sábado, 17 de fevereiro de 2018


GRANDE SERTÃO: VEREDAS


(DAS PÁGINAS DE UM CLÁSSICO 
DA LITERATURA MUNDIAL
AO PALCO,
UMA MAGNÍFICA ADAPTAÇÃO
E
UMA FANTÁSTICA MONTAGEM TEATRAL.)







           
Estando em São Paulo, no final do ano passado, não consegui assistir a um espetáculo indicado por todos os meus amigos paulistanos e pela crítica local, tão grande era a procura por um lugar para vê-lo.

Finalmente, há alguns dias, matei o meu grande desejo a saciei a minha imensa curiosidade. É uma OBRA-PRIMA!!! Basta esse único adjetivo composto, para uma classificação justa!!!

            OBRA-PRIMA!!! É como qualifico o espetáculo “GRANDE SERTÃO: VEREDAS”, uma leitura cênica, ou uma “instalação cênica”, de um dos melhores livros da literatura brasileira, mundialmente consagrado, de autoria de um gênio, JOÃO GUIMARÃES ROSA, idealizada e realizada por uma das nossas grandes encenadoras, BIA LESSA, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB - RJ) (VER SERVIÇO.).

            No detalhadíssimo e cuidadoso “release” da peça, enviado pela assessoria de imprensa (SAULO CAMPOS - APRROACH COMUNICAÇÃO), o espetáculo é “vendido” como uma “instalação/espetáculo”, e a designação está muito bem aplicada à obra, já que se trata de um trabalho multimídia, que extrapola os limites de um palco e a linguagem única do TEATRO.






            A começar pelo espaço em que se dá a ação, qual seja a rotunda do CCBB-RJ, na qual foi montada uma estrutura retangular, com andaimes metálicos, de maneira a formar um teatro de arena, em dois níveis. Tudo parece se passar dentro de uma gaiola ou uma cela, que, ao mesmo tempo que aprisiona, liberta. E, aqui, o vocábulo “arena” quase que pode ser decodificado com o seu valor denotativo: “parte central dos anfiteatros romanos, coberta de areia, onde se realizavam combates entre gladiadores e feras”; ou “espaço circular, fechado, para touradas e outros espetáculos”. É que o se vê, durante os 160 minutos de duração do espetáculo, embora a areia só seja “vista” pelos olhos se quem deseja vê-la: uma sangrenta batalha entre homens, jagunços, em busca de vingança ou lavagem da honra, seguindo-se os ditames de uma cultura primitiva, rudimentar, mas na qual cabe espaço para a descoberta do amor e uma luta contra, e por, ele. A tentativa da não-aceitação e o arrependimento por não tê-lo vivido, na sua plenitude.

            O espetáculo impacta o espectador, desde que este adentra o CCBB, e se deixa embevecer por uma instalação, que ocupa a rotunda daquele espaço cultural, um pouco mais concentrada nas proximidades do Teatro I, desativado, enquanto durar a temporada de “GRANDE SERTÃO...”. A obra de arte, assinada por BIA LESSA, que envolve, também, iluminação, pode ser admirada e “sentida” por quem transitar por aquele espaço, durante o dia e a noite.











SINOPSE:

Em montagem inédita, na rotunda do CCBB Rio de Janeiro, BIA LESSA propõe, a um só tempo, uma peça de TEATRO e uma instalação, em sua adaptação do livro “GRANDE SERTÃO: VEREDAS” – matriz do moderno romance brasileiro e obra-prima de JOÃO GUIMARÃES ROSA. 

A peça traz, para o palco, a saga do jagunço RIOBALDO (CAIO BLAT), que atravessa o sertão, para combater seu maior inimigo, HERMÓGENES (LEON GÓES)fazer um pacto com o diabo e viver seu amor por DIADORIM (LUIZA LEMMERTZ).

O cenário-instalação estará aberto à visitação do público.







SINOPSE (AMPLIADA) DO TEXTO ORIGINAL:

A peça se inicia com o narrador, em primeira pessoa, RIOBALDO, contando fatos diversos e de difícil compreensão, desconexos, acerca de suas inquietações sobre a vida. Ele parece não ter domínio do seu juízo.
Aborda, de forma meio alienada, e alienante, questões complexas, dentre as quais há espaço para a origem do homem, reflexões sobre a vida, com destaque para digressões sobre o bem e o mal, Deus e o diabo... Tudo isso, repito, sem obedecer a uma organização de suas ideias, o que não as torna muito claras, para o leitor/público.
As coisas só começam a ser ditas de forma compreensível, com o surgimento de um personagem, QUELEMÉN DE GÓIS, que o ajuda, em parte, e o protagonista dá início à narrativa, propriamente dita, o corpo principal da obra.
Uma vez com os pensamentos mais organizados, inicia por trazer à luz memórias de seu passado, contando fatos sobre sua mãe e como conheceu o menino REINALDO, que se declarava ser “diferente” e de quem admirava a bravura.
Com a morte de sua mãe, RIOBALDO é levado, para viver com o padrinho, SOLORICO MENDES, na fazenda São Gregório, onde tem a oportunidade de conhecer JOCA RAMIRO, grande chefe dos jagunços.
SELORICO ocupa-se de que o rapaz estude e, após um tempo, RIOBALDO chega a ensinar as letras e outros conhecimentos a ZÉ BEBELO, um fazendeiro local. Este, que objetivava acabar com a atuação dos jagunços na região, convida RIOBALDO, para fazer parte de seu bando, o que o jovem, prontamente, aceita.  E, assim, começa a história da primeira guerra, narrada no romance.
HERMÓGENES liderava um bando de jagunços. Ele e seus homens, por um pouco tempo, assumem uma contenda contra ZÉ BEBELO e os soldados do governo, entretanto resolve desistir da batalha.
Após isso, RIOBALDO decide deixar o bando de ZÉ BEBELO e é quando se dá o seu encontro com REINALDO, um rapaz, como já disse, “diferente”, muito valente e corajoso, que integrava o bando de JOCA RAMIRO, mas decidiu, então, juntar-se ao grupo do qual RIOBALDO fazia parte.
A amizade entre os dois se fortalece, assim como a confiança de um no outro, paulatinamente, até que REINALDO decide confidenciar, a RIOBALDO, seu nome verdadeiro: DIADORIM.





Num determinado momento, ocorre uma batalha entre o bando de ZÉ BEBELO e o de JOCA RAMIRO, quando aquele é capturado e julgado por um “tribunal”, composto pelos líderes dos jagunços, dos quais JOCA RAMIRO é o chefe supremo. HERMÓGENES e RICARDÃO são favoráveis à morte do prisioneiro. No fim do julgamento, porém, JOCA RAMIRO decide-se pela liberdade de ZÉ BEBELO, com uma condição: a de que ele “se exilasse”, para Goiás, e não voltasse, até segunda ordem.
Após o julgamento, RIOBALDO e REINALDO juntam-se a um outro bando, o de TITÃO PASSOS, que também lutou ao lado de HERMÓGENES.
Dá-se um longo período de paz e prosperidade no sertão, até que um jagunço, chamado GAVIÃO-CUJO, procura o grupo de TITÃO, para informá-lo de que JOCA RAMIRO fora traído e morto por HERMÓGENES e RICARDÃO, os quais passam a ser considerados como “os judas”, assim denominados dali em diante.
Quando se dá tal revelação, RIOBALDO estava tendo um caso amoroso com a prostituta NHORINHÁ e, posteriormente, envolve-se, amorosamente, com OTACÍLIA, por quem se apaixona. Isso, curiosa e estranhamente, provoca ciúme em DIADORIM, que fica com raiva e, durante uma discussão com RIOBALDO, perde o domínio da razão e chega a ameaçá-lo, com um punhal.
Os jagunços se reúnem, para combater “os judas”, e, assim, começa a segunda guerra, organizada sob novas lideranças: de um lado, HERMÓGENES e RICARDÃO, assassinos de JOCA RAMIRO e traidores do bando; do outro, os jagunços liderados por ZÉ BEBELO, que retorna, para vingar a morte de seu salvador. Em certo momento da narrativa, os dois bandos se unem, para tentar fugir do cerco armado pelos soldados do governo, mas o bando de ZÉ BEBELO foge, na surdina, do local, e deixa HERMÓGENES e seus homens lutando, sozinhos, contra os soldados.
RIOBALDO entrega um topázio a DIADORIM, o que simbolizaria a união entre os dois, numa metáfora, ainda que não intencional, de um anel de compromisso, que os prenderia, como um casal, mas DIADORIM o recusa, dizendo que deveriam esperar o final da batalha.
Quando o grupo de ZÉ BEBELO chega às Veredas-Mortas, em dado momento, RIOBALDO faz um pacto com o diabo, sob o pretexto de conseguir vencer o bando de HERMÓGENES. Assumindo uma fictícia identidade, com o nome de URUTU-BRANCO, ele toma a si a chefia do bando e ZÉ BEBELO deserta do grupo. Não conformado com a recusa de DIADORIM, em receber o topázio, RIOBALDO pede a um jagunço que o entregue, então, a OTACÍLIA, o que firma o compromisso de casamento entre os dois.





O bando liderado por RIOBALDO (ou URUTU-BRANCO) segue em caça por HERMÓGENES, chegando até sua fazenda, já em terras baianas. Lá, eles aprisionam a mulher do “judas” e, não o encontrando, voltam para Minas Gerais. Em um primeiro momento, dão de cara com o bando de RICARDÃO, e URUTU-BRANCO o mata. Por fim, chegam ao grupo de HERMÓGENES, no Paredão, e há uma grande e sangrenta batalha.
DIADORIM enfrenta HERMÓGENES, em confronto direto, e ambos morrem. RIOBALDO descobre, então, que DIADORIM é, na realidade, a filha de JOCA RAMIRO e se chama MARIA DEODORINA DA FÉ BITTANCOURT MARINS.


OBSERVAÇÃO: À exceção de CAIO BLAT, LUIZA LEMMERTZ e LEON GÓES, que assumem um único papel, os nomes dos demais atores não aparecem ao lado dos seus respectivos personagens, pois eles se revezam em vários e, por vezes, o mesmo personagem é vivido por mais de um ator/atriz.










            Sabe-se que o espaço físico em que se dão as ações, no romance, é o sertão brasileiro, centrado em partes dos estados da Bahia e de Minas Gerais. Algumas referências geográficas correspondem à realidade; outras, porém, são frutos da fertilíssima imaginação de ROSA. O sertão é, incrivelmente, transposto para o espaço cênico, desprovido de elementos de cena desnecessários. O pouco que lá existe é muito, é tudo.

            Antes de qualquer comentário sobre esta inesquecível montagem, faz-se necessário exaltar o trabalho de BIA LESSA, na adaptação e direção da peça, a sua coragem, a sua determinação e o seu talento. ROSA escreveu: Contar é muito, muito dificultoso.”. Carece de ter coragem...”. Mais “dificultoso”, ainda, foi o irretocável tratamento que BIA deu ao texto, que é longo (mais de 600 páginas), mantendo todas as situações e sendo fiel à singular linguagem de ROSA, sua marca registrada, como o maior neologista brasileiro de todos os tempos. Acrescente-se a isso a fusão de linguagens que BIA utilizou nesta montagem, mesclando o TEATRO com outras formas de expressão artística, como, a dança, as artes plásticas a música. Os 250 bonecos, em tamanho de um adulto, confeccionados pelo artista plástico, aderecista, cenógrafo e diretor FERNANDO MELLO DA COSTA, feitos de um material rústico, que se assemelha ao feltro e, ao mesmo tempo, lembra aqueles cobertores de baixíssima qualidade, é algo que impressiona o espectador, à primeira vista, e já colabora para que ele seja transportado ao universo pretendido pela encenadora. O conjunto compõe uma imagem permanente: a cena da morte de DIADORIM, como um presépio, passível da participação do público, não só como espectador, mas também como agente da ação, ocupando o lugar da personagem”.











            No original, o livro, único romance escrito por GUIMARÃES ROSA, publicado em 1956,  não é marcado por divisões. O personagem-narrador conta a história a um interlocutor desconhecido, que nunca se pronuncia, a quem ele chama "Senhor", "Moço" ou "Doutor". Esse passa a ser cada um dos espectadores.

O romance constrói-se como uma longa narrativa oral. As histórias vão sendo emendadas, articulando-se com a preocupação do narrador de discutir a existência ou não do diabo, do que depende a salvação de sua alma. Isso, na adaptação para o TEATRO, faz com que o espetáculo ganhe bastante dinamismo.

O que nos é oferecido, fisicamente, atinge a nossa visão, a audição e, pode-se dizer, o tato; apenas o paladar e o olfato não são aguçados, provocados, se bem que, confesso, em alguns momentos, pareceu-me sentir um cheiro áspero de terra seca, aquela que o espectador “vê”, em cena, sem que ela lá esteja fisicamente. Uma obra-de-arte!!!

            Há um “mito” acerca da leitura da obra, considerada hermética em demasia, de difícil compreensão, por boa parte das pessoas, principalmente pela linguagem rosiana,  entretanto é inacreditável a capacidade que BIA LESSA teve de fazer uma leitura do romance e uma adaptação dramatúrgica, capaz de atingir a quem leu o livro e aos que não o fizeram, da forma mais simples e descomplicada possível. Para conseguir isso, é preciso ter uma convivência profunda com a obra de GUIMARÃES ROSA e um conhecimento pleno de seu SERTÃO, o que BIA tira de letra. Basta lembrar o grande sucesso que fez, na inauguração do Museu da Língua Portuguesa (São Paulo), em 2006, com uma exposição sobre o SERTÃO do grande mestre, aclamada, pelo público e pela crítica, por onde passou.










            Não é por acaso que o espetáculo foi vencedor do Prêmio APCA, como Melhor Direção (BIA LESSA) e indicado ao Prêmio Shell de Teatro (São Paulo), nas categorias Direção (BIA LESSA), Ator (CAIO BLAT) e Música (EGBERTO GISMONTI), após uma longa temporada, de casa lotada, na capital paulista, no SESC Consolação.

            Segundo BIA, O TEATRO, para mim, é sagrado. Me dedico a ele, de tempos em tempos, não me sinto com capacidade de realizar espetáculos, um após o outro. Me deparei com o ‘GRANDE SERTÃO’ e ele se apoderou de mim mais uma vez. Quando montei a exposição, algumas questões se apresentavam: a principal delas era como utilizar imagens, sem que o significado do SERTÃO de GUIMARÃES ficasse reduzido a um único lugar. A opção, na época, foi trabalhar apenas com palavras. No TEATRO, essa questão volta a se impor: 'o sertão está dentro da gente'. Nosso caminho foi realizar um trabalho em que homens, animais e vegetais estabelecessem uma relação de diálogo, sem supremacia entre eles. Não estamos, exatamente, no sertão, mas em um espaço “ecológico” e metafísico, onde tudo cabe. Um espaço, uma imagem, que nos possibilita a experiência proposta pelo romance, sem, obviamente, realizar o romance, tal como é – fidelidade absoluta (todas as palavras ditas são de GUIMARÃES ROSA), mas liberdade infinita, visto que é apenas uma das leituras possíveis da riquíssima obra de GUIMARÃES. Escolhemos não utilizar grandes efeitos ou recursos, a não ser a valorização do universo sonoro dos espaços propostos pelo romance, apenas os próprios atores”.

A diretora tem a intenção de abrir nossos olhos para o fato de que há um “GRANDE SERTÃO” dento de cada um de nós, uma aridez que nos desafia a vencer nossos inimigos, surjam eles da forma como surgirem.







De forma alguma, para criar o clima de sertão, do agreste, poderia faltar a colaboração preciosíssima de EGBERTO GISMONTI, na parte musical. EGBERTO, um dos mais completos e competentes músicos brasileiros, com carreira internacional, assina a trilha sonora, composta por três “camadas”, as quais, por vezes, se sobrepõem: os ruídos e sons ambientes, de animais, principalmente; a música original, composta pelo próprio; e canções que mexem com a nossa memória emotiva/afetiva, com músicas que fazem parte do imaginário popular. A utilização de fones de ouvido, distribuídos a cada espectador, leva cada um, do atento público, a se fixar mais em um ou outro som, cada um vivendo o que se pode chamar de uma experiência única.

            Como a acústica, para TEATRO, no espaço em que se dá a encenação, praticamente, não existe, a direção, muito inteligentemente, houve por bem espalhar, estrategicamente, microfones, direcionais ou não, muito possantes, por todo o espaço cênico, além de pôr à disposição de cada espectador, como já disse, um fone de ouvido, com tratamento higienizado, de forma que não se perde, absolutamente, nada das falas dos atores e dos sons de pássaros e outros animais, além de ruídos diversos, tais como vento, chuva e carros de boi, por exemplo, com a maior nitidez de som, o que ajuda o público a se deixar levar por aquela viagem e “participar”, de certa forma, das ações. Contribui, para isso, o impecável desenho de som, de FERNANDO HENNA e DANIEL TURINI. É algo extraordinário!!! Uma experiência inenarrável e inesquecível!!!

Vale o registro de que a plateia tem um comportamento exemplar e fica, durante quase três horas, sem intervalos, presa ao espetáculo, atenta e interessada, “sorvendo” cada palavra, alimentando-se de cada gesto... Ninguém se lembra, sequer, do maldito celular, ninguém conversa, à exceção, no dia em que assisti à peça, de um grupo de senhoras, ao meu lado, que não deviam nem saber por que estavam ali, as quais sorriam e trocavam comentários jocosos, a cada vez que um ator ou atriz se despia em cena, o que me fez pedir-lhes, mais de uma vez, que se comportassem como pessoas educadas, civilizadas.

            A atmosfera sombria da obra não comporta uma paleta de cores vivas e diversas, de modo que SYLVIE LEBLANC optou, acertadamente, na confecção de todos os trajes, pela cor preta: calças, blusas, batas, camisetas, malhas, vestidos, tudo meio amorfo, como uns andrajos, sem obedecer a formas padronizadas de corte e feitio, provocando um excelente efeito visual, sem a menor preocupação em desenhar trajes típicos do sertão. Isso facilita, bastante, para ao ator, que se multiplica em vários personagens, fazendo uso, apenas, de um ou outro adereço, e a plateia, ao mesmo tempo que parece nivelar todos, jagunços e fazendeiros, poderosos e oprimidos, por meio desse fantástico figurino.







            Nem precisava dos números que estão presentes, no “release”, para se chegar à conclusão de quanto esforço físico e tempo foram necessários durante todo o processo: mais de 600 horas com o elenco, em ensaios diários por 92 dias. Nessa faina toda, se encaixa o incrível trabalho de movimentação e preparação corporal, a chamada direção de movimento, por conta de AMÁLIA LIMA, diariamente, durante todo o tempo de ensaios.

            Fiquei com uma certa dúvida, quanto a quem assina o desenho de luz da peça, uma vez que a ficha técnica do espetáculo registra os nomes de BIA LESSA e, também, de BINHO SCHAEFER. Não importa. Basta saber que funciona muito bem, na encenação. 

            Para encerrar esta cuidadosa análise da peça, falta falar do magnífico elenco, outro grande acerto da direção, que reúne atores experientes, de comprovado talento, no TEATRO e em outras mídias, e jovens incipientes, porém não insipientes, de várias partes do Brasil. São dez pessoas, totalmente engajadas no projeto, que, praticamente, estão presentes, no espaço cênico, ou circulando pelas adjacências, durante toda a peça, num perene exercício de profunda interpretação, vivendo seres humanos, animais diversos, como bois e vacas, peixes, sapos e galinhas, além de outros elementos da natureza, tais como pedras, árvores, plantas...  

            O protagonismo da peça caiu nas mãos de CAIO BLAT, que, já há muito tempo, não precisa mais provar que é um dos melhores atores de sua geração. CAIO se entrega ao personagem, numa interpretação visceral, muito forte, bastante convincente, quer nos momentos de fragilidade do personagem, por suas dúvidas e medos, quer na demonstração de seu poderio humano.















            O modelo de interpretação visceral, profundo, intenso, de total entrega, aliás, está presente no trabalho de todos.

            Pela primeira vez, tive a oportunidade de ver, em cena, a atriz LUIZA LEMMERTZ, que vive todo o mistério envolvendo o/a personagem DIADORIM e confesso que seu trabalho muito me encantou. A atriz, por conta de seu talento e de todo o visagismo preparado para DIADORIM, mantém uma expressão dúbia, ambígua, entre o masculino e o feminino. Belíssima interpretação!!! E ainda há quem não acredita em DNA: LUIZA traz, no sangue, o talento de sua mãe, Júlia Lemmertz, e de sua avó, Lílian Lemmertz, uma das mais importantes atrizes do TEATRO BRASILEIRO.






            Em papéis mais marcantes e nos quais brilham, podemos citar LUÍSA ARRAES, que, apesar de bem jovem, já pode ser considerada uma grande e experiente atriz; LEON GÓES e LEONARDO MIGGIORIN.













            Completam o elenco, em ordem alfabética, também com excelentes atuações, BALBINO DE PAULA, CLARA LESSA, DANIEL PASSI, ELIAS DE CASTRO e LUCAS ORANMIAN.


          















FICHA TÉCNICA:

Concepção, Direção Geral, Adaptaçãe Desenho de Luz – Bia Lessa

Elenco (por ordem alfabética): Balbino de Paula, Caio Blat, Daniel Passi, Elias de Castro, Leon Góes, Leonardo Miggiorin, Lucas Oranmian, Luísa Arraes, Luiza Lemmertz e Clara Lessa.

Concepção Espacial – Camila Toledo, com colaboração de Paulo Mendes da Rocha
sica  Egberto Gismonti
Colaboração – Dany Roland
Desenho de Som – Fernando Henna e Daniel Turini
Adereços  Fernando Mello Da Costa
Figurino  Sylvie Leblanc
Desenho de Luz – Binho Schaefer
Projeto de Áudio – Marcio Pilot
Diretor Assistente: Bruno Siniscalchi
Assistente de Direção: Amália Lima
Fotos: Roberto Pontes
Direção Executiva: Maria Duarte
Produtor Executivo: Arlindo Hartz
Colaboraçã Flora Sussekind, Marília Rothier, Silviano Santiago, Ana Luiza Martins Costa e Roberto Machado
Idealização e Realização2+3 Produções Artísticas Ltda.
Patrocínio : Banco do Brasil e Globosat
Apoio: Instituto-E | Om Art

Gênero: Drama

Agradecimento especial à viúva do autor, a quem a obra foi dedicada, Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, à Nonada Cultural e a Tess Advogados.













SERVIÇO:

PEÇA:
Temporada: De 28 de janeiro a 31 de março de 2018
Local: CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil – RJ)
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 - Centro - Rio de Janeiro
Informações: (21) 3808-2020
Dias e Horários: De 4ª feira a domingo, às 21h
Duração: 140 minutos
Capacidade: 172 espectadores
Classificação Etária: 18 anos
Valor dos Ingressos: R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia).
Ingressos à venda pelo site http://www.eventim.com.br e nas bilheterias do CCBB -  RJ.
Regras: Os ingressos são vendidos sempre na segunda-feira da semana anterior à da sessão pretendida, na bilheteria do CCBB ou no “site”.
Cota do dia: 10% dos lugares são vendidos a partir das 9h do dia da apresentação, na bilheteria do CCBB. 
Clientes do Banco do Brasil têm 50% de desconto, usando o cartão Ourocard. O cupom de desconto corresponde aos 6 primeiros dígitos do cartão.
Regras de meia-entrada: estudantes, idosos, menores de 21 anos, pessoas com deficiência, professores e profissionais da rede pública municipal de ensino.

INSTALAÇÃO:
Visitação livre: a partir de 29 de janeiro.
Horários: De 4ª feira a 2ª feira, das 9h às 21h.
Capacidade: 100 pessoas
Classificação: Livre











            Mais uma vez, BIA LESSA abusa de suas licenças poéticas, na direção de um espetáculo teatral, e nos surpreende sempre. Depois de expor a nudez de alguns atores, em cenas nas quais ela é totalmente necessária e não-gratuita, era de se esperar que a revelação do sexo de DIADORIM, após a sua morte, se desse pela exposição de seu corpo nu. BIA, porém, nos reserva uma bela surpresa, que não revelarei (#spoillernao), mas que é linda e comovente, além de extremamente criativa.
            O velho ROSA dizia que “Viver é muito perigoso.”. Talvez tão perigoso quanto fazer TEATRO, no Brasil. Talvez tão perigoso quanto se atrever à adaptação de um clássico da literatura para os palcos. Talvez tão perigoso quanto se expor, aos olhos do público e da crítica.
            Nada, porém, pode ser dito de forma a não consagrar este “GRANDE SERTÃO: VEREDAS” como uma OBRA-PRIMA, que haverá de disputar, ainda, muitos prêmios e fazer muito sucesso por onde passar, graças a um esforço conjunto de um “bando de loucos”, gente que entende de TEATRO, gente que vive para o TEATRO, gente que ama o TEATRO.
            E VAMOS AO TEATRO!!!
            OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
            COMPARTILHEM E DIVULGUEM BASTANTE O TEATRO BRASILEIRO!!!















(FOTOS: ROBERTO PONTES
e
DIVULGAÇÃO.)