo. Contando com a assistência de FLÁVIA RINALDI, TADEU fugiu ao piegas, soube explorar o talento individual de cada ator/atriz, valorizou a competência de cada um, individualmente, e o resultado é um espetáculo que pode ser considerado uma OBRA-PRIMA, motivo de orgulho para nós, brasileiros, daqueles em que, o mais exigente dos críticos não haverá de encontrar erros, mesmo se os procurar, utilizando a maior lente de aumento “fabricada pela NASA(momento descontração). É preciso muita falta de sensibilidade e bom gosto, para não aplaudir este espetáculo, de pé, e fazer ecoar muitos gritos de "BRAVO!".




            TADEU AGUIAR, com seu “faro” e grande experiência no ramo, contando com sua competente e fiel equipe, escalou o elenco ideal para a peça. Procuro ver outros atores, substituindo os personagens principais, ou os de maior destaque, e, por mais que me venham à mente nomes de grandes profissionais, o que, felizmente, há bastante, hoje em dia, entre nós, não consigo imaginar, por exemplo, outra pessoa encarnando BIBI, que não seja AMANDA ACOSTA, ou PROCÓPIO FERREIRA, que não CHRIS PENNA.

            Já que estamos falando de atores e atrizes, passemos a dissertar sobre o excelente elenco do musical. Da protagonista a quem faz o personagem mais coadjuvante, todos, sem exceção, cumprem suas funções com a maior garra e competência, passando, para o público, a mais sincera impressão de prazer naquilo que estão fazendo. É impossível não enxergar verdade em todos.

         AMANDA ACOSTA, que, assim como BIBI, já viveu, no palco, a personagem Eliza Doolittle, de “My Fair Lady” (BIBI, em 1962; AMANDA, em 2006), é um fenômeno a ser estudado. Não sei como pode caber tanto talento num corpo franzino, que se presta a construir uma personagem a qual atravessa décadas, promovendo, com sua postura, as transformações corporais da personagem, fruto do envelhecimento natural, assim como o da sua voz. Sim, senhores! AMANDA “envelhece” fisicamente e na voz, também, conseguindo cantar como a BIBI de hoje, no mesmo nível de excelência como cantava a homenageada, quando ainda era jovem. Um fantástico trabalho de composição de personagem, que não é de imitação barata, caricatural. AMANDA se sente BIBI, e o resto - gestos, vozes, postura, trejeitos, tiques... – tudo vai sendo incorporado à personagem, da forma mais natural possível. Será difícil disputar, com ela, o prêmio de Melhor Atriz em musical ou, simplesmente, o de Melhor Atriz, de uma forma geral, no ano de 2018.

            AMANDA, que, além de grande atriz, é dona de uma belíssima e afinada voz,  é uma espécie de talismã, para TADEU AGUIAR, sob cuja direção já havia feito, com grande sucesso, “Essa é a Nossa Canção”“Baby, o Musical” e “4 Faces do Amor”. Não há quem não poupe elogios ao magnífico e indiscutível trabalho da atriz.









            As pessoas que reconhecem o talento de AMANDA são as mesmas que, também, de forma unânime, aplaudem, freneticamente, a magistral atuação de CHRIS PENNA, interpretando o pai de BIBI, PROCÓPIO FERREIRA, um dos mais reverenciados atores brasileiros de todos os tempos.

            Conheço CHRIS há dez anos, temos uma amizade pessoal, do que muito me orgulho, mas a coloco em último plano, para avaliar seu trabalho. Sempre reconheci nele um enorme talento, que nunca tivera, até agora, a oportunidade de ser explorado. Talhado para musicais, grande cantor e exímio dançarino, sempre participou de grandes espetáculos, nos quais se destacava muito, é verdade, mas não como ator. Neste “BIBI...”, felizmente, a sua hora chegou, o que eu já lhe havia antecipado, há uns três anos, em plena Banda de Ipanema, num momento em que, um pouco triste e decepcionado com a carreira, ele chegou a acenar com a hipótese de abandoná-la. Orgulho-me de lhe ter feito esquecer aquele plano e continuar investindo na carreira, na certeza de que seu dia haveria de chegar. E ele chegou. E o melhor: com o total reconhecimento do público e da crítica. Sua composição do personagem faz com que ele fique irreconhecível, no palco, sem muitos recursos de maquiagem, a não ser uma pequena prótese, para acentuar o nariz “abatatado” de PROCÓPIO. No mais, é pesquisa, é estudo, é dedicação, é competência... É um grande ator, defendendo um grande papel. Tenho certeza de que seu talento, tão aplaudido, até em cena aberta, também fará dele indicado a premiações. Dê, a um bom ator, um bom papel e ele lhe retribuirá em dobro!






            Os outros três papéis de maior destaque foram entregues a LEO BAHIA, FLÁVIA SANTANA e ROSANA PENNA, os quais, respectivamente, vivem um MESTRE DE CERIMÔNIAS (de um circo), uma CIGANA e a VÓ IRMA (avó de BIBI). Eles são encarregados de costurar o espetáculo, como narradores, fazendo a ponte entre as cenas, seguindo um delicioso texto, que permite pitadas de um bom humor, da parte dos três, com um pouco de acentuação, nesse item, para LEO. É ótimo o trabalho do trio.






            SIMONE CENTURIONE complementa o tripé da família FERREIRA. Ela é AÍDA ISQUIERDO FERREIRA, uma bailarina argentina, mãe de BIBI, numa interpretação bastante correta, embora a personagem não ganhe tanta relevância, na trama, quanto PROCÒPIO. Além de uma boa atriz, SIMONE domina o canto e é sempre muito agradável ouvi-la cantar e vê-la interpretar.




            BIBI teve vários amores, uns mais perenes, outros mais meteóricos, porém todos marcaram sua vida, de alguma forma, e, na peça, alguns deles estão presentes, vividos por CARLOS DARZÉ (o diretor CARLOS LAGE, o primeiro marido, com quem BIBI se casou em Assunção, no Paraguai, em 1943), LEANDRO MELO (HÉLIO RIBEIRO), que conseguiu transformar a atriz em vedete do teatro de revista, e GUILHERME LOGULLO (PAULO PONTES, muitos anos mais novo que BIBI, com quem ela foi casada durante oito anos, até que o consagrado dramaturgo faleceu, precocemente, de câncer, aos 36 anos de idade). Os três dão conta dos personagens.




            Além desses, BIBI também se casou com Armando Carlos Magno, apenas citado na peça, pai de sua única filha, Teresa Cristina (TINA FERREIRA), no musical, interpretada por MOIRA OSÓRIO, e os atores Herval Rossano e Édson França. É o que se sabe...
    
            Com relação a essas relações amorosas, achei bastante interessante a ideia dos dramaturgos e da direção de inserir canções conhecidas, de grande sucesso, para marcar os finais dos relacionamentos encenados. Assim, Temos CARLOS DARZÉ, cantando “Fim de Caso”, a belíssima canção de Dolores Duran, e LEANDRO MELLO, cantando “Boa Noite, Amor”, a linda valsa de José Maria de Abreu e Francisco Matoso.




            Personagens que fizeram parte, direta ou indiretamente, da vida de BIBI são representados, na peça, por ótimos atores em papéis coadjuvantes, como ANALU PIMENTA (VANDA, fiel amiga), ANDRÉ LUIZ ODIN (REPÓRTER e DIRETOR DE CINEMA), MOIRA OSÓRIO (CACILDA BECKER, além de TINA FERREIRA, como já dito), BEL LIMA (MARIA BETHÂNIA e MARIA DELLA COSTA), JULIE DUARTE (LÍGIA FERREIRA), CARLOS DARZÉ (REPÓRTER e VIANINHA, além de CARLOS LAGE, já citado), JOÃO TELLES (SR. PRAXEDES, o censor), LEONAM MOARES (ÍTALO ROSSI), FERNANDA GABRIELA (FOTÓGRAFA, HENRIETTE MORINEAU e THEREZA ARAGÃO), CAIO GIOVANI (MAQUIADOR e LOUIS ARMSTRONG, em homenagem), LUÍSA VIANNA (NEIDE, a fiel escudeira, secretária particular, espécie de governanta, até hoje) e LEANDRO MELO (FERREIRA GULLAR, além de HÉLIO RIBEIRO, de quem já falei). Todos esses também atuam em pequenos papéis e marcam uma excelente presença no coro.

            Nada melhor, para abrir este espetáculo, do que mostrar um circo-teatro, o “Circo Queirolo”. O circo-teatro era um espaço/gênero, que, se não foi criado no Brasil, aqui teve pleno desenvolvimento. Tratava-se de um circo que, além de números tradicionais, de acrobacias, malabarismos, mágicas e palhaçarias, apresentava adaptações de peças de TEATRO. Muitos dos grandes nomes do TEATRO BRASILEIRO, do início do século passado, tiveram nele suas origens, como PROCÓPIO FERREIRA, que levou toda a sua vida, sonhando com a regulamentação da profissão de ator, o que só se deu pela Lei 6533, de 6 de maio de 1978, assinada pelo ditador de plantão, Ernesto Geisel, tendo sido este, provavelmente, o seu único gesto a merecer louvor. Ainda bem que PROCÓPIO conseguiu ver seu sonho realizado, já próximo à sua morte, que se deu um ano depois, em 18 de junho de 1979, um ano após a lei ter sido assinada.






            Ouvi, certa vez, de um famoso homem ligado a musicais, meu amigo e de nome respeitado, que uma peça desse gênero tem de terminar o 1º ato com uma cena “para cima”, que possa gerar, no espectador, o desejo de tomar seu cafezinho ou ir ao banheiro, no intervalo, e voltar, logo, para a sua poltrona, aguardando o restante do espetáculo, e não tomar o caminho de casa, entediado. E, quanto ao 2º ato, este deve ser iniciado por uma cena das mesmas proporções da que fez o pano fechar, ao final do ato anterior. Os autores do roteiro também devem conhecer essa máxima, porque escolheram encerrar o 1º ato com uma sequência maravilhosa de "Minha Querida Dama" (“My Fair Lady”) (Não assisti, porque tinha 13 anos, à época, e não consegui ninguém que me levasse ao teatro.) e iniciar o com um delicioso “medley” de "Alô Dolly" (“Hello, Dolly”), duas das mais marcantes cenas do espetáculo (Assisti a essa, sozinho, no Teatro João Caetano, com quase 17 anos, e, a partir de então, jamais perdi um espetáculo que tinha BIBI no elenco ou na direção.).






            Além dessas, merecem destaque muitas outras mais (eu poderia dizer: a peça inteira), como a da morte de PAULO PONTES, emocionante e aplaudidíssima, ao final da sequência de canções de “Gota D’Água”; o hilário momento em que BIBI e PAULO PONTES tentam driblar a “sanha” implacável do SR. PRAXEDES (JOÃO TELLES), o censor, o qual estava querendo proibir a encenação de “Brasileiro, Profissão: Esperança”, chegando a sua ignorância e intolerância ao ponto de liberar a peça, desde que trocassem as tolhas vermelhas das mesas, por lembrarem o comunismo, exigindo que fossem substituídas por outras, de cor diferente (Episódio parecido com esse aconteceu comigo, numa peça em que atuei, no início dos anos 70.); a belíssima cena do começo da relação com PAULO PONTES; a da reação da crítica, desfavorável, com relação a um espetáculo de BIBI, quando é cantada uma linda canção original e na qual se percebe o requinte desta produção, ao reproduzir, com perfeição, jornais da época, estampando manchetes desfavoráveis à peça. Também ficam, na memória, todas as cenas das quais a personagem NEIDE participa, por conta do “timing” de humor da atriz LUÍSA VIANNA.

           






FICHA TÉCNICA

Texto: Artur Xexéo e Luanna Guimarães
Música Original: Thereza Tinoco
Direção Musical e Arranjos:  Tony Lucchesi
Direção: Tadeu Aguiar

Elenco (em ordem alfabética: Amanda Acosta, Analu Pimenta, André Luiz Odin, Bel Lima, Caio Giovani, Carlos Darzé, Chris Penna, Fernanda Gabriela, Flávia Santana, Guilherme Logullo, João Telles, Julie Duarte, Leandro Melo, Leo Bahia, Leonam Moraes, Luísa Vianna, Moira Osório, Rosana Penna e Simone Centurione .

Coreografia e Direção de Movimento: Sueli Guerra
Cenário: Natália Lana
Figurino: Ney Madeira e Dani Vidal
Desenho de Luz: Rogério Wiltgen
Desenho de Som: Gabriel D’Ângelo
Visagista: Ulysses Rabelo
Fotos: Carlos Costa (divulgação) e Guga Melgar (programa e cena)
Assistência de Direção: Flávia Rinaldi
Assistência de Coreografia: Olívia Vivone
Assistência de Direção Musical: Alexandre Queiroz
Assistência de Iluminação: Wagner Azevedo
Direção de Produção: Eduardo Bakr
Logística e Produção de Montagem: Norma Thiré
Assistência de Produção: Fabiano Bakr e Fábio Bianchinni
Produção e Coordenação Geral: Cláudia Negri
Coordenação Artística: Thereza Tinoco
Idealização: Thereza Tinoco e Cláudia Negri
Realização: Negri e Tinoco Produções



 



SERVIÇO:

Temporada: De 5 de janeiro a 1º de abril de 2018
Local: Teatro Oi Casa Grande
Endereço: Avenida Afrânio de Melo Franco, 290, Leblon – RJ
Telefone: (21) 2511-0800 
Dias e Horários: 5ª e 6ª feira, às 20h30min; sábado, às 17h e 21h; domingo, às 19h 
Duração  140 minutos (com intervalo)
Indicação Etária 10 anos
Capacidade 926 lugares
Valor dos Ingressos: Plateia VIP = R$150,00; Plateia Setor 1 = R$120,00;
Camarote = R$150,00; Balcão 2 = R$90,00; Balcão 3 = R$50,00 – Os valores são referentes à entrada inteira, porém há preços de meia entrada para os que, legalmente, fizerem jus ao benefício.
Vendas antecipadas:  tudus.com.br







            O espetáculo chega ao fim, com uma cereja importada para o delicioso bolo, uma joia de fruta, que é a projeção, num espelho de camarim, de várias imagens de BIBI, em todas as fases de sua vida e carreira artística.

            “BIBI – UMA VIDA EM MUSICAL” é um espetáculo para ficar anos em cartaz, por ser lindo, tecnicamente perfeito, uma obra poética, uma celebração ao TEATRO e à vida.

  A vida de BIBI se confunde com a história do TEATRO BRASILEIRO.

  É uma justíssima homenagem a quem protagoniza, até hoje, a história do verdadeiro e mais competente TEATRO BRASILEIRO.

E VAMOS AO TEATRO!!!

VAMOS OCUPAR TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO!!!



(FOTOS: CARLOS COSTA 
GUGA MELGAR, 
além de ARQUIVO e DIVULGAÇÃO.)


















































































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